Morte de gatos: ONG entrega imagens de câmeras para ajudar na investigação
Diretoria da BastAdotar compareceu na Delegacia de Crimes Contra o Meio Ambiente para prestar depoimento; suspeita é que animais tenham sido envenenados
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Siga noMembros da ONG BastAdotar foram ouvidos pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) na manhã desta segunda-feira (24/2). No último sábado (22/2), dez gatos da organização foram mortos com suspeita de envenenamento, e outros dois estão internados em estado grave.
“A gente espera que seja feita uma investigação a fundo, que a pessoa responsável seja penalizada por esse crime absurdo e que a gente volte a ter um pouco de segurança e confiança para permanecer naquela casa. Sabendo quem fez, ficamos um pouco mais confiantes de permanecer nesse ambiente”, disse Ana Flávia Vieira Pires, diretora-presidente da associação.
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Imagens das câmeras de segurança da ONG e de vizinhos foram entregues à polícia. Ana Flávia conta que há imagens de pessoas chegando à BastAdotar, antes da morte dos animais, e dentro do gatil, com os animais ainda saudáveis no espaço. Entretanto, nenhuma das câmeras teria registrado o momento do envenenamento.
“Acabei de depor e entreguei tudo para a polícia, até informações de pessoas que tiveram desacertos com a associação e com a diretoria. Temos relatado tudo para que seja investigado da melhor maneira possível”, afirma Pires. "Corre o risco de ter sido alguém de dentro da ONG porque não teve arrombamento", completa.
Como medida de segurança, depois do episódio, as fechaduras da ONG foram trocadas, e haverá instalação de novas câmeras, a fim de cobrir todos os ambientes.
Os corpos dos animais se encontram no Hospital Público da Prefeitura de Belo Horizonte e aguardam necrópsia. A Delegacia Especializada de Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) trabalha com a possibilidade de envenenamento por chumbinho.
“Vamos recolher as oitivas das pessoas que estiveram no local, da veterinária, a presidente da ONG, juntar todas as imagens, laudos de necrópsia para comprovar que as mortes aconteceram por envenenamento. O próximo passo é ir atrás do possível autor desse delito. Já existe uma linha de investigação”, declarou Pedro Ribeiro de Oliveira Souza, delegado responsável pelo caso.
A pena para o crime é de dois a cinco anos de prisão e multa, com aumento em caso de morte do animal.
Relembre o caso
No último sábado, Silvana Coser, uma das fundadoras da BastAdotar, chegou à sede da organização por volta das 8h30. Pouco tempo depois, pela janela, percebeu que um dos gatos do abrigo apresentava comportamento estranho. Ao se aproximar, constatou que o animal estava sujo de vômito, muita saliva e convulsionando, morrendo em seus braços.
"Quando o peguei no colo, vi que não tinha mais jeito. Fui buscar gelo para colocar ele no sopor e ser necropsiado para a gente entender o que aconteceu, porque parecia envenenamento. Quando entrei no gatil, tive que forçar a porta, e havia um corpo", conta Coser.
Em seguida, Coser notou que outros gatos apresentavam os mesmos sintomas. Ao todo, dez animais morreram no local. À polícia, ela relatou que o ataque foi direcionado ao cômodo com o maior número de gatos: um ambiente com acesso à uma área externa com proteção de telas onde ficavam 24 indivíduos. Um quarto com animais com Fiv/Felv, doença contagiosa, a ala da maternidade, e dois canis não foram atingidos.
No vômito dos animais, foram encontrados vestígios de patê e uma substância semelhante à chumbinho, veneno de comércio ilegal geralmente usado para o extermínio de ratos. A ingestão da substância provoca dores abdominais, vômito, convulsões e morte. A veterinária da organização realizou uma autópsia preliminar para avaliar o conteúdo estomacal, e uma lata de patê aberta que estava na geladeira foi entregue para a polícia.
"No dia, tínhamos um evento de adoção, e eles iriam para novos lares. O ataque foi direcionado, somente o gatil que tem mais animais foi atingido. Foi um pesadelo, uma chacina, muito cruel. Pior experiência da minha vida", conta Silvana.
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A ONG tem câmeras internas, que gravam imagens alternadas, de curta duração. O sistema de segurança de um vizinho fez registros da entrada principal da BastAdotar. A PCMG trabalha com a hipótese de que o suspeito tenha acessado o local na manhã de sábado, antes da entrada de Silvana, uma vez que o chumbinho tem ação rápida. Nenhum vestígio de alimentos foi encontrado na cena do crime ou nas telas que cercam a área externa.
Maus tratos aos animais
Segundo a Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp-MG), o registro de maus tratos contra animais em Minas Gerais subiu de 3.775 em 2023, para 4.523 no ano passado, representando um aumento de 19,81%.
Ao Estado de Minas, a ativista da causa animal, Eliana Malta, falou sobre a importância da Lei Federal nº 14.064/2020, mais conhecida como Lei Sansão, e a Lei municipal 11.738/2024, aprovada em agosto de 2024. Ela ressalta que a legislação é válida para gatos, assim como para cães.
"O que a gente vê nas ruas é um aumento significativo dessa fauna urbana e, com isso, a sociedade civil se sente incomodada, sendo ela mesma quem causa essa superpopulação quando abandona, quando não castra, quando adota e não quer mais. O abandono também é crime. Se nós trabalhássemos a educação para guarda responsável e cobrássemos do executivo, principalmente municipal, o aumento das castrações talvez tivéssemos menos animais nas ruas e com isso menos animais sendo mortos, seja por acidente, por fome, doença ou por crueldade", analisa Malta.
A ativista afirma, ainda, que não há um entendimento claro e nivelado sobre o que é maus tratos, dificultando tanto a identificação do crime quanto sua punição. Segundo ela, há subnotificação do crime.
"O que precisamos mesmo é de uma solução multisetorial. Nós esperamos que a sociedade civil abra seu coração e mente para esse problema. Não é só punir os culpados, é impedir que esse animal seja abandonado e pare nas ruas", declara.