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Arte urbana

Artista mineiro cria Belo Horizonte em miniatura

Bruno Ricci concilia a paternidade atípica com a vida de artista independente; o trabalho feito quase todo à mão se inspira em elementos das vias de BH

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Belo Horizonte é a sexta maior capital do país e, embora seja considerada uma “roça grande” para muitos que moram ou visitam a cidade, tem uma paisagem urbana marcante. Nas ruas, avenidas e praças do Centro, esse cenário é composto por postes, bancas de jornais, grafites e murais que inspiram Bruno Ricci, de 32 anos, a criar sua arte em tamanho reduzido. O miniaturista, que também é pai de dois meninos atípicos, enfrenta desafios, mas se sente esperançoso para tornar a arte de BH e “da quebrada” conhecida mundialmente.


Nascido e criado na capital mineira, Bruno sempre se considerou diferente dos amigos por ser observador. Amante da arte de rua, fez grafite na juventude, mas deixou o hobby de lado quando se casou, aos 18 anos. Há seis anos, teve o primeiro filho e junto da esposa percebeu que o pequeno Raul demandava muito. Ricci decidiu, então, sair do emprego, que já não o agradava mais, para oferecer um cuidado intensivo ao filho, que mais tarde foi diagnosticado com atraso no desenvolvimento, transtorno do espectro autista (TEA) e síndrome do X frágil. Em meio ao novo estilo de vida, teve espaço para voltar a se dedicar a sua paixão.


“Com o passar do tempo, senti a necessidade de extravasar, de colocar em algum lugar o que estava na minha cabeça, então comecei a criar miniaturas, porque eu gosto muito do cenário urbano. Eu consigo enxergar a beleza no que a maioria das pessoas não conseguem, que é o enferrujado, a textura da parede descascada, então eu trouxe isso para miniatura. Há seis anos eu comecei a fazer, filmar, gravar, postar na internet e acabou que o pessoal foi se interessando”, conta.


Antes de dar início às obras autorais, Bruno colecionava bonecos de super-herói, o que o instigou a criar cenários para eles e chamou atenção das pessoas. O belo-horizontino criou bonecos para vender antes de produzir os elementos urbanos, que, segundo ele, transpassam o que está “latente” na cabeça dele. O artista conta, ainda, que faz outros tipos de miniatura caso tenha demanda, mas que se conecta verdadeiramente com a urbanidade, pois gosta do movimento da cidade grande.


Do escritório ao ateliê

Atento ao que ocorre ao seu redor, Bruno sempre esteve imerso no mundo da arte de rua, mas, de acordo com ele, é muito difícil viver de arte no Brasil. Por isso, ao se casar, optou por focar nos estudos e em outra carreira. No entanto, a vida no escritório nunca cativou o artista, que foi gerente de logística por seis anos. Neste período, fazia as obras reduzidas quando tinha tempo, mas foi fora do ambiente empresarial que pôde colocar o projeto em prática.


“O que me contagia mesmo, minhas artes autorais aqui, a maioria delas são cenários urbanos, porque eu me conecto muito desde criança. Eu gosto desse movimento de muitos carros, muitas pessoas. Adoro ir ao Centro para ficar vendo aquele tanto de gente passando para lá e para cá. Eu me sinto vivo através desse cenário urbano, cinza. É até estranho falar, porque, geralmente, a pessoa gosta de ir para o meio do mato, mas eu, não. Eu gosto mesmo é de ruas movimentadas”, diz.


Com o apoio da esposa, Amanda Cristina Tomaz Ricci, Bruno concilia a arte com a paternidade trabalhando quando os filhos estão na escola. Ele também aproveita quando seus filhos estão brincando. Porém, a maior dificuldade encontrada é fazer com que as pessoas reconheçam seu trabalho como arte.


Processo criativo

Ricci conta que o Viaduto Santa Tereza, palco das batalhas de rimas do pessoal do rap, é um um grande berço de inspiração, mas outros locais também. Morador da Região Oeste desde que nasceu, considera que a área era mais tranquila, mas ficou movimentada nos últimos anos, instigando seu processo criativo.
Embora ele não visite tanto esses locais devido aos cuidados com Raul e Otto, de 3 anos, que também é autista, ele os julga importantes para os processos fluírem. Segundo Bruno, a arte é expressada quando se está passando por algum momento e coloca aquilo em algum sentimento, pois “muitas coisas ruins foram transformadas em arte”.

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“Eu tenho muita dificuldade de apresentar o meu trabalho como arte, fazer com que as pessoas reconheçam meu trabalho como arte, até mesmo porque a arte, no Brasil em geral, não é tão valorizada. A pessoa, antes de consumir arte, precisa encher a geladeira, pagar as contas e é muito difícil sobrar uma graninha para poder comprar algo relacionado à arte, mas eu tento fazer com que isso seja cada vez mais acessível. Eu quero que a quebrada tenha obras minhas também, então eu tento fazer o máximo para que as pessoas consigam enxergar na minha arte, o meu olhar da cena urbana. Quero mostrar para o Brasil e para o mundo que BH tem artista 'bão' também”, diz. 

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