Entrevista Bárbara Menucci

"No Carnaval de BH, as pessoas se sentem em casa"

Gestora do turismo na capital mineira fala da evolução da maior festa popular na cidade e de estratégias para atrair visitantes o ano inteiro

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No momento em que os blocos de carnaval começam a surgir nas ruas da cidade, o EM Minas, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal Uai, recebeu a presidente da Belotur, Bárbara Menucci. Ela fala sobre o crescimento da folia na capital.

A conversa é sobre os bastidores, infraestrutura, novidades, expectativa de público e a consolidação de Belo Horizonte no roteiro da festa no país entre turistas do Brasil e de fora. O esquenta começa oficialmente em 15 de fevereiro.

Bárbara fala sobre a redescoberta de BH pelos moradores, com o lançamento de atrações e projetos turísticos, e a cooperação para o fomento do turismo em conjunto com atores internacionais. A Belotur e o Sebrae Minas apresentam o catálogo Menuuh: experiências turísticas de Belo Horizonte, portfólio com 18 atrações para explorar a capital. São opções de gastronomia, música, agroecologia, cervejaria, arte e design.

"A construção dessa Belo Horizonte como um destino turístico também passa pelo morador se reconhecer. A partir do momento em que o morador reconhece os atrativos da cidade, ele se torna embaixador", diz Bárbara, uma apaixonada pelos movimentos criativos de "gente pra gente".

Sua jornada profissional é direcionada entre as pautas de branding, economia criativa e ESG. Cunhou o termo "tecnologia de gente", que resume seu propósito em valorizar as pessoas como ferramentas de criatividade, estratégia e impacto.

Carnaval em março é melhor do que em fevereiro? Para quem planeja, é melhor...

Para quem planeja é melhor, até porque tem um período pós-férias de dezembro e janeiro, que acompanha esse calendário escolar, para a gente continuar programando.

O Carnaval de Belo Horizonte virou uma coisa espetacular, um fenômeno. Mas já é como o Carnaval de Salvador ou do Rio, ou ainda vamos caminhar para lá?

O carnaval de Belo Horizonte tem características que são muito identitárias, de como são as manifestações culturais da cidade. O conduzir carnavalesco é diferente. Não é sobre virar um carnaval de Salvador ou do Rio. É posicionar esse diferencial do carnaval que hoje vem sendo um dos melhores do Brasil.

Não me refiro a ficar parecido, mas, sob o ponto de vista do renome, da repercussão. Como você avaliaria isso em relação a esses carnavais tão tradicionais e famosos como no Rio e Salvador?

De 2014 a 2024, o carnaval teve um crescimento exponencial, tanto em reverberação e mídia, quanto de foliões querendo estar aqui. No ano passado, foi veiculada uma matéria na BBC, por exemplo, um reconhecimento internacional como o grande Carnaval do Brasil sendo em Belo Horizonte.

Qual é a diferença do Carnaval de Belo Horizonte em relação a outros?

Logo que cheguei na Belotur, falei sobre como precisamos contar sobre o que é essa diferença, tangibilizar essa narrativa. O carnaval de Belo Horizonte é feito de gente pra gente, é uma manifestação popular, é o povo que faz o carnaval. O poder público vem para estruturar, para garantir a segurança, para garantir a mobilidade, mas é um carnaval do povo da cidade. É seguro, acessível, democrático, diverso, livre na rua que acontece.

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Estamos nos referindo aos blocos...

Aos blocos de rua, mas também o desenrolar do Carnaval de passarela, que conta essa história das manifestações culturais indo para rua. Em BH, é uma atmosfera gentil, acolhedora. No Carnaval, conseguimos traduzir em essência essa energia belo-horizontina, acolhedora, criativa. As pessoas se sentem em casa.

Como está a relação dos blocos com a organização, o poder público, autoridade e segurança?

