A Praça Sete de Setembro, no Centro de Belo Horizonte, é o lugar mais movimentado da capital mineira. O Sabia Não, Uai!, série especial do Estado de Minas sobre curiosidades e histórias de Minas Gerais, mostra como a Praça Sete – assim mesmo, por extenso – saiu de um simples cruzamento de avenidas de terra batida para se tornar ponto de referência e palco de protestos políticos históricos e manifestações artísticas ao longo de décadas.
Na planta projetada pelo engenheiro Aarão Reis (1853-1936) no fim do século 19, o cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas era apenas isso: um cruzamento. O encontro das vias não tinha nenhum elemento arquitetônico, como a ilha de cimento onde hoje se encontra o obelisco ou Pirulito da Praça Sete, como é popularmente conhecido.
Leia Mais
No começo, o cruzamento era conhecido como Praça 14 de Outubro, em homenagem à data da fundação da Comissão Construtora da Nova Capital, equipe liderada por Aarão Reis para planejar a futura capital de Minas Gerais, em substituição a Ouro Preto.
BH foi oficialmente inaugurada em 1897 e a mudança de nome para Praça Sete só ocorreu em 1922, na celebração do centenário da Independência do Brasil. Em 7 de setembro daquele ano, a Prefeitura de Belo Horizonte inaugurou a pedra fundamental do que seria um monumento comemorativo: o obelisco.
O Pirulito da Praça Sete
Popularmente chamado de Pirulito da Praça Sete, o obelisco só chegou ao local dois anos depois da comemoração do centenário, em 1924. Mas acabou fazendo um tour pela cidade e sendo remanejado para outros pontos.
A história completa do trajeto do pirulito da Praça Sete a gente já contou em outro episódio do Sabia Não, Uai!, mas vamos recapitular alguns detalhes.
O obelisco foi doado pelo município de Betim e ficou na Praça Sete até 1962, quando a prefeitura decidiu abrir mais espaço para carros. Assim, ele foi abandonado em um terreno na Cidade Jardim, ao lado do Museu Abílio Barreto.
Porém, tanto Betim, quanto os belo-horizontinos, não gostaram da mudança. Na época, a solução foi reinaugurar o monumento na Savassi. Lá, ele foi tombado como patrimônio de Minas Gerais e, depois de 18 anos fora de casa, acabou voltando para a Praça Sete, em 1980.
O monumento rejeitado
Mas, durante essas idas e vindas do pirulito pela cidade, a Praça Sete não permaneceu vazia. Um ano após a retirada do obelisco, em 1963, ela ganhou uma nova atração: o Monumento aos Fundadores e Construtores. A obra reproduz os rostos de quatro nomes importantes para o nascimento de BH: Aarão Reis, Augusto de Lima, Afonso Pena e Bias Fortes.
Porém, a população foi contra a iniciativa da prefeitura e, sete anos depois, a escultura foi transferida para o Parque Municipal Américo Renné Giannetti, onde está até hoje.
Instalação dos bancos
Em 1970, a Praça Sete passou por outra mudança. Os quarteirões foram fechados e o espaço público ganhou bancos e jardineiras, incentivando a permanência das várias pessoas que transitavam por ali. Ao longo de décadas, o conjunto arquitetônico do local se tornou muito importante, com construções que são marcos na história de Belo Horizonte.
Um deles é o edifício do Antigo Banco Mineiro da Produção, projetado em 1953 pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Há, também, o prédio em art déco do Cine-Teatro Brasil, de 1932, e a antiga sede do BEMGE, de 1922, hoje Unidade de Atendimento Integrado (UAI). Todas essas construções se tornaram bens tombados pelo poder público.
“Times Square” mineira?
Atualmente há um movimento político que pode provocar uma mudança significativa no visual da praça. Um projeto de lei (PL 883/23) que autoriza a instalação de painéis de LED na Praça Sete para publicidade em edifícios foi aprovado na Câmara Municipal de BH e sanção do prefeito para entrar em vigor.
Linha do tempo Praça Sete
- 1942
Movimento reivindica a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial
- 1951
Concentração de bancários em greve por melhoria salarial
- 1962
Agitação de estudantes em comício que prometia a presença de Fidel Castro
- 1984
Campanha das Diretas Já reúne 1 milhão de pessoas
- 1985
Manifestação da Sociedade de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP) em conflito com a CUT (Central Única dos Trabalhadores)
- 1992
Manifestação Basta Collor, comandada por bancários
- 2001
Protesto de perueiros pela regulamentação da atividade
- 2013
Manifestações pedem por diversas mudanças no Brasil
- 2014
Protestos contra a Copa do Mundo
- 2016
Protestos pedem o impeachment da então presidente, Dilma Rousseff
- 2019
Movimento “Luto pela Amazônia” se manifesta contra o desmatamento
- 2024
Projeto de Lei para instalar painéis publicitários de led é aprovado na Câmara Municipal
O Sabia Não, Uai!
As reportagens do Sabia Não, Uai! mostram de um jeito descontraído histórias e curiosidades relacionadas à cultura mineira. A produção conta com o apoio do vasto material disponível no arquivo de imagens do Estado de Minas, formado também por edições antigas do Diário da Tarde e da revista O Cruzeiro, e por vídeos digitalizados da TV Itacolomi.
Todos os vídeos desta temporada e das anteriores estão disponíveis nas plataformas de podcast e no canal do Portal Uai no YouTube.
O Sabia Não, Uai! foi um dos projetos brasileiros selecionados em 2023 para participar do programa Acelerando Negócios Digitais, do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), iniciativa apoiada pela Meta e desenvolvida em parceria com diversas associações de mídia (Abert, Aner, ANJ, Ajor, Abraji e ABMD) com o objetivo de atender às necessidades e desafios específicos de seus diferentes modelos de negócios.
Arquivo EM
Se você gostou de mais esta história recontada pelo especial Sabia Não, Uai!, aproveite para acompanhar nossa série sobre a memória do jornalismo brasileiro. O Arquivo EM conta, a partir de buscas na Gerência de Documentação e Informação (Gedoc) dos Diários Associados em Minas Gerais, reportagens quase esquecidas sobre Minas Gerais e o país.