Chuvas em BH: em 48 horas, 70 árvores caíram na região metropolitana
As chuvas intensas que atingiram a Grande BH provocaram a queda de 70 árvores, além de falta de energia, lentidão no trânsito e até destruição de vias e imóveis
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Siga noAs chuvas intensas que atingiram a Região Metropolitana de Belo Horizonte, nessa segunda e terça-feira, provocaram a queda de 70 árvores, além de falta de energia, lentidão no trânsito e até destruição de vias e imóveis. Ao todo, foram 86 chamadas envolvendo árvores na Grande BH, sendo 73 somente na capital, de acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG). Especialistas explicam que falta de manutenção e plantio de espécies inadequadas ao ambiente urbano podem estar por trás da probabilidade de queda das árvores durante as chuvas, e até mesmo da supressão delas, prática diretamente ligada ao período de precipitações.
Do total das ocorrências atendidas pelos bombeiros nesses dois dias, 48 árvores caíram em vias públicas e 22 sobre residências em cidades da região metropolitana. Em balanço divulgado às 19h de terça-feira (18/3), os bombeiros informaram que quedas de seis espécimes naquele dia ocorreram sobre veículos, como na Rua Alcindo Vieira, no Barreiro, onde uma árvore de grande porte caiu em cima de um Fiat Uno.
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Além disso, o cimento do passeio foi arrancado, a via obstruída e a fiação atingida, o que provocou a queda da energia na região. Entre as 9h de terça (18/3) e 9h de quarta (19/3), o CBMMG também fez 30 vistorias de espécimes com risco de cair.
Não foi apenas nesses últimos dias que a Grande BH registrou ocorrências de árvores caindo por causa das precipitações intensas. No período chuvoso, com os fortes ventos e o acúmulo de água nas copas, o que aumenta o peso delas, as quedas das espécimes tendem a ser mais comuns. “É o momento que escancara a falta de manutenção e de podas em árvores durante todo o ano”, afirma o tenente Henrique Barcellos, porta-voz do CBMMG.
Já no primeiro dia deste ano, moradores da Vila Barragem Santa Lúcia, na Região Centro-Sul da capital mineira, foram surpreendidos pela queda de uma árvore de grande porte sobre oito imóveis em um terreno no Beco do Alemão. Na ocasião, após forte chuva, uma das casas ficou completamente destruída e outras quatro foram interditadas pela Defesa Civil municipal. Ninguém ficou ferido, mas cinco famílias ficaram desalojadas.
No final de janeiro, no dia 29, uma árvore de grande porte caiu e derrubou o muro de uma casa no Bairro Tirol, no Barreiro. Fotos do local mostraram as grandes raízes para fora da calçada e a copa da árvore próxima de um carro, que foi parcialmente atingido. Na ocasião, a moradora da casa, Marli da Costa, afirmou que já havia solicitado o corte do espécime que caiu. No início de fevereiro, não foi diferente. Em 24 horas, entre o primeiro domingo e a primeira segunda-feira do mês, o corpo de bombeiros atendeu 15 ocorrências.
Em 2024, a Prefeitura de Belo Horizonte contabiliza que caíram ao todo 605 árvores ou galhos. Além do grande volume de chuvas em curtos intervalos e ventos acima de 60 km/h, o executivo municipal afirmou que entre as possíveis causas estão: abalos externos, como podas clandestinas, colisão de veículos e raios; doenças, pragas e insetos; vandalismo; envelhecimento das árvores e plantios clandestinos.
Manutenção e podas
As supressões e podas de árvores podem ser necessárias após fortes chuvas, como nessa semana. Entre as manhãs de terça e quarta, os bombeiros retiraram três espécimes com risco de cair. No entanto, especialistas explicam que podas e supressões podem também evitar quedas ou maiores danos, especialmente em casos de plantio de árvores inadequadas ao ambiente urbano.
“Negligenciar o cuidado com as árvores tem um custo. Esse custo vem na forma de mais quedas, que poderiam ser evitadas. As árvores caem naturalmente, mas aqui em BH muitas caem em função do maus-tratos, da falta de cuidado”, afirma Elder Antônio Paiva, agrônomo e doutor em ciências biológicas.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) afirma que as podas, assim como as supressões, são realizadas de maneira preventiva e contínua, de modo a evitar danos e desastres no período chuvoso. Segundo o Executivo municipal, em 2025, está previsto investimento de R$ 40 milhões nos serviços de manutenção de árvores. Sobre as podas, a PBH informou que no ano passado foram realizadas 43.837, cerca de 119 por dia. Até fevereiro deste ano, foram realizadas 7.168.
