ESTADO DE ALERTA

Sem manutenção, pontes continuam gerando riscos

Como as estruturas podem ser conservadas para se evitar tragédias e restrições de tráfego em trechos da malha rodoviária brasileira, reduzindo transtornos

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Muitas rodovias brasileiras foram construídas há décadas e, ao longo desse tempo, passaram por obras de revitalização simples, como recapeamento das vias e recuperação da sinalização. Porém, sem grandes investimentos na conservação. Por isso, atualmente, apresentam sérios problemas estruturais, com graves danos em pontes, que precisam ser identificados e corrigidos antes que novas tragédias aconteçam.


A opinião é do especialista na área, Sérgio Guerra, CEO da Orguel, empresa mineira especializada em soluções de engenharia para construção e manutenção de pontes, bem como de outras obras no setor de construção civil, óleo, gás e infraestrutura em geral.


O Estado de Minas mostrou em série de reportagens que a preocupação sobre a segurança e riscos de desabamento de outras estruturas pelo país afora aumentou consideravelmente depois que, no dia 22 de dezembro passado, a ponte da BR-226 sobre o Rio Tocantins (na divisa do Maranhão com o Tocantins) se rompeu. Junto com os escombros, pelo menos 10 veículos caíram no rio. Até agora, 14 corpos de vítimas foram identificados e três pessoas continuam desaparecidas. A ponte Juscelino Kubitscheck de Oliveira tinha 533 metros de extensão e foi erguida há mais de 60 anos.


“A manutenção de pontes nas rodovias que cortam o Brasil pode evitar tragédias como a do Rio Tocantins e propiciar um trânsito mais seguro para todos”, afirma Sérgio Guerra. O especialista ressalta que existem vários fatores que contribuíram para que pontes em Minas Gerais e no Brasil com mais de 50 anos, hoje, estejam em situação de risco por causa da má conservação, conforme mostrou o Estado de Minas.


“Há uma combinação de vários fatores: falta de manutenção regular, envelhecimento da infraestrutura, crescimento da carga e do tráfego, gestão pública e orçamentos insuficientes, falta de fiscalização em monitoramento, impacto de fenômenos naturais, urbanização desordenada e cultura de conserto quando ocorrem os problemas”, descreve Sérgio Guerra.


O profissional salienta que as pontes construídas há décadas poderiam ser mantidas em bom estado. Para isso, é preciso colocar em prática as inspeções e manutenções preventivas e reforçar a fiscalização. Segundo ele, a tragédia da ponte na divisa do Maranhão e o Tocantins poderia ter sido evitada com ações preventivas, como manutenção regular e inspeções periódicas, o controle de cargas e tráfego, o reforço estrutural e monitoramento continuo.


Entre as medidas que devem ser adotadas para o bom estado das pontes, ele enumera: planejamento e monitoramento, com inspeções periódicas e instalação de sensores, por exemplo; manutenção preventiva – revisões e reparos regulares e controle de corrosão e controle de tráfego (limitação de peso).


“Atualmente, existem técnicas e soluções de engenharia que permitem a manutenção de pontes de uma forma segura, ágil e sem atrapalhar o tráfego de veículos. Ou seja: as soluções para manutenção de pontes existem e são as mais variadas, customizadas de acordo com cada necessidade”, assegura Guerra.

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O especialista lembra que sistema de acesso suspenso QuikDeck, por exemplo, permite o trabalho em piso totalmente plano, estável e rígido, sustentado por correntes e sem a necessidade de apoio no solo. A técnica de trabalho foi aplicada, por exemplo, na construção da Ponte da Integração Brasil-Paraguai, na Terceira Ponte, no Espírito Santo, e na Revitalização da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis.


“O sistema de acesso suspenso QuikDeck é uma solução inovadora de alta tecnologia, que garante segurança para os operários, sem interrupção drástica do fluxo de veículos, garante alta produtividade, sendo uma das soluções mais efetivas para a recuperação da saúde das pontes brasileiras”, explica Sérgio Guerra.

Na BR-365, a ponte foi interditada parcialmente, já que foram detectados problemas graves em sua estrutura, como um buraco na passagem de pedestres

Na BR-365, a ponte foi interditada parcialmente, já que foram detectados problemas graves em sua estrutura, como um buraco na passagem de pedestres

Hebert Vinícius/Divulgação

Intercâmbio de experiências

Conforme mostrou o Estado de Minas, em Brasilândia de Minas, no Noroeste do estado, a ponte sobre o Rio Paracatu – na MG-188 (rodovia estadual) – exibe avarias que assombram moradores e motoristas que precisam cruzar seus 304,85 metros de extensão. Com 10 metros de largura, a ponte, situada na área urbana de Brasilândia (na ligação entre o município de Joao Pinheiro), foi projetada nos anos 1960 e construída na década de 1970. Os primeiros sinais de desgaste na estrutura foram identificados há mais de 30 anos e confirmados por meio de vistorias da Defesa Civil Municipal de Brasilândia e do Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER-MG).


O coordenador da Defesa Civil de Brasilândia de Minas, Geraldo Pablo Silva Gomes, que também é secretário de Meio Ambiente do município, afirma que a reportagem do EM mostrou os riscos da ponte e contribuiu com as ações para tomada de providências para reforma da estrutura, solicitadas junto ao DER.


“Um importante passo já foi dado com a reportagem do Estado de Minas, com objetivo de sensibilizar a consciência prevencionista dos gestores rodoviários sobre a necessidade em caráter de urgência urgentíssima de iniciar as obras de reforço estrutural da ponte. De modo que (esperamos que) se torne uma rotina a manutenção preventiva para as demais Obras de Artes Especiais – viadutos, passarelas e túneis”, assegura Pablo Silva.


Ele anuncia que, no próximo dia 8 de março, vai viajar para Auiarnópolis (TO), para ver de perto as condições da ponte sobre o Rio Tocantins que desabou em 22 de dezembro. Lá, vai se reunir com representantes do Corpo de Bombeiros e da Marinha do Brasil.


O coordenador de Defesa Civil de Brasilândia de Minas afirma que o objetivo da viagem é colher subsídios para a elaboração “do Plano de Contingência para a gestão de desastres” no município, seguindo recomendação do Ministério Público Estadual (MPMG).


Ele afirma que, atualmente, a ponte sobre o Rio Paracatu “mantém-se estável, apesar das cargas suportadas nas intempéries, e está sendo monitorada visualmente de modo a ser detectado qualquer anomalia que possa prejudicar a sua estrutura, como lixiação (soltura do concreto), compressão (estufamento dos pilares), ampliação das fendas (aumento das rachaduras), entre outras anormalidades que se observe.


Disse também que aguarda do DER/MG o acesso ao relatório técnico que vai subsidiar a execução do reforço estrutural da ponte. No mesmo relatório, lembra, deverá constar também “os problemas estruturais e patologias da ponte, e as medidas de controle que serão adotadas nas obras civis de engenharia que a ponte deverá ser submetida – e com esses parâmetros será possível aquilatar inclusive o nível de risco que a ponte corre atualmente, envolvendo severidade, probabilidade e potencial de danos”, acrescenta.


Por outro lado, Geraldo Pablo afirma que a viagem à divisa do Maranhão com o Tocantins visa também observar aspectos sobre as providências a serem adotadas caso aconteça o pior. “Pretendemos conhecer o que foi feito e o que não foi feito por quem, onde, como, por quê e quando, e adaptar a nossa realidade no caso de um colapso de nossa ponte”, revela o coordenador de Defesa Civil de Brasilândia de Minas.


Restrições de tráfego


O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) mantém vigilância sobre o estado das pontes nas rodovias federais no país, para evitar riscos de desabamento. Atualmente, além de Minas Gerais, existem pontes em trechos da malha rodoviária federal com restrições de tráfego por causa de problemas na conservação, ou obras de reforma em outros quatro estados brasileiros: Acre, Amazonas, Bahia e Espírito Santo.


