CORPO CONCRETADO

Caso Clara Maria: melhor amiga detalha momentos de angústia durante buscas

Amiga da vítima há 11 anos, Júlia Rangel narra como foram os dias desde o desaparecimento de Clara até a descoberta do corpo concretado

Publicidade

“A gente andou por muitas horas, todo mundo estava com pé machucado, perna, o corpo todo”, conta Júlia Rangel sobre as buscas, que se estenderam madrugada adentro, por Clara Maria Venancio Rodrigues, que estava desaparecida desde o último domingo (9/3). Com tentativas de acionar a polícia, encontrar a última pessoa que havia visto a jovem e saber o paradeiro da melhor amiga, Júlia narra momentos de angústia que precederam a descoberta do corpo de Clara, de 21 anos. Ele foi encontrado coberto por uma camada de concreto nos fundos de uma casa nessa quarta-feira (12/3). 

Júlia, que era amiga de Clara há 11 anos, conta que a apreensão dela e dos amigos começou na segunda-feira (10/3), quando ficaram sem notícias da jovem pela manhã. De acordo com Júlia, na noite do dia anterior, Clara havia mandado mensagem para o namorado avisando que iria encontrar um ex-colega e em seguida iria para casa. A jovem havia dito que iria receber o pagamento de uma dívida.

Na segunda pela manhã, o colega de casa de Clara teria mandado mensagem para o namorado dela perguntando se a jovem havia passado a noite na casa dele, mas o namorado disse que não. “[O colega de casa] foi me procurar para me perguntar se ela estava comigo porque nós éramos melhores amigas, praticamente irmãs, e estávamos sempre juntas, mas eu respondi que não e que estava no trabalho”, relembra Júlia.

Preocupados, os três começaram a ligar para Clara e para colegas de trabalho dela. Júlia conta que por volta de 15h o namorado e o colega de quarto receberam mensagens enviadas, supostamente, por Clara. “‘Ela’ mandou pro namorado ‘me deixa em paz, tô tirando um tempo’ e pro amigo ela falou a mesma coisa porém o chamou de ‘amiga’ algo que deixou ele intrigado porque a Clara não o tratava no feminino e nem respondia com tantas pontuações”, conta. O colega suspeitou que o erro poderia ter acontecido porque o contato dele estava salvo como “cortez” no celular de Clara, o que não deixaria claro o gênero dele. 

Júlia conta que eles acionaram a polícia, que teria dito que era necessário esperar completar 24 horas do desaparecimento de Clara para que algo fosse feito. Impotentes até então, os amigos da jovem decidiram criar um grupo no Whatsapp para centralizar as informações sobre ela. A esperança deles era que Clara tivesse saído para aproveitar a folga e aparecesse na terça-feira para trabalhar.

No entanto, ela não foi ao trabalho no dia seguinte. Como o desaparecimento havia completado 24 horas, eles acionaram a polícia, mas Júlia afirma que não foi feito algo efetivo. 

Suspeito

Ainda sem notícias do paradeiro de Clara, o namorado dela contou que ela teria ido encontrar um ex-colega de trabalho para receber um pagamento. Os amigos decidiram ir até a padaria onde ela trabalhava e teriam conseguido o endereço desse ex-colega por meio dos dados do setor de recursos humanos. O grupo então foi até a suposta casa dele. 

No local, o interfone foi atendido por uma voz feminina. A amiga de Clara conta ter falado que era irmã da jovem, que estava desaparecida desde o domingo e o ex-colega teria sido o último a vê-la. Júlia perguntou se ele estava ali e se poderia falar com ele. A mulher informou que ele não morava mais ali e passou o número dele, que supostamente seria seu sobrinho. 

“Anotei e perguntei o que os meninos achavam de eu mandar mensagem para ele, mas me informaram que já tinham mandado e que a única coisa que ele falou é que ela pegou um Uber e disse que ia dar rolê em ‘uma praça muito conhecida no centro’, mas não informou nem a suposta praça”, conta Júlia. A amiga decidiu mandar mensagem e, em resposta, ele a questionou se teria sido ela que foi até a casa da tia e marcou de encontrá-la em um bar na Pampulha à meia noite. 

De acordo com Júlia, no horário combinado, o ex-colega de trabalho de Clara não apareceu. Naquele momento, parte do grupo de amigos teria decidido ir até a padaria onde eles trabalharam juntos para tentar pegar imagens da câmera de segurança, mas não conseguiram. No local, a polícia teria visto a movimentação dos amigos, que contaram às autoridades o que havia acontecido. A corporação teria orientado o grupo a ir em uma delegacia, segundo Júlia.

“Nós descemos na delegacia mais próxima e falamos que a gente queria uma viatura pra entrar na casa do ex-colega, a pessoa que estava lá disse que a Polícia Civil só funcionava de 07h às 18h e que a polícia não podia entrar na casa dele, apenas chamar para conversar, e disse que seria melhor a gente aguardar [até] 7h”, alega Júlia. De acordo com ela, os amigos saíram desolados da delegacia. 

Em seguida, no decorrer das horas, o grupo que procurava por Clara teria tentado voltar na casa da suposta tia dele e solicitado viaturas outras vezes, mas não tiveram sucesso. A busca pela amiga adentrou a madrugada. Júlia conta que foi embora por volta de 3h da manhã, e os meninos continuaram até às 6h. 

Quando ela acordou na quarta-feira, conta ter se deparado com mensagens do ex-colega de trabalho de Clara xingando ela por ter ido na casa da família dele de madrugada e marcando para que os dois se encontrassem no bar ao meio dia e meia. 

Às 10h daquela manhã, a amiga de Clara afirma que a polícia entrou em contato com ela para saber informações do caso. “Eu mandei e parece que eles foram nos endereços para tentar conversar com o ex-colega de trabalho, pois ele foi a última pessoa a ver ela. Acabou que ele nem precisou ir me encontrar ou muita busca, quando bateram no portão para conversar com ele, sentiram um cheiro muito forte do portão e entraram”, ela afirma. 

De acordo com Júlia, por volta das 11h, o corpo da melhor amiga foi encontrado. Os amigos teriam sido chamados na delegacia para prestar depoimento. “O mais triste disso tudo é que a polícia poderia ter descoberto muito antes”, desabafa. 

“Eu acho que eles fizeram isso achando que ela não tinha família aqui em BH, mas eles estavam enganados porque ela tinha sim uma família, uma boa família. Não foi só eu, foi um grupo de oito pessoas. Ela tinha, sim, uma família por ela e a gente foi atrás dela”, disse Júlia. A família de Clara é de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

Corpo encontrado

O corpo de Clara foi encontrado no fundos de uma casa no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, coberto por uma camada de concreto. Até o momento, três pessoas foram presas suspeitas de envolvimento no homicídio.Após os interrogatórios, a participação de um deles, o de 34 anos, foi descartada. Mas as investigações continuam. 

Com relação à forma que o corpo foi encontrado, os bombeiros informaram que a mistura de concreto não se encontrava completamente seca ou rígida, o que pode indicar que o procedimento para ocultar o corpo foi feito recentemente. Outro indício que corrobora com a teoria é de que foram encontrados terra e entulho em cima do corpo, que teriam sido utilizados pelos suspeitos para tentar disfarçar o odor do corpo em decomposição.

 *Estagiária sob supervisão do subeditor Humberto Santos

Tópicos relacionados:

bh crime feminicidio homicidio pampulha

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay