Criminalidade em Minas

Minas teve um roubo a cada meia hora e um furto a cada 3 minutos em 2024

Levantamento do EM mostra que, embora total de crimes tenha recuado de 2023 para 2024, taxas ainda altas em Minas alimentam a sensação de insegurança

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Os relatos de ataques de usuários de drogas e ladrões assaltando na Região Hospitalar de Belo Horizonte deram ao balconista Jandir Florêncio, de 36 anos, a certeza de que seria questão de tempo até enfrentar um risco desses no caminho para o trabalho. “Eles usam faca, chave de fenda, caco de vidro, pedaço de garrafa... Não estão para brincadeira e muitos aparentam estar sob efeito de drogas”, conta. Quando a hora dele infelizmente chegou, fez o que não recomenda. “Não devia e digo para ninguém fazer... Mas enfrentei o cara que me mostrou uma faca, porque a gente não quer perder o que conquistamos com tanta luta. Foi muita revolta. Por sorte, o ladrão desistiu. Mas com essa falta de segurança nas ruas, posso ser abordado de novo e tudo pode ser diferente”, admite, preocupado.


O cálculo de Jandir sobre sua possibilidade de enfrentar outra tentativa de assalto não está baseado apenas em uma impressão. A cada 30 minutos, uma pessoa foi roubada em Minas Gerais no ano passado, período em que pertences e valores foram levados por ladrões por meio de furtos em ritmo 10 vezes maior: pouco mais de uma ocorrência a cada 3 minutos.

Segundo o coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de estado e segurança pública, os furtos e roubos são dois dos termômetros que medem a sensação de segurança dos cidadãos. “Refletem na decisão de sair de casa, de usar transporte e de se expôr em determinadas localidades. Hoje, os celulares são os alvos preferidos, por serem rapidamente vendidos no mercado clandestino. Dinheiro fácil para os ladrões. Por outro lado, causam muito transtorno para quem os perde, pois se perdem contatos e pode-se ter contas invadidas e dados sequestrados ou usados em estelionatos”, afirma.

Como eles agem

A diferença entre os crimes é que os roubos são ataques com armas de fogo, armas brancas (contundentes, cortantes ou perfurantes) e outros tipos de agressão e de ameaça. Já os furtos ocorrem quando os ladrões agem de forma sorrateira, rápida, por subterfúgios, golpes ou outro tipo de ação que não ameaça a integridade das vítimas.

Apesar de esses crimes estarem diminuindo de forma geral, a sensação de perigo persiste. Com base nessa realidade, o Estado de Minas preparou um abrangente estudo sobre os últimos cinco anos em relação a furtos e roubos, segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais, para mostrar onde esses crimes mais fazem vítimas em Minas Gerais, na capital e na Grande BH.

Comparando 2024 com 2023, Minas Gerais apresentou queda de 6% nos roubos e 8% nos furtos. Já na Grande BH – sem considerar a capital – a redução foi de 5,8% e 8,5%; Belo Horizonte teve queda de 4,2% e de 8,8%, respectivamente. Os três municípios mineiros com mais de 100 mil habitantes detentores das piores taxas de roubos são Contagem, com 276,1 ocorrências por grupo de 100 mil moradores, Uberlândia (183,6/100 mil) e Betim (169,9/100 mil). Nessa lista proporcional, BH aparece na sexta colocação, com 164,1/100 mil. Já as cidades que sofreram mais furtos foram Uberlândia (1.850,4/100 mil), Uberaba (1.680,4/100 mil) e Ipatinga (1.671/100 mil) – considerando a população do censo de 2022 do IBGE.

Em Belo Horizonte, levando-se em conta os 50 bairros com mais roubos em 2024, 10 da Região Centro-Sul estão entre os que tiveram mais casos em que pessoas sofreram violência ou ameaça ao terem pertences e valores levados. No conjunto, registraram 1.185 crimes, sendo o pior deles o Centro, com 679 ocorrências.

Na sequência do recorte de 50 bairros com mais roubos, as regionais mais violentas foram a Nordeste, com 561 registros, com maior concentração no União, com 104 casos. Em seguida vem a Regional Noroeste, com 391 ocorrências e destaque negativo para o Bairro Lagoinha, com 80. Depois aparecem as regionais Leste (351), Oeste (339), Norte (219), Pampulha (198), Venda Nova (140) e Barreiro (44).

O perfil das vítimas

Pedestres foram os maiores alvos de roubos em Belo Horizonte em 2024, respondendo por 1.019 ocorrências com essa identificação. Frequentadores de lojas e centros comerciais estão em segundo lugar, mas em quantidade muito reduzida, chegando a 230 registros, o mesmo ocorrendo nos ônibus do transporte coletivo, onde se computaram 119 ocorrências de roubos – que podem, em todos os casos, envolver múltiplas vítimas.

O uso de motos possibilita aos criminosos multiplicar a quantidade de roubos. “Um bandido pilota e outro vai armado na garupa, pronto para abordar as vítimas, e os dois fogem rápido a cada ataque. Ganham muita agilidade, passam por entre carros, podendo despistar as viaturas de quatro rodas. Por isso a polícia também se adapta. Se a característica for de bairros estreitos ou de corredores de trânsito intenso, são usadas motos também, ainda mais potentes, e táticas de interceptação”, afirma o coronel Carlos Júnior.