Conforme mostrou o Estado de Minas, os danos nas pontes e a preocupação com a conservação das estruturas vieram à tona após o desastre na divisa do Maranhão com o Tocantins, em 22 de dezembro do ano passado, que chocou o Brasil. Na tarde daquele dia, a ponte da BR-226 sobre o Rio Tocantins se rompeu. Junto com os escombros, pelo menos 10 veículos caíram no rio. Até agora, 14 corpos de vítimas foram identificados e três pessoas continuam desaparecidas.


Em Minas Gerais, desde 9 de janeiro, a ponte sobre o Rio das Velhas, no quilômetro 141,6 da BR 365, entre Pirapora e Montes Claros (Norte do estado) foi interditada parcialmente pelo DNIT. A passagem na ponte está restrita a veículos de até 25 toneladas. De acordo com a autarquia, a limitação vai continuar até a conclusão dos serviços de reforço da estrutura da edificação, situada no distrito de Barra do Guaicuí, no município de Várzea da Palma.


O Dnit informou que realiza constantes inspeções nas Obras de Arte Especiais (OAEs), que visam aprimorar a gestão e o monitoramento de pontes, viadutos e passarelas sob sua jurisdição, identificando as estruturas que apresentam potenciais riscos e que necessitam de intervenção imediata.


“As equipes técnicas da autarquia atuam diariamente nas rodovias de suas jurisdições e, mediante a identificação de alguma situação anormal nas estradas ou nas OAEs que necessitem de interferência no trânsito, comunicam a Polícia Rodoviária Federal, que prossegue com as ações de interrupção do tráfego, em ação conjunta com o DNIT”, informa o órgão, por meio de nota.


Plano de ação


O DNIT revela que existe um plano de ação com base nos registros do banco de dados do Programa de Manutenção e Reabilitação de Estruturas (Proarte), para as vistorias nas pontes.


“Os serviços no âmbito do Proarte incluem desde os serviços de manutenção como limpeza, desobstrução e implantação de pingadeiras, pinturas, recobrimento de armadura, troca de juntas, até ações de reabilitação, como a recomposição da seção de concreto de pilares e vigas, recomposição de guarda-corpo, alargamento de superestrutura, reforço estrutural e atualização de barreira para new Jersey, entre outras ações”, detalhou o órgão federal.


Por outro lado, o DNIT alegou que ainda não foi estabelecido pelo governo federal o montante de recursos para investimento em recuperação de pontes em 2025. O valor será definido após a divulgação da Lei Orçamentária Anual (LOA).


Problemas na estrutura


Conforme o DNIT, além de Minas Gerais, que tem a limitação na ponte sobre o Rio das Velhas na BR-365, os outros estados brasileiros que contam com pontes sob jurisdição da autarquia interditadas totalmente ou com restrições para o tráfego de veículos pesados são:

Acre
Interdição total da ponte sobre o Rio Caeté, Km 282,65 da BR-364/AC;

Amazonas
As pontes sobre os rios Autaz Mirim (Km 24,60) e Curuçá (Km 23,10), ambas localizadas na rodovia BR-319/AM, encontram-se com interdição total. As pontes estão em reconstrução e o transporte ocorre por balsa;

Bahia
Restrição no tráfego de veículos de transporte de carga na ponte sobre o Rio Jequitinhonha no Km 661,72 da BR-101/BA, em Itapebi;

Espírito Santo
Restrição temporária de veículos de carga acima de 57 toneladas na ponte sobre o Rio Jucu, no Km 29 da BR-262/ES, em Domingos Martins.


“Esperamos que se torne uma rotina a manutenção preventiva para as demais Obras de Artes Especiais – viadutos, passarelas e túneis”

Geraldo Pablo Silva Gomes
Coordenador da Defesa Civil de Brasilândia de Minas

 

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