PATRIMÔNIO

Diamantina recebe de volta imagem sacra furtada há 20 anos

Esculpida em madeira, a peça do século 18 retorna às 19h, à Igreja São Francisco de Assis, no Centro Histórico reconhecido como Patrimônio Mundial

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De volta ao altar e à contemplação dos devotos. Hoje (20) será dia de festa em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, para receber a imagem de São Bento, furtada há duas décadas. Esculpida em madeira, a peça do século 18 retorna às 19h, à Igreja São Francisco de Assis, no Centro Histórico reconhecido como Patrimônio Mundial.

À frente da solenidade, estão a Arquidiocese de Diamantina e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), via Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico (CPPC), que recuperou o bem cultural e espiritual, recentemente, quando iria a leilão em São Paulo (SP). A missa de reentronização da imagem de São Bento será presidida pelo arcebispo de Diamantina, dom Darci José Nicioli.

Conforme levantamento da CPPC, Minas tem 1.921 bens desaparecidos, tendo sido resgatados 645 e restituídos 136, incluindo a imagem de São Bento. No total de 2,7 mil cadastrados pela CPPC, a maior parte (1.071) corresponde a documentos, seguindo-se os objetivos sacros (834). Com fotos, texto e espaço para denúncia, entre outros dados, a plataforma reúne objetos mineiros desaparecidos, recuperados e restituídos e pode ser acessada pela internet, por meio de computador, tablet ou celular.



De acordo com o MPMG, a imagem de São Bento estava sumida há mais de 20 anos. Em 2007, o padre responsável pela casa paroquial constatou o desaparecimento da escultura e acionou as autoridades. No final de 2024, o MPMG, via CPPC, que tinha a peça cadastrada como "desaparecida", recebeu a notícia da identificação da escultura em um leilão de antiguidades. Diante disso, após investigações preliminares, em 14 de janeiro de 2025, foi expedida Recomendação, pelo MPMG, ao leiloeiro para entrega provisória do bem cultural para análise técnica.

Em 17 de janeiro de 2025, a escultura foi recolhida em São Paulo (SP), pelo MPMG, e chegou à sede da CPPC, em Belo Horizonte. Ali, foi realizada a desembalagem e registros fotográficos, sendo a imagem submetida a análise técnica, por meio de perícia para confirmação de origem e procedência. Assim, foi confirmada a exata correspondência com aquela extraviada do acervo da igreja de Diamantina.



Posteriormente, o Ministério Público de Minas Gerais firmou com o detentor da escultura um Termo de Compromisso com o intuito de devolvê-la à Igreja São Francisco de Assis, em Diamantina. 

"Sabemos que mais da metade do patrimônio sacro do século 18 foi indevidamente retirado das igrejas barrocas de Minas Gerais e direcionado para coleções particulares em outros estados, e até mesmo no exterior. Quando um bem cultural é retirado de seu local de origem, perde boa parte do seu significado, que só é completo no lugar para o qual foi concebido. Até porque ninguém Reza para uma imagem sacra dentro de um museu ou dentro de um escritório", destaca Marcelo Maffra.

Ao lado da historiadora Paula Carolina Miranda Novais, da equipe da CPPC, Maffra ressaltou que o local das imagens a exemplo de São Bento, que será recebido com festa em Diamantina, é nas igrejas, "onde a população pode ter acesso, contemplar e professar sua fé". Não se trata, portanto, "de uma escultura de inestimável valor histórico e artístico, mas, principalmente, de um objeto religioso que possui o suporte físico e um aspecto intangível que representa todo seu significado para toda uma comunidade".

Devolução

O ano passado, conforme divulgou o Estado de Minas, foi pródigo para o patrimônio cultural. De janeiro a dezembro, foram restituídas 10 peças sacras a comunidades que há muito tempo – em alguns casos, há quase oito décadas – esperavam pelos bens desaparecidos de igrejas e capelas. O resultado, considerado incomparável de 2014 até agora, trouxe ainda mais entusiasmo ao coordenador da CPPC/MPMG, Marcelo Maffra. Confiante, ele conclamou a sociedade a continuar atuante.

Em entrevista, Maffra declarou: A vigilância do patrimônio deve ser constante e o resgate dos objetos depende do efetivo envolvimento de a sociedade. Se a comunidade é a melhor guardiã dos bens culturais, o MPMG faz o convite para todos conhecerem o Sondar (Sistema de Resgate de Bens Culturais Desaparecidos) e participarem da proteção do nosso patrimônio cultural. Toda informação é valiosa e pode contribuir para o retorno das obras de arte para os locais de onde nunca deveriam ter saído.”

Outra ação importante está na campanha “Boa Fé”, também do MPMG. Lançada em maio de 2023, visa estimular a devolução voluntária de bens que integram o patrimônio cultural do estado. “Qualquer pessoa, física ou jurídica, que detenha bens culturais de fruição coletiva, os quais, por qualquer motivo, tenham sido retirados do seu local de origem, pode participar. Trata-se de uma atuação negocial, resolutiva, voltada a evitar a deflagração de ações judiciais e a busca e apreensão dos objetos”, explica o promotor.

Um dos primeiros casos recebidos na “Boa Fé” foi o da imagem de Santa Rita de Cássia, de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Após análises técnicas, a peça retornou em abril deste ano, juntamente com um crucifixo, à tricentenária cidade. Maffra cita outros objetos de fé que voltaram aos altares: dois castiçais de Bonfim, imagens de São Benedito, de Congonhas, e de Nossa Senhora do Carmo e São José de Botas, de Sabará. Em 26 de novembro, foi doada à diocese de Oliveira, na Região Centro-Oeste, uma imagem de São Sebastião. O bispo dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro esteve na sede da CPPC para receber a peça e levá-la para Oliveira.

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Próximos passos

Neste ano, já foram feitas restituições, incluindo um sinete (peça tipo carimbo, para lacre), de São João del-Rei, mais dois castiçais de Bonfim e um par de palmas relicários do Museu Mineiro, na capital.

Uma volta é muito esperada pela comunidade rural de Santana dos Patos, em Patos de Minas, na Região do Alto Paranaíba. Ainda não há data marcada para o retorno da imagem de Santana Mestra, chamada pela população local de Senhora Santana. Esculpida em madeira, com 82 centímetros de altura e 47cm de largura, ela desapareceu do templo, distante 30 quilômetros da sede municipal, no início da década de 1980.

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