Vigilância vertical é nova tendência

Outra tendência de combate à ação de ladrões apontada pelo especialista em segurança pública coronel Carlos Júnior é o uso da chamada “vigilância vertical” no combate aos crimes. “A tendência tem de ser ampliar as redes de proteção comunitária e estabelecer novas tecnologias e formas de policiamento ainda mais modernas, a exemplo da inteligência aérea, com uso de drones e helicópteros leves com câmeras termais. A vigilância vertical é uma forma efetiva de monitorar ruas, bairros, residências, lojas e centros de comércio previamente mapeados pela estatística criminal e análises de inteligência”, avalia.

Ciente disso, uma das estratégias da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) para apoiar a polícia e proporcionar mais segurança aos cidadãos, trabalhadores e clientes do comércio foi usar de recursos próprios para recuperar 12 motos do Batalhão de Operações Especiais da Rotam. “Com mais essas motos de volta à operação, teremos ampliação da presença policial nas ruas, contribuindo para efeito preventivo e aumento da sensação de segurança da população. As motos permitem que os policiais cheguem rapidamente a locais de difícil acesso, como áreas com trânsito intenso, becos e comunidades”, afirma Marcelo de Souza e Silva, presidente da CDL/BH.

Outra arma contra o crime será o aprimoramento do sistema de vigilância por câmeras do projeto Olho Vivo – também uma parceria da CDL/BH com a Polícia Militar no monitoramento do crime. “As câmeras terão o uso de inteligência artificial. Também será importante o fortalecimento das Redes de Comerciantes Protegidos e a intensificação da Operação Excalibur, que tem como objetivo apreender armas brancas na região central da cidade”, completa Marcelo de Souza e Silva.

A forma mais grave

O risco de que um roubo termine em latrocínio – quando o criminoso mata a vítima para a roubar – não é apenas um temor abstrato. Em 2024, a forma de ameaça mais frequente em Belo Horizonte nos roubos com esse tipo de informação se deu usando armas de fogo, em um total de 711 ocorrências. Em seguida, pessoas abriram mão de seus pertences diante de ameaças verbais, em 252 casos, com usos de armas brancas em 240 crimes e por agressões físicas sem emprego de instrumentos, em 173 registros.

Como as principais vítimas são pedestres, as vias de acesso (ruas, avenidas, passeios, calçadas) são os locais onde mais pessoas foram assaltadas em BH, chegando a um total de 1.118 ocorrências com essa especificação. O segundo lugar mencionado ficou por conta dos estabelecimentos comerciais e de serviços, representando 162 registros, seguido de moradias, chegando a 41. A maioria das ocorrências se deu em locais diversos ou não especificados nos registros policiais.

Em Belo Horizonte o dia mais perigoso para ser assaltado foi na terça-feira, quando ocorreram 319 crimes, seguido pela quarta-feira (317), quinta-feira (309), segunda-feira (308), sexta-feira (296), sábado (248) e domingo (184). O horário mais aproveitado pelos criminosos para atacar foi entre 18h e 23h59, com um total de 791 roubos. Na sequência, vêm os intervalo de meio-dia às 17h59 (421), das 6h às 11h59 (383) e de meia-noite a 5h59 (381). Junho foi o mês com maior atividade dos ladrões, com 668 roubos, depois julho (650), agosto (627), outubro (601), setembro (582), novembro (571), maio (557), dezembro (553), janeiro (520), abril (507), fevereiro (482) e março (466).

A reação do estado

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais informa que tem reduzido os índices de crimes contra o patrimônio apostando no trabalho conjunto das forças policiais para combate aos crimes de furtos e roubos. “O trabalho coercitivo e preventivo da Polícia Militar se destaca com ações como as das Patrulhas de Prevenção a Homicídios e a Gestão de Desempenho Operacional (GDO) para mapear tendências do crime, para uma repressão qualificada.”

Já a Polícia Civil, na área investigativa, desenvolve estratégias de combate à criminalidade por meio do seu serviço de Inteligência e de Tecnologias, integradas com o Ministério Público e o Poder Judiciário, sustenta a secretaria. A criação da Agência Central de Inteligência reuniu dados e permite a troca de informações entre as forças de segurança, ampliando o cerco ao crime.

A Sejusp acrescenta que realiza uma grande ação preventiva, principalmente em áreas de maior vulnerabilidade, comunidades e favelas, com o programa Fica Vivo!, que envolve jovens de 12 a 24 anos. Só na capital, são 13 Unidades de Prevenção à Criminalidade do programa. Belo Horizonte é um dos municípios que recebem a Integração da Gestão em Segurança Pública (Igesp), que, por meio de análises das estatísticas criminais, identifica as áreas mais críticas. “O atual ciclo da Igesp foca em discutir os crimes contra o patrimônio: roubo, furto, extorsão, extorsão mediante sequestro e receptação. Todo o trabalho é baseado no mapeamento de dados, para atuação nos locais de maior incidência de crimes”, informa a pasta.

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Crime e castigo

As definições das ações de ladrões

Furto

é a subtração de um bem ou valor sem uso de violência, aproveitando-se de descuido, oportunidade ou golpe

Pena

de 1 ano a 4 anos de reclusão e multa

Roubo

é a retirada de um bem ou valor de alguém com uso de violência ou ameaça, geralmente com emprego de arma

Pena

de 4 anos a 10 anos de prisão e multa

Latrocínio

é o roubo seguido de morte, quando o uso de violência resulta no assassinato da vítima

Pena

de 20 anos a 30 anos de prisão e multa

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