Todo mundo sabe que nós, mineiros, falamos “uai” a qualquer momento. E quem chega de fora perguntando o significado pode até receber a intrigante resposta: “Uai é uai, uai!” Mas será de onde vem essa interjeição tão popular nas Gerais quanto pão de queijo?
Há muitas especulações sobre as três vogais usadas para exprimir espanto, surpresa, admiração, dúvida, impaciência. “Servem também para retardar respostas, marcando tempo para reflexão, e mesmo reforçar o que foi dito anteriormente, como se se estranhasse a dúvida do interlocutor. Afinal de contas, mineiro não é homem de duas palavras, uai!”, diz, com bom humor, Marcos Paulo de Souza Miranda, vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG).
Escritor e estudioso da história mineira, Souza Miranda concluiu agora uma pesquisa sobre o assunto. E tem respostas. “Uma hipótese já levantada como possível origem da interjeição ‘uai’ seria a transposição do inglês ‘why’ (por que) para o português, como consequência do contato dos mineiros com os imigrantes ingleses, no século 19. Tudo teria começado em Nova Lima (Grande BH), com os trabalhadores na Mina de Morro Velho, por volta de 1834”.
No entanto, a presença de ingleses no estado ocorreu em poucas regiões e em tempos mais recentes, quando a terra mineira já era conhecida e habitada havia mais de um século, com um vocabulário local bem fortalecido. “Nem sempre faz sentido trocar ‘uai’ pelo “por que”, constatação que enfraquece a tese do empréstimo lexical oriundo da língua de Shakespeare”, observa o vice-presidente do IHGMG.
Outra hipótese vem de Ouro Preto. “Em razão da existência de uma serra com a denominação ‘Uaimi-i’ (distrito de Glaura), chegamos a aventar a possibilidade da origem indígena da expressão ‘uai’, o que foi descartado logo ao verificarmos se tratar de uma mutação da expressão Guaicuy (ou Gwaimi-y). Era assim que os indígenas se referiam ao Rio das Velhas (o rio das velhas tribos), que, não por acaso, passa no sopé da serra à qual nos referimos”.
FALARES DOS AÇORES
Recentemente, Souza Miranda aprofundou suas pesquisas nos antigos falares do Reino de Portugal, onde encontrou pistas que parecem ajudar a compreender a origem da palavrinha. “No Dicionário de Falares dos Açores, para nossa surpresa, encontramos o verbete “uai” que, segundo o autor, constitui uma interjeição com significado de exclamação de espanto. Está presente, inclusive, na obra ‘Pastorais do Mosteiro’, de autoria do padre Nunes da Rosa, onde se lê: “Uai! Uai! Louvado seja Deus!”.
Na primeira metade do século 18, vieram do Arquipélago dos Açores (constituído por nove ilhas e, ainda hoje, possessão portuguesa) milhares de imigrantes para Minas, “em razão das fabulosas notícias que lá chegavam sobre o ouro que aqui abundava”. Boa parte dos açorianos, explica Souza Miranda, acabou se fixando nas regiões do Sul de Minas, Zona da Mata e Campo das Vertentes, constituindo um dos principais troncos genealógicos da antiga Comarca do Rio das Mortes, sediada na Vila de São João del-Rei, uma das mais extensas da Capitania de Minas.
Então, foi assim: “O encontro da expressão ‘uai’, e também ‘uei”, no vetusto vocabulário açoriano, de onde proveio grande parte dos primeiros povoadores de Minas, nos faz crer que estejam, naquele arquipélago, as raízes da interjeição e de outras palavras hoje cristalizadas no vocabulário do nosso povo”.
TEM ABRIGO ANTIAÉREO NO ACAIACA...
Na quinta-feira (16), o Edifício Acaiaca, de 1943, marco arquitetônico do Centro de BH, abrirá as portas para visitação ao abrigo antiaéreo (foto). Certamente, um passeio imperdível – dá até para se imaginar num filme, pois o bunker – palavra de origem alemã – fica sob o antigo cinema. Mas é bom saber que a capital tem outras estruturas como essa, a exemplo da existente no Edifício Indaiá, na Região Centro-Sul.
...E TAMBÉM NO EDIFÍCIO INDAIÁ
Localizado na Avenida Bias Fortes, perto da Praça Raul Soares, o Indaiá tem um abrigo antiaéreo com grossas colunas de concreto, parecendo uma fortaleza. Numa parede, ficaram argolas chumbadas que serviriam, em caso de ataque, para se colocar uma barra de ferro e garantir mais proteção às pessoas. Vale lembrar que na década de 1940, por força de lei do governo Getúlio Vargas, edifícios então construídos deveriam ter abrigo antiaéreo. Eram tempos da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
PAREDE DA MEMÓRIA
Em madeira esculpida e policromada, a imagem de Santo Antônio de Pádua foi furtada do Museu Diocesano Dom José Medeiros Leite, de Oliveira, na Região Centro-Oeste de Minas, em 25 de julho de 1994. Atribuída ao Mestre Piranga, a peça do século 18 tem 36 centímetros de altura e 14cm de largura. Sobre o Mestre Piranga, tudo indica que era o nome de uma oficina composta pelos portugueses José de Meireles Pinto e Antônio de Meireles Pinto, que eram parentes, e Luiz Pinheiro. Mestre Piranga ganhou esse nome pelo trabalho desenvolvido na região do Rio Piranga, afluente do Rio Doce, na Zona da Mata. Para mais informações, consulte a plataforma virtual Sondar do Ministério Público de Minas Gerais.
LENDAS DE MARIANA
Lançamento em 3 de fevereiro do livro “Mestre Arouca visita a Câmara de Mariana” (Editora Aldrava Letras e Artes), de autoria de Andreia Donadon, com ilustração de Cristiano Casimiro dos Santos. Contando histórias e estórias, a autora conduz os leitores a outros tempos da primeira vila, cidade, capital e diocese de Minas. Em seu “devaneio literário”, Andreia tem a companhia de José Pereira Arouca, mestre do Barroco que traçou as linhas de casarões imponentes locais. O lançamento será (das 14h às 17h), na Casa de Cultura – Academia Marianense de Letras (Rua Frei Durão, 84, no Centro Histórico de Mariana). Contatos para adquirir a obra: academiamarianensedeletras@gmail.com, pelo telefone (31) 98893-3779 e na livraria da Casa de Cultura.
LETRAS E MÚSICA
Já em São João del-Rei, na Região do Campo das Vertentes, será lançado no próximo dia 24 o livro “Cidades Históricas de Minas Gerais”, de Cristiane Maria Magalhães. Será no Centro Cultural da Universidade Federal de São João del-Rei (Solar da Baronesa), com palestra da autora. O evento começará às 18h30, incluindo apresentação da Banda Santa Cecília e da Orquestra Ribeiro Bastos. À frente, a Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais.
FÉ E CULTURA
“Fé estampada e testemunhada – 280 anos do Jubileu e da Paróquia Santa Luzia” é o nome da exposição (foto) em cartaz na Igreja do Rosário dos Homens Pretos, no Centro Histórico de Santa Luzia, na Grande BH. Segundo o reitor do Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, padre Felipe Lemos de Queirós, há andores usados em procissões e romarias, réplicas de imagens, as tradicionais camisas de comunidades de fé, paramentos, objetos da sala de ex-votos e demais peças que contam essa história. A visitação será até 5 de março.