INSPIRAÇÃO

Mineira de 91 anos ingressa na faculdade: ‘Só vou parar quando morrer’

Iolanda Conti ganhou uma bolsa integral e é caloura do curso de Nutrição

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Iolanda Ribeiro Conti diz estar animada com a nova empreitada. Ela é caloura do curso de Nutrição da Universidade de Guarulhos (UNG), em São Paulo. A aluna tem 91 anos e, no fim de 2024, viralizou com sua formatura no Ensino Médio. Agora, ela começa uma nova jornada para a realização de seu sonho. 

Nascida em Piranguçu, no Sul de Minas, dona Iolanda conquistou uma bolsa integral na faculdade por causa de sua história. Quando criança, ela não pôde frequentar a escola, já que, muito cedo, começou a trabalhar na roça com os pais. Ainda na infância, Iolanda foi levada por uma mulher, que acabou a forçando a fazer todo o trabalho doméstico. 

“Ela sempre falou que queria realizar esse sonho, que não conseguiu quando criança. A minha mãe veio de Minas Gerais por conta que uma mulher foi até a casa dos meus avós e prometeu que trariam ela para São Paulo para fazer companhia para a filhinha dela e prometeu também que iria cuidar da minha mãe como se fosse filha dela. Mas quando ela chegou aqui foi tudo diferente. Ela começou a bater na minha mãe, a maltratar. Minha mãe começou a fazer um trabalho análogo à escravidão, e cresceu sem estudo nenhum. Ela era completamente analfabeta”, conta a filha de dona Iolanda, Vera Lúcia Ribeiro Conti, que é fisioterapeuta. 

Em 2016, Vera decidiu matricular a mãe na escola, onde aprendeu a ler e a escrever. Em 2023, ela completou o Ensino Fundamental e, no fim do ano passado, o Ensino Médio. Na formatura, perguntaram qual seria seu próximo passo. E dona Iolanda já sabia o que queria.

“Ela disse que queria estudar Nutrição porque sempre quis ajudar as pessoas a se alimentarem direito e aconselhá-las”, disse a filha. Sabendo disso, os próprios professores da faculdade começaram a se organizar para matriculá-la, com direito a uma visita surpresa para contar a novidade.

“Foi uma maravilha, eu fiquei muito contente. Era um sonho que eu queria realizar. Foi Deus que abriu uma porta para mim”, declarou Iolanda.

Dia a dia nas aulas

As aulas acontecem de forma híbrida, com turmas presenciais três vezes por semana e aulas remotas. É a filha Vera que é responsável por levar e buscar a mãe na faculdade e dar suporte no que for necessário. Quando perguntada sobre qual é a melhor parte de ser uma aluna universitária, dona Iolanda é categórica: “Todas as partes são boas, graças a Deus”.  

Dona Iolanda com os colegas de classe
Dona Iolanda com os colegas de classe Arquivo pessoal

As aulas presenciais são as favoritas, já que permitem que ela conviva com os colegas. “Já fiz amizade. São pessoas maravilhosas, gente muito boa, respeitadora, carinhosa. Os professores são bons e têm muita paciência comigo”, completa. 

“Vai ser uma troca para mãe e para os colegas também. Tem alunos de 18 anos, que também acabaram de sair do Ensino Médio. São quase 70 anos de diferença. E eles estão todos empolgados. Outro dia ela falou para a professora que não estava conseguindo enxergar direito. Ela falou: ‘Dona Iolanda, não se preocupa, nós temos o ensino adaptado’. O importante é ela estar ali, realizando o sonho dela”, destaca a filha.

E logo no primeiro dia de aula, ela já foi recepcionada de forma especial por toda a comunidade acadêmica. Os corredores foram tomados por alunos e professores de todos os cursos, que fizeram questão de cumprimentá-la.  “Todos tratam ela muito bem, é a primeira pessoa de 91 anos que está estudando na faculdade. Por isso que ela diz que todas as partes são boas, desde as aulas até a entrada da faculdade, conversar com o reitor, conversar com o diretor, conversar com o coordenador… ela ama tudo”, detalha Vera. 

O reitor da UNG, Yuri Neiman, conta que ter dona Iolanda no quadro de discentes da universidade é uma forma de empoderar  a todos. "A história de vida da dona Iolanda é um exemplo para todos nós. A determinação e obstinação dela em estudar foi algo que motivou a UNG e o Grupo Ser Educacional a contribuir com este projeto em fazer a graduação de Nutrição. Ela recebeu a bolsa Integral em nossa Universidade por mérito. E podemos dizer que dona Iolanda é a representação da força feminina em todas as idades, algo emblemático neste Mês da Mulher. Para nós,  é uma alegria tê-la como nossa aluna”, declara.

‘Só vou parar quando eu morrer’

Vera conta que toda a família está muito orgulhosa, especialmente porque muitas pessoas duvidaram do potencial da mãe. “Muitas vezes as pessoas pensam que a vida acabou para os idosos, que eles têm que ficar sentadinhos na cadeira deles, vendo a vida passar. Só que a minha mãe não escolheu isso para ela. Uma pessoa falou para ela que era hora de ela parar e descansar. Mas ela falou que de jeito nenhum”, relata.

“Os idosos não devem desistir de viver, desistir de buscar. Porque, olha, não tem coisa mais triste no mundo que é você não saber assinar seu nome. E quando minha mãe aprendeu a assinar o nome dela, ela ficou muito feliz”, ressalta. 

“Eu gosto de alegria, de conversar, sabe? É muito bom. A gente quer viver. Viver e aprender. E querer é poder”, completa Iolanda.

Com o curso pela frente, a idosa tem um só objetivo: estudar até o fim da vida. “Eu só vou parar quando eu morrer. Enquanto eu puder, se Deus quiser, eu vou continuar, com muita esperança e muita vontade. E eu vou alcançar”, diz, determinada. 

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Ela ainda aproveita para aconselhar os mais jovens a privilegiar os estudos. “Não parem de estudar, porque amanhã vão poder ser alguém na vida e alcançar coisas melhores. Porque a gente sem estudo, a gente não é nada. Dá um jeitinho de estudar. E nós precisamos ajudar eles também, porque às vezes tem algum que não tem ajuda e a gente precisa ajudar eles para me ajudar. Eu se eu puder ajudar, vou ajudar também”, incentiva.

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