Os desfiles dos grupos carnavalescos que colorem as vias de Belo Horizonte ainda estão muito concentrados nas Regiões Hipercentro e Centro-Sul, a área mais rica da capital mineira - 36% dos cortejos ocuparam praças, ruas e avenidas nesse território, um total de 166 blocos. A Região Centro-Sul ainda é, de longe, a área de BH que mais atrai os organizadores de blocos quando pensam onde vão desfilar seus conjuntos carnavalescos. Ela concentrou 29,3% das atrações, enquanto 6,7% estiveram no Hipercentro.
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Na outra ponta da lista, o Barreiro foi a região menos atendida, com apenas 11 desfiles no Carnaval, ou 2,4% do total - a PBH considera que o período oficial da folia se inicia em 15 de fevereiro. Em seguida aparece Venda Nova, outra região afastada do Centro e pouco lembrada pelos blocos. Por lá, apenas 12 cortejos foram feitos (2,6% do total).
Nem mesmo a Pampulha, cartão postal da cidade e brindada com bela paisagem, consegue atrair mais cortejos. Por ali, somente 8,7% dos desfiles foram realizados, um total de 40 ao longo de 22 dias. Baianeiros e Sarandeiros foram alguns, enquanto o bloco do sertanejo Michel Teló foi cancelado.
A Região Leste, que neste ano ganhou uma via sonorizada, instalada na Avenida Brasil, recebeu 80 desfiles de blocos (17,4%), seguida da Nordeste, com 50 cortejos (10,9%).
Quarenta e sete blocos desfilaram na Região Noroeste (10,21%). A Oeste, com 6,5% dos desfiles (30), e a Norte, com 5,2% dos cortejos (24), encerram a lista.
A Região do Hipercentro recentemente ganhou status de regional, portanto, agora é a décima regional na estrutura administrativa em BH.
Os dados foram solicitados pela reportagem junto à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
Baixa nos desfiles
O balanço final de cortejos realizados exibe números bem menores do que o total de cadastros feitos antes da folia. Em dezembro, a PBH divulgou a previsão de 624 desfiles de blocos durante o carnaval de 2025. Passada a festa e feita a recontagem, o Executivo informa que foram 460 desfiles, ou seja, 164 atrações deixaram de acontecer, cerca de 26% a menos do previsto.
Hora de fazer as contas
A reportagem consultou representantes de alguns blocos que desfilam em Belo Horizonte sobre o que eles pensam a respeito da distribuição atual dos cortejos pelas regionais da cidade. Também sobre isso há divergências de opiniões.
Para Polly Paixão, presidente da Liga Belorizontina de Blocos de Carnaval, a sociedade local precisa fazer contas e decidir qual o perfil da festa desejado. “Carnaval pela cidade inteira gasta xis vezes mais com bombeiros, segurança, Guarda Municipal, banheiros e gradis. Isso de fato é algo que encarece o carnaval, é indiscutível”, calcula.
Ela lembra que a prefeitura já possui uma política de incentivo à descentralização dos blocos, com edital que dá mais pontos a cortejos feitos em regiões menos visadas. Paixão também acredita que o patrocínio de uma grande cervejaria tenha ajudado em melhorias estruturais na edição deste ano. “Espero que a cidade tenha curtido e percebido a diferença entre um carnaval patrocinado e outro não”, diz.
Fundador do Baianas Ozadas, Geo Ozado vê com naturalidade a distribuição atual de cortejos, que privilegia a área mais rica da capital. “Não vemos como anormal. São as vias mais favoráveis, que têm condição de ter trio grande e mais confortáveis ao público”, explica. O Baianas costuma atrair uma multidão até a Avenida Afonso Pena.
Mais do que números, Geo aposta em um balanço da folia com mais atenção à qualidade da programação e estrutura. “O Carnaval de BH tem essa característica de tentar atender as nove regionais (agora são dez), querer estar espalhado por toda a cidade. Eu vejo muito o esforço do ente público de querer focar no quantitativo, mas números não fazem um carnaval satisfatório. Estamos num momento de pensar em qualidade”, reflete.
Fundador do Unidos do Samba Queixinho, bloco que desfila na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul, acredita que o carnaval precisa se expandir cada vez mais e chegar em locais descentralizados. “Importante os grupos fora dessa região central serem valorizados e incentivados”, pontua.
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Reconhecer tanto blocos maiores do centro quanto cortejos menores em outras regiões é algo que Laila Heringer, integrante do Tchanzinho Zona Norte, acredita ser víável. “Na região central há maior fluxo de pessoas de todas as regiões da capital. (...) Considero relevante a folia estar espalhada pela cidade e é muito afetivo ver desfiles de blocos que têm vínculo com o território”, finaliza. O grupo é um dos que mudou de endereço, deixando de sair do bairro Dona Clara, onde lotava as ruas do bairro, e passou a desfilar na região central.
Distribuição dos blocos de BH pela regionais
Foram 460 desfiles realizados em 2025.
Centro-Sul - 29,3%
Leste - 17,4%
Nordeste - 10,9%
Noroeste - 10,21%
Pampulha - 8,7%
Hipercentro - 6,7%
Oeste - 6,5%
Norte - 5,2%
Venda Nova - 2,6%
Barreiro - 2,4%