
Medo muda comportamento de viajantes mineiros para os Estados Unidos
Com o início do governo Donald Trump, um série de novas normas relacionadas a imigração foram impostas, o que tem impactado a procura por passagens para o país
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Siga noCom o aumento da rigidez nas políticas de deportação empenhado por Donald Trump em seu segundo mandato à frente da presidência dos Estados Unidos, o medo passou a pairar entre as pessoas que desejam viver o sonho americano. Em Governador Valadares, município mineiro da Região do Vale do Rio Doce conhecido pelo alto fluxo migratório para o país, donos e gerentes de agências de viagens lamentam a queda na procura pelo destino. Países conhecidos como rota para entrada irregular no país norte-americano, como o México e El Salvador, também registram baixa procura.
A dona da Ideal Viagens, em Governador Valadares, e bacharel em direito, Ana Carolina Dias explica que muitas pessoas que procuram pela agência de viagens para começar o processo de ida ao país americano estão com receio de prosseguir com a aquisição do visto. De acordo com Dias, quem tem parente no país fica com medo de citar o familiar para o consulado e acabar entregando-o para a deportação. Apenas na Ideal Viagens, entre janeiro e fevereiro, cinco pessoas cancelaram o agendamento para visto.
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“Eles - o Imigração e Alfândega dos Estados Unidos ou ICE, em inglês - começaram a prender quem não tinha recorde criminal nenhum, quem tinha recorde limpo. E aí o pessoal começou a ficar com medo disso, porque tem muita gente nos Estados Unidos que tá ilegal, mas por exemplo, tá respondendo a corte, tá em processo de legalização e tem uma empresa de limpeza, tem um estúdio de unha, essas coisas. Na hora de solicitar o visto, tem que falar que o familiar está lá. Então, esse parente que tá aqui, ele fica com medo de ter que falar da filha ou outro parente direto lá, mas a orientação que as agências sempre passam é que o consulado não é imigração”, relata Dias.
Em seu primeiro dia de governo, Donald Trump assinou uma série de medidas executivas, entre elas, já em vigor, está a ampliação da deportação expressa de imigrantes ilegais para todo o território dos EUA. Outra medida que também assustou muita gente foi a liberação da prisão de imigrantes em locais como igrejas, escolas e hospitais. Conforme Ana Carolina Dias, a taxa do consulado tem validade de um ano, então as pessoas estão esperando por possíveis mudanças da legislação ou que o Senado derrube alguma decisão.
“Então elas estão aguardando. Aguardando alguma outra decisão para ver se vai ser isso mesmo, porque elas já pagaram a taxa, já estavam em processo de agendamento, agora só falta comparecer para entrevista”, afirma Dias.
Já Victor Piranga, gerente de outra agência de viagens em Governador Valadares, a Liberdade Turismo, comenta que a venda de viagens para os Estados Unidos é o carro chefe da empresa e que a procura pelo destino permaneceu estável. No entanto, ele percebe um aumento de pessoas querendo voltar para o Brasil.
“O pessoal tem buscado mais outras partes do mundo. Porque as pessoas estão tendo acesso a muitas informações, mas não sabem o que é e o que não é verdade em relação às deportações. Estão podendo prender até em colégio, igreja, e isso não era possível. Nós estamos percebendo um aumento de gente que quer vir embora”, reforça Piranga.
Rota para a América
Quem escolhe a fronteira como passagem para os Estados Unidos também começa a repensar. O México era um desses destinos. O gerente da Liberdade Turismo comenta que a venda de passagens para o país vêm caindo desde o início da exigência de visto. “Tivemos duas procuras esse ano, mas quando citamos o que é necessário para o visto, o cliente normalmente desiste”, detalha o gerente da Liberdade Turismo.
De acordo com a embaixada do México, desde agosto de 2022, todas as pessoas que viajam a turismo ou a negócio para o país precisam de um visto, a não ser que tenham o documento que permita viagem ativo para o Canadá, Estados Unidos da América, Japão, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte.
O impacto da exigência de visto para entrar no México também é percebido pela responsável pela Ideal Viagens. De acordo com Ana Carolina Dias, ela percebe dois movimentos: quem buscava o país pelas praias como as de Cancun, substituiu o destino por lugares como Cartagena, na Colômbia, ou Punta Cana, na República Dominicana. Já quem ainda pretende entrar clandestino nos EUA passou a buscar por destinos como El Salvador, Bahamas e Guatemala.
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No entanto, a empresária observa que mesmo para esses locais houve uma queda na procura no início deste ano. “A gente chegou a vender duas passagens para El Salvador em janeiro, mas as pessoas pediram para cancelar. Agora com o Trump, diminuiu a procura por essas outras rotas que eles estavam testando, esses outros países. Agora o pessoal, meio que pensa: não adianta comprar passagem porque lá também não vai passar”, explica.