Triângulo Mineiro tem 75% das mortes por dengue no estado em 2025
Região que tem Uberlândia como principal núcleo urbano concentra 75% das mortes pela doença este ano em Minas. Conjunto de fatores explica números
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Siga noA Região do Triângulo concentra 75% das mortes por dengue em Minas em 2025. Uberlândia ultrapassou a marca de 6 mil casos confirmados da doença neste ano e segue como a cidade com maior número de mortos no estado. São sete mortes até o momento. Na vizinha Uberaba, a situação é semelhante, com cinco mortes registradas. Em virtude da escalada dos números, os municípios decretaram situação de emergência para a doença.
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De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Uberlândia, com 713 mil habitantes, atingiu 6.204 casos confirmados de dengue. Além das sete mortes confirmadas, há outras 14 em investigação. Para efeito de comparação, na capital mineira, que é três vezes mais populosa, são 397 casos confirmados, nenhuma morte registrada por dengue e duas em investigação.
Em Uberaba (cerca de 3378 mil habitantes) foram confirmados 839 casos, cinco mortes e outras oito em investigação. As outras cidades do Triângulo com mortes confirmadas são Itapagipe, Iturama e União de Minas, com uma cada.
No estado, foram registrados 29.900 casos confirmados, 20 mortes pela doença e outras 64 estão em investigação.
O virologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Flávio da Fonseca explica que o aumento de casos de dengue pode ser explicado por um conjunto de três fatores. O primeiro está relacionado à população de mosquitos. “Ela é influenciada pelo regime de chuvas, acúmulo de água, medidas de prevenção. Tudo isso reflete no tamanho das populações de mosquitos presentes na região.”
O segundo tem a ver com a quantidade de casos para a doença registrados anteriormente naquela região. “Se no ano passado não houve uma quantidade de casos muito grande, a tendência é ter um número menor de população imunizada pela própria infecção. O resultado disso é o aumento do número de casos no ano seguinte”, pontua.
De acordo com o virologista, entender o tamanho do surto é fundamental, já que a dengue tem caráter cíclico. “Se uma região teve um surto grande em um ano, o número de casos tende a diminuir durante um tempo e volta a crescer depois.”
Estamos na 12º semana epidemiológica. No mesmo período do ano passado, Uberlândia tinha registrado 1.642 casos confirmados para a doença e nenhuma morte, com dois óbitos em investigação. Já em Uberaba, eram 91 casos confirmados, sem mortes e óbitos em investigação.
O terceiro fator é virológico. “Temos que lembrar que são quatro sorotipos diferentes para a dengue. A infecção por um sorotipo protege contra novas infecções pelo mesmo sorotipo, mas não contra um diferente. Se na região, no ano passado, houve um surto causado pelo sorotipo 1 ou 2, que foram os predominantes, e este ano chegou o tipo 3, as pessoas não estão protegidas.”
Assim, segundo o virologista, a tendência é um aumento no número de casos naquela região. Ele lembra ainda que o combate aos focos do mosquito Aedes aegypti não é apenas do poder público. “É nossa também, já que a maioria deles está dentro das casas.”
Estado de emergência
O estado de emergência em Uberlândia tem duração de cinco meses, o que, segundo a prefeitura, dá maior facilidade para o combate ao mosquito Aedes Aegypti. O decreto, de 26 de fevereiro, permite ações como a contratação por tempo determinado de profissionais para o sistema municipal de saúde, especialmente agentes de controle de endemias, a compra de insumos e materiais, além da entrada forçada, com apoio da autoridade policial, em imóveis públicos e particulares em situação de abandono ou recusa de acesso quando a entrada se mostrar fundamental.
O executivo municipal informou que segue as diretrizes do Plano de Contingência, da Vigilância Epidemiológica, com as estratégias de manutenção/ampliação das salas de hidratação para prevenir complicações e internações, intensificação da aplicação de inseticida nas vias públicas para eliminar o mosquito, reforço das ações de combate ao Aedes Aegypti e mobilização da população para intensificação das medidas de proteção individual.
Em 10 de março, o governo de Minas anunciou a antecipação do repasse de R$ 900 mil para combate à dengue na cidade. A informação foi dada durante visita do secretário estadual de Saúde, Fábio Baccheretti, à municipalidade.
“Solicitamos R$ 1,4 milhão (para combate) e o adiantamento dos R$ 900 mil vai contribuir com nosso trabalho, principalmente com o custeio das salas de hidratação, que atualmente é feito com recurso próprio, e ajudar com as ações de prevenção e educativas", pontuou o prefeito Paulo Sérgio (PP), na ocasião.
Nos últimos meses também foram promovidos mutirões, chamados de “Sabadões da Saúde”, em que a população troca materiais com potencial de acúmulo de água por produtos da cesta básica. Na última ação, no início de março, foram eliminados 9.122 criadouros do mosquito Aedes aegypti, o que levou à troca por 704 litros de leite e 1,5 tonelada de alimentos.
Só neste ano, três pessoas da família do aposentado Gilvani Sousa tiveram dengue. Morador do Bairro Morumbi, ele contou que retirou cinco pneus antigos de seu quintal. "Eu tive dengue ano passado. Estou com 72 anos, não dá para ficar pegando essas doenças. Entreguei (os pneus) para a prefeitura quando fizeram ação no meu bairro", contou.
Medidas de enfrentamento
Por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a Prefeitura de Uberaba informou que tem várias frentes de enfrentamento à dengue. A medida mais recente foi a articulação de recursos junto ao governo estadual, que contribuirá com a aquisição de 26 leitos no Hospital Regional José de Alencar.
Para atender à demanda de pacientes com sintomas da doença, o Executivo municipal também destaca que reabriu o Centro de Referência à Dengue, em 24 de fevereiro. “Em 5 de março ampliamos o atendimento, que passou a ser todos os dias da semana, das 7h às 22h. No Centro de Referência à Dengue, o paciente é acolhido sob livre demanda e tem acesso a serviços como testagem, aferição dos sinais vitais, hidratação e medicamentos”, acrescentou a administração municipal, em nota.
Todas as unidades básicas de saúde também estão fazendo o acolhimento dos pacientes com suspeita de dengue, assim como testagem.
Em relação à prevenção, o executivo ressalta que Agentes de Combate às Endemias (ACE) percorrem todos os bairros da cidade, com visitas domiciliares para identificação e eliminação de focos dos mosquitos, além de prestar orientações aos moradores. O município também segue com os mutirões de limpeza. A vacina contra a doença está disponível para crianças de 10 a 14 anos.
Para que os agentes possam fazer um trabalho mais assertivo, a prefeitura investiu na tecnologia de mapeamento por drone. “Em 2024, o aparelho sobrevoou uma área da cidade, que foi trabalhada pelos agentes posteriormente. Agora, haverá a segunda operação.” Para o combate ao mosquito, os veículos do fumacê vão iniciar o segundo ciclo de circulação na próxima segunda-feira (24/3).
O município decretou situação de emergência em 28 de fevereiro. A SMS afirma que segue monitorando o cenário epidemiológico. Contudo, reforça que, neste momento de epidemia, a colaboração de todos é fundamental. “É imprescindível que todos cuidem dos seus quintais e eliminem os focos do mosquito. A SMS também orienta que os usuários procurem uma Unidade de Saúde durante os primeiros sintomas, para que não haja agravamento no quadro clínico”, ressalta a prefeitura.