
50 horas de viagem: o trajeto mais longo que sai da rodoviária de BH
Viação transporta passageiros da capital mineira a Porto Velho, em Rondônia, há 35 anos por rota de mais de 3.000 km
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Siga noA viagem mais longa saindo da rodoviária de Belo Horizonte tem mais de 3.000 km de distância e seu destino final é a Região Norte do país. O serviço rodoviário é oferecido pela empresa de viagens Eucatur há 35 anos, que transporta passageiros da capital mineira até Porto Velho, no estado de Rondônia (RO).
Para efeito comparativo, a rota é mais distante que uma viagem de Paris, na França, para Moscou, capital da Rússia. Com passagens em torno de R$ 950, o trajeto para o norte do país dura dois dias e duas horas de viagem, fazendo ao todo 20 paradas pelo caminho. Apesar do longo tempo do trajeto, a empresa embarca e desembarca passageiros três vezes por semana na rodoviária de Belo Horizonte.
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Deigson Alves Mesquita, coordenador comercial da empresa rodoviária Eucatur, fundada em 1964, explicou que a rota é comum para trabalhadores que vão para Rondônia em épocas de colheita de café e passageiros que um dia migraram durante a colonização do Norte do país e hoje retornam para visitar familiares - “ali na região de Cacoal (município de RO) tem muita gente que vem de Minas Gerais e Espírito Santo para trabalhar na colheita. Rondônia foi muito desbravada por mineiros, goianos e capixabas que hoje trafegam pela rota para visitar familiares. Também é possível notar turistas que vão para Porto Velho conhecer a Região Amazônica ou o Pantanal”, explica o coordenador.
Irimario Silva de Jesus, de 54 anos, é natural do Mato Grosso do Sul e motorista da rota há 25 anos. “Nós (motoristas) acabamos fazendo amizade com os passageiros, que têm em torno de 50 a 70 anos e são sempre muito hospitaleiros. Normalmente estão ali ansiosos para encontrar os familiares. Já teve caso de encontrarem conhecidos dentro do ônibus, e de passageiro ficar tão nosso amigo que até pedem para parar em outros lugares durante o trajeto”, relata.
“Esses migrantes de outras regiões vieram para Rondônia porque nós trouxemos eles, ainda na época de criação do estado”, Deigson Alves explica que a rota existe desde 1990, e a empresa tem uma história voltada para a Região Norte. “A temporada de final de ano é a mais cheia”, conta o motorista Irimario. O motivo, segundo ele, são as festas de fim de ano, que motivam as pessoas a irem visitar e celebrar a família: “a época é tão movimentada que a empresa por vezes opera com mais veículos.”
Dois dias e duas horas de viagem
Durante as 50 horas de percurso são feitas 20 paradas, de 30 minutos para refeição e 15 minutos para embarque e desembarque. Os passageiros passam por outros dois estados brasileiros, Goiás (GO) e Mato Grosso (MT), e podem contemplar três biomas diferentes, o Cerrado na Serra da Petrovina, entre os municípios Rondonópolis e Pedra Preta em (MT), o Pantanal Mato Grossense e a Floresta amazônica na Chapada dos Parecis (MT).

“A parte mais desafiadora da estrada são as regiões montanhosas, em Minas e Espírito Santo principalmente”, explica Irimario. Mas segundo ele, ao longo dos anos os desafios diminuíram, com veículos mais tecnológicos e a central da empresa auxiliando durante todo o trajeto. “Já temos as paradas para lanche e manutenção do veículo definidas, que com esses longos anos de trabalho já são todos meus amigos inclusive”.
E foi justamente as amizades pela estrada que protagonizaram uma história marcante para o motorista. Ele conta que são inúmeras histórias emocionantes, de pessoas se reencontrando depois de enfrentar longas horas de viagem e amigos feitos ao longo dos anos, mas para ele, a mais marcante foi um episódio de solidariedade. Certa vez, os passageiros procuraram o motorista para comunicar que havia um passageiro que já estava a 11 horas sem se alimentar, por falta de dinheiro.
Comovido e preocupado com o bem estar do viajante, Irimario foi pedindo em cada parada que o passageiro pudesse se alimentar, de graça, devido sua situação. “O perfil desse cliente é o lavrador que às vezes junta dinheiro por muito tempo para ir visitar os parentes. São pessoas simples, por isso não adianta também ter um carro grande e bonito que o cliente não possa pagar. A gente está sempre atento à situação de cada um dos passageiros”, conta Deigson.
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Para o futuro, segundo o coordenador, a empresa segue empenhada na tentativa de melhorar o serviço: “Estamos trabalhando em um aplicativo que vai permitir o passageiro acompanhar o ônibus em tempo real e oferecer mais informações sobre a rota pelo celular”. O coordenador também afirma que há um tempo a empresa é a única a operar na rota, um dos motivos para permanecer oferecendo o serviço. “A expectativa é continuar levando e buscando esses brasileiros. Os ônibus saem cerca de três vezes por semana de Belo Horizonte e a taxa de ocupação é sempre alta”.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice