MEMÓRIA

Chacina de Unaí: 21 anos depois, vítimas são homenageadas

Mortes de auditores fiscais ocorrida em 2004 recebe homenagens e um reforço na luta contra o trabalho escravo e pela justiça no Brasil

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Familiares, autoridades e representantes de diversas entidades participaram, nesta terça-feira (28/1), de um ato público em memória das vítimas da Chacina de Unaí, que completa 21 anos. O evento, promovido pelo Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), ocorreu às 10h, em frente ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), e homenageou os auditores fiscais Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, além do motorista Aílton Pereira de Oliveira, assassinados durante uma fiscalização contra o trabalho análogo à escravidão. 


Um culto ecumênico deu início ao ato, reunindo líderes religiosos de diversas denominações, simbolizando a união na luta por justiça e pelo fim do trabalho escravo no Brasil. A cerimônia contou com a presença de Carlos Calazans, superintendente do MTE, e o delegado responsável pela investigação na época.


O crime que chocou o país

Em 28 de janeiro de 2004, os auditores fiscais e o motorista foram assassinados em uma emboscada na zona rural de Unaí, no Noroeste de Minas Gerais. O crime foi encomendado pelos fazendeiros Norberto Mânica, Antério Mânica e José Roberto de Castro, que contrataram pistoleiros para executar a chacina. O caso gerou comoção nacional e expôs a resistência do agronegócio à fiscalização do trabalho escravo. 


Os mandantes e executores foram condenados anos depois, com Norberto Mânica começando a cumprir pena em 2023, após uma longa batalha judicial. Antério Mânica, ex-prefeito de Unaí, também foi condenado, mas o caso continua em andamento.


Em janeiro de 2025, Norberto Mânica, o último condenado ainda em liberdade, foi preso em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul. A condenação dos quatro mandantes do crime veio em 2022, mas, por serem réus primários, puderam recorrer em liberdade.

Em 2023, a prisão provisória de José Alberto de Castro, Hugo Alves Pimenta e dos irmãos Mânica foi determinada pela Justiça. José Castro foi detido pela polícia, enquanto Antério Mânica se entregou em Brasília. Norberto Mânica e Hugo Alves Pimenta ainda estão sendo procurados pela Justiça.


Carlos Calazans, superintendente do MTE em Minas Gerais, expressou sua esperança de que os responsáveis sejam punidos, apesar das dificuldades enfrentadas na busca por justiça.

“Eu não posso desanimar, tenho esperança de que eles paguem. O que acontece é o retrato de como a Justiça no Brasil trata os pobres. Quantos poderosos, ricos estão pagando pena por algum crime? E quantos pobres, humildes, estão pagando vários crimes, inclusive sem sentença e sem mandado de prisão”, disse Calazans. Ele acredita que os foragidos estão aguardando habeas corpus ou alguma medida preventiva para se entregarem e afirmou que tem cobrado das autoridades uma solução para o caso. “Cobrei a Polícia Federal hoje. Eles estão na lista da Interpol”.


Impacto na fiscalização do trabalho escravo

A tragédia levou à criação do Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, celebrado em 28 de janeiro, e impulsionou a fiscalização do trabalho escravo no Brasil. No entanto, auditores fiscais ainda denunciam que a estrutura para combater esse crime continua insuficiente. Representantes de organizações sociais reforçaram a importância da sociedade pressionar por justiça, evitando futuras tragédias.


Outro envolvido, Humberto Ribeiro dos Santos, foi responsável por desaparecer com a folha do registro do hotel em que os pistoleiros ficaram hospedados na época do crime, com a intenção de dificultar as investigações. Ele chegou a ficar quatro anos preso, mas, após sucessivos recursos, os crimes de favorecimento e formação de quadrilha, pelos quais havia sido acusado, prescreveram, segundo o MPF-MG.


A solenidade terminou com a inauguração de uma placa em homenagem aos auditores e ao motorista assassinados, reafirmando o compromisso com a erradicação do trabalho escravo no país.


Ato público em Belo Horizonte

Além de Brasília, outro ato ocorreu em Belo Horizonte, com a participação de juízes, procuradores, advogados e organizações da sociedade civil. A atividade fez parte da Semana Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, celebrando o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo e o Dia do Auditor-Fiscal do Trabalho, instituídos em memória das vítimas da chacina de 28 de janeiro de 2004.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice

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