O governo de Minas Gerais interditou temporariamente o bloco cirúrgico do Hospital Maria Amélia Lins (HMAL), no Bairro Santa Efigênia, Região Leste de Belo Horizonte, para manutenção de equipamentos. A medida foi necessária devido à dificuldade na aquisição de uma peça essencial do arco cirúrgico. Aproximadamente 200 cirurgias mensais foram redirecionadas para o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, que já está sobrecarregado com atendimentos de urgência e emergência.
A situação no HMAL tem gerado preocupação entre profissionais de saúde, que realizaram uma manifestação na tarde desta quarta-feira (8/1), em frente ao hospital. Durante o protesto, uma paciente do Sistema Único de Saúde, que recebe atendimento no hospital, declarou: "Eu tenho orgulho de mostrar a cicatriz aqui na minha perna. Aqui, tem profissionais que salvaram minha vida. Lá em cima, a gente é tratado como rainha. Vamos lutar. A gente entra no bloco cirúrgico pedindo a Deus para cuidar da gente. Essas profissionais que estão aqui hoje salvaram minha vida."
Luciana Silva, que integra a Secretaria de Formação do SindSaúde-MG, afirma que a interdição é parte de uma intenção maior do governo de fechar o hospital completamente. "A princípio, o que acontece é que o governo fechou o bloco cirúrgico, mas a intenção dele é fechar o hospital todo, porque já não está sendo agendado o paciente a partir de março", denuncia. Segundo ela, o governo tem usado como argumento a falta de uma peça do arco cirúrgico para justificar o fechamento.
Luciana também destacou o impacto direto nos pacientes. Segundo ela, há casos de pessoas que viajaram mais de 300 km até o HMAL, apenas para terem suas cirurgias canceladas devido à alta demanda gerada pela interdição: "O governo fez a transferência dos pacientes para as cirurgias eletivas no bloco cirúrgico do Hospital João 23, mas os trabalhadores estão denunciando que as cirurgias estão sendo canceladas porque o bloco do João não está suportando a demanda."
O impacto se estende ao sistema de saúde como um todo. O HMAL é considerado um hospital de fundamental importância para o usuário do SUS, funcionando como sequência ao atendimento inicial recebido no João XXIII. "O paciente é atendido no João XXIII, recebe o atendimento de urgência e a sequência deste tratamento é no Maria Amélia Lins. Tem pacientes que ficam quase dois anos precisando de retorno, fazem cirurgia, recuperam, fazem outra cirurgia. É um hospital essencial", explica Luciana.
Ela alerta que o fechamento do HMAL agrava ainda mais os problemas do SUS, especialmente na ortopedia, que é um dos maiores gargalos do sistema. "É uma fila gigantesca. Com esse fechamento do bloco cirúrgico do Maria Amélia Lins, com a transferência do CME e do laboratório para o João XXIII, o governo está prejudicando muito a população", critica.
Os profissionais de saúde do HMAL estão preocupados não apenas com os pacientes, mas também com o futuro do hospital. "De dois anos para cá, o governo vem esfarelando o atendimento do HMAL. Fecharam leitos e remanejaram trabalhadores. O maior desafio é a incerteza: vou chegar para trabalhar e o hospital vai estar aberto?", desabafou Luciana.
Segundo ela, as condições atuais deixam claro que a estrutura não comporta o aumento de pacientes direcionados ao João XXIII, onde o tempo de espera para cirurgias tende a crescer ainda mais.
A população tem sido informada de forma superficial sobre os atrasos nas cirurgias. "Eles só falam que houve problema com o aparelho e que vão reagendar as cirurgias", conta Luciana. Porém, para ela, a falta de um planejamento claro e a ausência de comunicação transparente reforçam o descontentamento tanto dos profissionais quanto dos pacientes.
A situação já mobiliza parlamentares. Alguns deputados encaminharam um ofício ao secretário de Saúde de Minas Gerais, questionando o futuro do hospital. Até o momento, porém, não houve resposta do governo.
Enquanto isso, o HMAL, historicamente reconhecido por seu papel de retaguarda para o João XXIII em cirurgias ortopédicas e bucomaxilofaciais, segue sob a incerteza de quando ou se voltará à sua plena funcionalidade. Trabalhadores e pacientes aguardam por uma solução que evite o colapso do sistema de saúde local.
A reportagem procurou a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que informou que o Hospital João XXIII, com oito salas em seu bloco cirúrgico, tem plena capacidade para atender casos de urgência, assim como os pacientes com cirurgias eletivas vindos do HMAL, e afirmou que os usuários serão atendidos normalmente, sem prejuízo algum. Ainda segundo a Fundação durante um procedimento no HMAL, foram danificados o intensificador de imagens e outros equipamentos essenciais para a realização de cirurgias. Por isso, o bloco foi fechado para revisão.
"Ressaltamos que o Hospital Maria Amélia Lins realiza somente cirurgias de baixa complexidade, classificadas como eletivas; ou seja, são programadas de acordo com a avaliação clínica do paciente e a capacidade operacional das unidades hospitalares. Em média, são realizadas cerca de 200 cirurgias por mês no HMAL. São procedimentos com curto tempo de internação, entre 24 horas e 48 horas, que estão sendo feitos no João XXIII. Após a cirurgia, o paciente retorna para o HMAL para sua recuperação até o momento da alta. Somente nos últimos dois anos, foram investidos R$ 31 milhões no Complexo Hospitalar de Urgência, do qual os dois hospitais fazem parte, com amplo investimento em equipamentos de ponta para o João XXIII, referência em politraumas, queimaduras e intoxicações.", finaliza a Fundação