CARNAVAL

"Bloco da proteção" pra cá, foliões pra lá

Moradores, condomínios e poder público investem em grades para evitar transtornos e danos ao patrimônio na festa de BH.

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Se para alguns o carnaval é sinônimo de alegria e diversão, para quem vive ou trabalha próximo às áreas onde há grande número de desfiles a temporada é de preocupação. Em um dos principais redutos de blocos de rua, a Região Centro-Sul de Belo Horizonte, moradores e síndicos estão recorrendo à instalação de gradis para proteção ao redor dos prédios para evitar transtornos no período da folia. No entanto, o aumento do preço do aluguel do equipamento tem surpreendido os residentes.

Gabriel Bernardes é síndico de 11 edifícios na Região Centro-Sul, distribuídos entre os bairros Savassi, Lourdes, Santo Antônio e outros. Ele diz que a época do carnaval é um caos para os moradores. “Muitas pessoas utilizam qualquer quina como banheiro químico e depósito de lixo. Isso faz com que tenhamos que alugar gradis e contratar porteiros para fazer a segurança do condomínio”, comenta ele.

Na hora do orçamento, o síndico disse ter sido surpreendido com o aumento no custo do equipamento. “Ano passado paguei, em média, R$ 90,00 a unidade, e este ano, R$ 130,00. Houve um aumento de 44,4% devido ao período carnavalesco e à alta demanda. Fizemos uma cotação do preço que pagamos para alugar neste carnaval e constatamos que daria para comprar o mesmo número de grades em outra época”, relata Gabriel.

A aquisição do equipamento, no entanto, não é viável para os moradores. “Não temos onde guardar as grades de ferro para usar apenas uma vez ao ano, então optamos pelo aluguel, mesmo com o preço abusivo”, afirma o síndico. Os gradis começaram a ser instalados em 20 de janeiro, em quatro edifícios, e serão retirados em 10 de março. Ao todo foram alugadas 40 proteções.

“Contratamos também um porteiro para controlar a entrada e saída de carros da garagem e o fluxo de pessoas na rua, já que a grade auxilia, mas não impede ninguém (de entrar). A diária do segurança gira em torno de R$ 250. O total para o condomínio arcar ficou em R$ 1.500”, contabiliza Bernardes.

Morador de um prédio na Savassi, Leonardo Perez também expõe sua tentativa frustrada de alugar o material. “É a primeira vez que decidimos colocar no nosso condomínio, já que em 2024 houve muito transtorno. Fiz uma cotação e, normalmente, as empresas alugam a peça a partir de R$ 14,00. Mas, ao procurar uma marca que temos visto constantemente na Savassi, a unidade estava saindo por R$ 160,00 para cinco dias. Precisaríamos de pelo menos cinco peças, que totalizam R$ 800”, descreve ele.

Segundo Perez, a escolha dos condôminos foi, então, colocar fita isolante na entrada e contratar um porteiro. “O objetivo é preventivo mesmo, porque para quem não está participando da festa, é uma verdadeira bagunça”, conclui o morador.

Cercas de proteção na esquina das Avenidas Francisco Salles e Assis Chateaubriand, no Bairro Floresta, separa a área privada da pública
Cercas de proteção na esquina das Avenidas Francisco Salles e Assis Chateaubriand, no Bairro Floresta, separa a área privada da pública

Insegurança

Entre as reclamações dos condôminos em BH estão sujeira, falta de segurança e danos ao patrimônio privado. De acordo com o presidente do Sindicato dos Condomínios Comerciais, Residenciais e Mistos de Minas Gerais (Sindicon-MG), Carlos Eduardo Alves, os moradores acabam ficando “ilhados” dentro dos apartamentos.