Na Grande BH, os bombeiros estimam que tenham sido cortadas/podadas 10.823 árvores no ano passado. Os meses em que mais houve supressões e podas foram janeiro (1.762), fevereiro (1.225), novembro (1.116) e dezembro (1.193), o que está associado à época das chuvas, segundo a companhia.
Supressão necessária
Quanto às supressões, a PBH informa que no ano passado 4.166 árvores da capital mineira foram retiradas, aproximadamente 11 por dia. Até fevereiro deste ano, foram 870 supressões. Geraldo Fernandes, professor de ecologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reafirma que em alguns casos a supressão é necessária. Entre elas, quando árvores inadequadas ao ambiente urbano são plantadas.
O docente afirma que vários pontos devem ser pensados na hora do plantio, como a altura da árvore, considerando os fios dos postes e o tamanho das raízes, que são limitadas pela largura das calçadas e a temperatura do asfalto. No entanto, Fernandes afirma que a realidade na capital mineira não é bem assim, “em geral, as pessoas plantam o que querem na calçada”, diz.
Além disso, Geraldo Fernandes, que é membro titular da Academia Brasileira de Ciências, enfatiza: “Árvores são seres vivos, assim, eventualmente, elas vão morrer e precisarão ser retiradas e substituídas”.
As supressões, que podem ser necessárias em alguns casos, costumam mobilizar a população e o poder Executivo. Os cortes preventivos de fícus são exemplos conhecidos da repercussão que a retirada de árvores podem ter na capital mineira. Em 2013, 50 fícus na Avenida Bernardo Monteiro, Região Centro-Sul de BH, foram cortados após serem severamente acometidos por infestações do inseto conhecido como “mosca-branca-de-ficus”, o que trouxe risco de queda dos galhos.
Em 2024, outros dois fícus na via precisaram ser cortados por apresentar problemas como “poda drástica, tronco apodrecido com presença de fungos saprófitas, lesão na base do tronco e queimado, tombamento e morte.”
Os cortes dividiram opiniões. Em 2015, o movimento Fica Fícus foi crítico à medida e defendeu que houve falta de cuidado por parte da prefeitura em relação às árvores. “A administração poderia ter irrigado, adubado e tratado as árvores para evitar a atual discussão. Faltou um planejamento para a manutenção da saúde dos fícus”, disse Lucia Formoso, que integrava o movimento na época.
‘Papel imprescindível”
Apesar do risco de quedas, Elder Paiva enfatiza: “Se a queda da árvore é um problema, a ausência delas é um problema muito maior”. O agrônomo e doutor em ciências biológicas afirma que elas têm um papel imprescindível no clima, que vai além da criação de sombras.
“As árvores retiram água do solo e passam para a atmosfera em formato de vapor”, explica Paiva. Essa função propicia a umidade. De acordo com o agrônomo, uma árvore grande chega a transpirar até mil litros de água por dia, e correntes de umidade podem atingir além do local em que as árvores estão plantadas, como volumes de vapor d’água que saem da Amazônia para outras regiões, os chamados rios voadores.
Além da importância na umidade, Geraldo Fernandes aponta também o papel das árvores para a existência de outras espécies, como espaço para a construção de ninhos e abrigo. A relevância desse papel ficou em evidência na última semana, quando uma poda de árvores na orla da Praça do Piquenique Literário em Lagoa Santa, na Grande BH, resultou na morte de ao menos 66 garças e deixou mais de 150 aves feridas.
O chão da orla, segundo relatos, estava coberto de filhotes agonizando, ovos destruídos e corpos de garças espalhados. “Parecia uma zona de guerra”, descreveu um dos denunciantes ao Estado de Minas no dia 11 de fevereiro. “A gente que mora aqui, sabe que, todos os anos, elas [garças] voltam. São muitos animais, e as árvores são ninhos gigantes. Foi muito triste. A gente passa na lagoa, e elas estavam sobrevoando à procura dos filhotes. Tem décadas que essas aves vêm para cá”, lamentou ele, que esteve presente na orla.
Diversidade de espécies
Segundo o levantamento arbóreo em andamento em Belo Horizonte, as árvores mais comuns na capital mineira são:
- 1º Murta
- 2º Sibipiruna
- 3º Ipê-tabaco
- 4º Não identificada
- 5º Ipê-rosa
- 6º Escumilha-africana
- 7º Resedá
- 8º Pingo-d'ouro
- 9º Oiti
- 10º Quaresmeira
Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). Dados de 16/01/2025
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Como solicitar podas
As solicitações de serviços de manutenção em árvores devem ser feitas por meio dos canais oficiais da PBH de atendimento ao cidadão: o aplicativo PBH APP ou o site www.pbh.gov.br. O solicitante vai receber um número de protocolo para acompanhamento da demanda e de prazos de atendimento.
*Estagiária sob supervisão da editora Vera Schmitz