Médico indiciado por estupro em Minas é denunciado à Justiça
Danilo Costa foi indiciado por estupro, assédio sexual, violação sexual mediante fraude e importunação sexual. Vinte mulheres já procuraram a polícia
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Siga noO médico mastologista preso, suspeito de estupro no Hospital Nossa Senhora das Dores, em Itabira, na Região Central de Minas Gerais, foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Em 17 de fevereiro, Danilo Costa foi indiciado por estupro, assédio sexual, violação sexual mediante fraude e importunação sexual contra 15 vítimas. Ele está preso desde 4 de fevereiro. Testemunhas também vincularam o médico a crimes em Barão de Cocais, também na Região Central. O caso segue em segredo de justiça.
Danilo é investigado em um segundo inquérito. O novo procedimento foi instaurado depois que outras cinco mulheres denunciaram o médico à Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG).
Os possíveis crimes começaram a ser investigados depois que a Polícia Militar foi acionada pela filha de uma paciente que teria sido estuprada pelo médico dentro de seu consultório, em 24 de janeiro. Até a tarde do dia da prisão, oito mulheres já haviam denunciado o profissional. Conforme a PCMG, entre as vítimas estão nove pacientes e seis funcionárias da unidade de saúde. Ao Estado de Minas, Marianna Michieletto da Silva, promotora da 3ª Promotoria de Itabira, afirmou que, apesar de os crimes relatados pelas denunciantes serem diversos, a maneira de agir é parecida.
A promotoria também vai investigar o diretor do Hospital Nossa Senhora das Dores, em Itabira, para verificar se a chefia da unidade foi omissa diante das acusações contra o mastologista. Em nota, o MPMG informou que, até o momento, o diretor do Nossa Senhora das Dores não é alvo de denúncias.
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Estupro
A primeira denúncia contra Costa foi feita em 24 de janeiro deste ano. Na ocasião, uma paciente do médico, que fazia acompanhamento oncológico em Itabira, mas morava em João Monlevade — cidade a 36 quilômetros de distância — foi estuprada no consultório do médico durante um atendimento. Michieletto afirma que, nesse caso, a violação foi seguida de violência, uma vez que a vítima relatou que o profissional teria tapado sua boca e a impedido de pedir ajuda.
Conforme o registro policial, feito no dia dos fatos pela filha da paciente, depois do abuso, Danilo teria entregado à vítima uma receita médica e pedido que ela voltasse para uma nova consulta em 90 dias. Além disso, ainda segundo o boletim de ocorrência, o médico teria pedido que a paciente fosse embora por um corredor lateral para não ser "percebida".
Na época, a Polícia Militar chegou a procurar o médico em seu local de trabalho e em sua residência para a prisão em flagrante, mas ele não foi encontrado. A vítima, então, foi encaminhada para o hospital e seguiu todo o protocolo de atendimento a vítimas de crimes contra a dignidade sexual. Ao longo das investigações, o Hospital Nossa Senhora das Dores afastou o profissional de suas funções.
Durante o primeiro indiciamento, o delegado João Martins Teixeira afirmou que, em relação à denúncia de estupro, exames periciais indicaram a presença de PSA no corpo da vítima, uma proteína produzida pelas células epiteliais da próstata. Além disso, o teste atestou que a amostra não continha espermatozoides.
"Isso indica que o material colhido pertence a um homem vasectomizado. Durante as investigações, conseguimos verificar que esse suspeito havia feito essa cirurgia [vasectomia] tempos antes. Isso é mais um indício que robustece as investigações", explicou.
Em entrevista ao Estado de Minas, na época da prisão do suspeito, a promotora Marianna Michieletto da Silva destacou que o indiciado atuava em, pelo menos, 26 municípios.
"O que todas essas vítimas que apareceram após o dia 2, têm em comum é que todas elas tiveram medo de ser desacreditadas e, por isso, não denunciaram antes: medo de que a palavra delas não bastasse contra a palavra do médico, o receio de achar que eram as únicas vítimas, a vergonha — muitas eram casadas e não tinham contado para os cônjuges o que tinha acontecido. Então, depois que houve a divulgação desse fato, as vítimas se sentiram encorajadas a contar o que aconteceu, e isso vem contribuindo para a investigação e para montar o perfil e o modus operandi deste investigado", enfatizou.
O que diz a defesa
Procurada durante o indiciamento contra possíveis crimes cometidos contra as 15 primeiras vítimas, a defesa do médico afirmou que só se pronunciará à imprensa depois de examinar o inquérito. Em 6 de fevereiro, o médico passou por uma audiência de custódia. Na ocasião, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) acatou o pedido do Ministério Público e decidiu pela manutenção da prisão.
No pedido encaminhado à Justiça, o Ministério Público argumentou que o médico "representa perigo à ordem pública", uma vez que continua exercendo suas atividades médicas, "podendo fazer novas vítimas". Além disso, o órgão afirmou que o investigado usou sua posição de médico para "subjugar vítimas em situação de fragilidade, demonstrando um total desrespeito à ética profissional e aos direitos fundamentais das pacientes".
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Em 5 de fevereiro, o advogado Hermes Vilchez Guerrero, que representa Danilo, afirmou à reportagem que, naquele momento, um dia após a prisão, o "fundamental" era que Danilo respondesse às acusações em liberdade, uma vez que a prisão foi decretada por risco de fuga. "Na segunda-feira, ele foi intimado em casa; na terça-feira, foi preso em casa. Outra razão seria a de não frequentar o hospital. Ele está afastado da instituição por decisão da diretoria", afirmou o defensor.
O que diz o hospital
O Hospital Nossa Senhora das Dores se manifestou sobre o caso alegando que, desde o início das investigações, tem sido transparente no processo de gestão das informações referentes ao caso tanto para o público quanto para as autoridades. Em nota, o hospital informou que sempre esteve à disposição para prestar os devidos esclarecimentos, mas que não foi comunicado sobre a decisão do MPMG de investigar o diretor da unidade.
“Importante frisar que até o momento do envio desta nota, a instituição não foi comunicada oficialmente sobre este posicionamento do Ministério Público. O hospital não recebeu intimação para nenhum procedimento investigatório e não teme caso ele seja realizado”, diz a nota.
O Hospital Nossa Senhora das Dores reforçou, ainda, que não compactua com atitudes de qualquer natureza que possam causar danos aos seus pacientes ou colaboradores e continua contribuindo com as autoridades e prestando seu apoio e solidariedade às vítimas do mastologista.
De acordo com a nota do hospital, a instituição tem um canal oficial de denúncias no site www.hnsd.org.br. e os colaboradores são incentivados a usá-lo. No canal, a pessoa pode ou não se identificar e as denúncias são encaminhadas para a Comissão de Ética, que faz a apuração e investigação dos casos para dar prosseguimento junto ao jurídico e à diretoria. No entanto, ainda segundo a instituição, não houve nenhum registro relacionado ao caso do médico mastologista no canal de denúncias.