“Muitos estão reclamando do alto preço. Alguns estão optando por colocar tapumes, que saem mais em conta. As pessoas são obrigadas a se sujeitar, visto que os foliões urinam nos jardins dos prédios e na entrada. Os condôminos estão apavorados com o alto custo e a necessidade de proteção”, alega. Além disso, o acesso aos edifícios fica prejudicado. “As pessoas não conseguem sair de carro”, acrescenta o presidente do Sindicon.

O momento ainda se torna oportuno para ação de assaltantes, que tentam se aproveitar do movimento para entrar nos edifícios. “Os moradores estão com medo de vidros serem quebrados e roubo, porque há pessoas que se aproveitam da aglomeração para entrar nos edifícios para roubar ou aproveitam a entrada e saída de moradores para entrar junto”, diz Carlos.

Demanda

Em virtude do público esperado para a folia, os residentes da Região Centro-Sul também temem visitantes que fazem a locação temporária de apartamentos. “Se não for um morador, a pessoa não tem o mesmo cuidado de verificar se o portão foi fechado. Os edifícios ficam à mercê do bom senso, em razão do custo elevado o condomínio”, acredita.

A gerente operacional da BH Fechamentos – empresa que presta serviço de aluguel de equipamentos de proteção, desde 2004 em BH – Bruna Aguiar, afirma que este ano houve aumento na demanda por gradis tanto em condomínios, as casas privadas e lojas, quanto em festas de carnaval particulares e demais espaços de evento. “O nosso trabalho inclui a entrega e a montagem do material. Do ano passado para 2025, houve um aumento de 30% na demanda”, afirmou. Porém, segundo ela, ainda não há um levantamento de quantas locações foram feitas em cada ano.

Sobre o custo do aluguel, Aguiar informou que “depende do pedido do cliente”. “Isso varia porque temos clientes que pedem três peças e outros, 3 mil. Por isso, não conseguimos estipular o preço exato do material. Tudo depende da quantidade necessária, local e tempo de empréstimo. Já a unidade varia de R$ 12,00 a R$ 30,00”, menciona.

A sócia da Valente Tendas, Muníria Dornelas, anunciou que a empresa teve um faturamento bruto em torno de R$ 35 mil somente com o aluguel de grades em 2024. Este ano, a marca já ultrapassou os R$ 48 mil “Estamos trabalhando com pacotes de acordo com o perfil do cliente, por isso não há um preço fixo. Quando é pouca grade, a pessoa acaba pagando um valor mais alto devido às despesas de frete, entrega e transporte. Quem pede mais tem desconto na unidade e não paga taxa de serviço”, explica.

Dornelas ainda diz que o público que reservou o material com antecedência – dois meses atrás – pagou um aluguel mais baixo. “Agora, em cima da hora, aumentou a demanda, aumentam os custos. A unidade já está saindo em torno de R$ 100”, aponta a sócia.

Já na Mark Eventos, empresa especializada em locação e fabricação dessas estruturas, houve um aumento de 50% no aluguel de grades. Este ano foram 12 mil estruturas, e 8 mil em 2024, conforme informado pela assessoria. A diária dos gradis sai por R$ 15,00.

Patrimônio público

A instalação de gradis não é feita só de forma particular. Os equipamentos também são usados para proteger o patrimônio público. Procurada pelo Estado de Minas, a prefeitura informou, por meio da Belotur, que houve umaumento de 23,23% no número de gradis dispostos pela capital mineira. Em 2024, foram instaladas 7.485 unidades para o carnaval. Para esta edição, estão sendo distribuídos 9.224 gradis.

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Entre os mais de 200 pontos que receberão instalações para proteção estão a Praça Raul Soares, Praça da Assembleia, Museu da Moda, Rua Sapucaí, Parque Municipal, Palácio das Artes, Praça Comendador Negrão de Lima, o túnel do Metrô Central, o Colégio Marconi e o Tribunal de Justiça. “O intuito é garantir a manutenção e preservação de jardins, espaços públicos e monumentos tombados”, diz a PBH em nota.

*Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho

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