Conforme o Carnaval foi crescendo, os representantes – sociedade civil, poder público, iniciativa privada – começam a entender que essa parceria é a parceria de sucesso para que um movimento como esse tenha perenidade para acontecer na rua. Conforme os blocos aumentam de tamanho, o Carnaval de passarela vai se profissionalizando, entende-se que é necessário que o poder público ajude na estrutura. O diálogo hoje é muito positivo.

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O ano de 2009, sob a gestão de Márcio Lacerda, foi o embrião do Carnaval de BH. Já aconteciam algumas coisas, houve o episódio da proibição dos coolers na avenida... Hoje já estamos em um outro padrão...

Começa como um ato muito político da população, que passa também a chamar a atenção para a ocupação das ruas, para vivenciar os espaços urbanos. Surge o movimento da Praia da Estação e tudo vai caminhando para o Carnaval, que é gigante.

Como está a expectativa de público para este ano? E em relação a aeroporto, rodoviária, Polícia Rodoviária Federal, chegada de turistas? Como está essa preparação?

Essa organização de bastidor faz com que a festa alcance esse crescimento e reconhecimento. Em relação às instituições e organizações que vão contribuir para a mobilidade, para a estruturação da cidade, nós fazemos uma reunião. A PBH conduz, por meio da Belotur, com todos os órgãos, reuniões operacionais, para mapear e colocar todos os pontos que são necessários considerar sobre o Carnaval.

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Em relação à iniciativa privada, a mesma coisa. Há esse diálogo junto à BH Airport, a Polícia Rodoviária, com o governo de estado também. Buscamos ampliar para que a gente tenha esse ecossistema se movimentando e se estruturando para receber os carnavalescos.

Qual é a estimativa de público?

De 6 milhões de foliões. Consideramos foliões as pessoas que estão circulando na cidade durante o período carnavalesco. A forma para contar é considerando as manifestações e as pessoas que acompanham cada manifestação. Aumento de 10% em relação ao ano passado, quando foram 5,5 milhões.

E qual a expectativa em relação a turistas?

No ano passado, foram 272 mil e, para este ano, a expectativa é uma crescente de 10%. Mas essa crescente pode nos surpreender, já que BH vem se posicionando como uma cidade turística cada vez mais forte. O que era em 2014, em 2025 já é outra. Pode ser que venham muito mais pessoas de fora curtir o Carnaval.

Esse crescimento acaba caindo naquele que é apontado como o principal problema todo ano: o banheiro público nos locais de bloco. O que vocês pensam em fazer este ano?

Os banheiros na cidade são banheiros volantes. São 572 blocos cadastrados, 620 desfiles. Esses banheiros são programados para atender todos esses blocos, além do Carnaval de passarela, e os outros pontos fixos na cidade. Existe um planejamento muito de perto para acompanhar a necessidade de cada um.

O local do desfile das escolas de samba vai mudar...

Isso. O marco do Carnaval de 2025 é um diálogo forte, para entender como a gente pode avançar nos pontos necessários. No ano passado, sentamos com os representantes do Carnaval de passarela, blocos caricatos e escolas de samba. Veio a sugestão unânime de ir para a Avenida dos Andradas. É um lugar mais propício para receber as escolas de samba e os blocos caricatos, e o público.

A Avenida Andradas vai ter dois pontos. Um onde vai haver o desfile das escolas e um ponto mais à frente onde sai bloco com avenidas sonorizadas. Quais serão as sonorizadas?

As Avenidas Andradas, Amazonas e Brasil.

Vamos falar de outras coisas. A cidade começou a inaugurar vários mirantes. Como você enxerga Belo Horizonte? É uma cidade para ser vista do alto?

O nome já diz: um belo horizonte. Que bom que a gente está parando para identificar, olhar e reconhecer isso que já é nato da nossa cidade. Os mirantes estão aí para a gente desfrutar e vivenciar, e tem sido um grande atrativo turístico para a cidade.

Pergunto sobre os mirantes porque é um desafio para o gestor da área de turismo transformar a cidade não só numa cidade atrativa para quem vem de fora, mas para quem está aqui o tempo todo.
A construção de BH como um destino turístico também passa pelo morador se reconhecer. A partir do momento em que o morador reconhece os atrativos da cidade, se torna embaixador. A gente começa a falar: "vem para o Carnaval de BH, vem passear em Belo Horizonte, passar as suas férias, o que tem aqui para fazer?" A gente começa a saber falar desses atrativos. É uma construção para quem está aqui e para quem vem de fora.

Quando vocês vão planejar alguma atração nova, algum ponto turístico novo, há esse pensamento sobre como atender a população local?

Há o pensamento sobre como reforçar o que essa população produz. Qual é o tipo de serviço, qual é o nosso diferencial. Esse é um povo acolhedor, criativo. É importante essa construção da narrativa turística para o morador. Por exemplo, os city tours gratuitos. Muitos moradores se inscrevem no Portal Belo Horizonte para participar e conhecem a cidade de uma outra forma.

A Rua Sapucaí agora está com mirantes também, com as lunetas...

Nós temos lunetas na Rua Sapucaí, onde a vista é linda, de onde se vê um grande acervo cultural que o Circuito de Arte Urbana (CURA) vem produzindo na cidade. As lunetas são gratuitas.

O que a Belotur está pensando em políticas de atração do turista internacional?

Temos um plano de participação em feiras. Estive agora na Fitur em Madrid, uma feira internacional que reúne diversos destinos. A Embratur estava lá com um estande, e Belo Horizonte estava nesse estande. É uma forma de nos comunicarmos tanto com o público final, quanto com operadores, também para incluir BH nos produtos turísticos que os operadores comercializam por todos os países.

Junto com a Secretaria de Relações Institucionais, trabalhamos essa questão da internacionalização de Belo Horizonte. Um trabalho para estarmos conectados com os destinos internacionais. Por exemplo, vislumbrar oportunidades em relação ao aumento de voos. Atualmente, existem nove rotas diretas e a nossa ambição é aumentar esse número, a fim de também posicionar Belo Horizonte ao lado de outros destinos e fazer essa troca com outras cidades.

E nessa feira? O que você viu que a fez pensar em trazer para Belo Horizonte? O que te chamou a atenção?

Era uma feira grande. Belo Horizonte estar ali no catálogo, junto com as outras cidades, foi muito importante para nos posicionarmos. Começamos a gerar o interesse, a dar essa visibilidade para a cidade como um destino turístico. E as experiências dos outros destinos, de outros países, eram diversas, muito compatíveis com as culturas locais.

O desafio é levar esse diferencial do que a gente conhece de Belo Horizonte, cultural, criativo e de patrimônio, para as pessoas de fora saborearem, gerar o desejo de visitar a cidade, as formas de gerar esse primeiro contato com a cidade.

Que eventos culturais e outros tipos de eventos estão previstos para o calendário deste ano?

A Belotur faz um edital de patrocínio. Ao invés de criar eventos, a gente fomenta projetos que vão acontecer que têm potencial turístico. Nos próximos meses, esse edital será aberto. São desde feiras gastronômicas a feiras de negócios, eventos mesmo, festivais. Lançamos o Menuuh: experiências turísticas de Belo Horizonte, para as pessoas que chegam ao destino e querem vivenciar um pouco do que aquela população vive. Desde tomar um café da manhã como se toma na casa de vó, no Copa Cozinha, por exemplo, a fazer uma caminhada na comunidade da Serra, ou conhecer a história do Clube da Esquina.

Acontece muito. Quando a pessoa chega a alguma cidade que não conhece, sempre tem essa história de querer ir no lugar onde o turista não vai. É quando você conhece como é aquela cidade de verdade...

Exatamente. Conseguimos chegar nessa primeira edição. Convido todo mundo, todos os moradores. São coisas que vão nos fazendo conectar com a cidade de outra forma. Todas as informações estão no Portal Belo Horizonte e nas redes sociais da Belotur (@bhbelotur).

 

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