Depois de um ano, as paredes das casas da vila na esquina da MG-05, no Bairro Goiânia, na Região Noroeste de Belo Horizonte, estão com tinta nova. Quem passa pelo local não imagina que, na madrugada de 14 de março de 2024, uma linha de fogo percorreu três quilômetros e destruiu o lar de diversas famílias. O portão novo e os imóveis restaurados, no entanto, não garantiram que alguns moradores atingidos pudessem retomar a vida que tinham antes.
A reportagem do Estado de Minas esteve em frente ao pátio que presenciou a tragédia há um ano. Uma pessoa, que trabalha em um comércio, onde antes funcionava um bar, comentou ao ver a equipe: “Está fazendo um ano, ‘né’. Uma tragédia.” Uma moradora, que não teve a casa atingida pelas chamas, mas mesmo assim não quis se identificar, contou que nenhum dos antigos moradores continuou na vila. Apesar disso, por fora, as casas parecem intocadas — com as paredes claras recém-pintadas e as janelas novas — não há sinais do estrago causado pelo fogo.
Na madrugada de 14 de março de 2024, por volta das 2h25, um caminhão-tanque tombou, pegou fogo e incendiou casas e carros às margens do Anel Rodoviário. O motorista do caminhão, Gildesio de Oliveira, de 54 anos, morreu na hora, carbonizado. Outras nove pessoas ficaram feridas. Entre elas estava Belarmino de Freitas Miranda, de 64 anos, que morreu após quase um mês internado no Hospital João XXIII. Ele teve 76% do corpo queimado, segundo familiares.
Leia Mais
Com o impacto da queda, o tanque foi danificado e a carga de combustível vazou, escorreu e criou uma ‘rua de fogo’, levando as chamas por três quarteirões. Oito residências e dez veículos foram atingidos. Famílias saíram às pressas de casa e pelo menos nove pessoas — quatro homens, três mulheres e duas crianças — tiveram lesões como queimaduras ou pequenos traumas na tentativa de se salvarem.
De acordo com informações, o caminhão-tanque saiu de Betim, na Grande BH, com destino a Sabará. Ele seguia na BR-381, ao virar à direita para entrar na MG-5, antiga MGC-262, o veículo tombou e pegou fogo. Na época do acidente, a Transportadora JBretas, dona do caminhão, se comprometeu, inclusive junto à imprensa, que garantiria suporte aos atingidos pela tragédia. A empresa indenizou algumas vítimas pelo prejuízo provocado em carros e motos e por danos morais, em valores que, segundo alegam alguns moradores, foram cerca de R$ 3 mil por pessoa.
Homem é preso por chamar adolescente de 'macaquinho' em cidade mineira
TEMPOS DE INSEGURANÇA
Em razão do acidente, casas foram incendiadas e estragos eram notáveis mesmo uma semana após ocorrido. O motorista morreu e outras nove pessoas ficaram feridas
Edésio Ferreira/EM/D.A. Press - 21/03/2024Said Lúcio Santos, Ana Paula Garcia e os dois filhos, de 6 e 13 anos, viveram momentos de desespero enquanto aguardavam pelo resgate do Corpo de Bombeiros. Com o caminho bloqueado pelo incêndio que avançava rapidamente, o casal e as crianças se viram encurralados, forçados a buscar refúgio dentro do banheiro. “Ficamos ali, agarrados uns aos outros, rezando para que a água não acabasse e que a janela não cedesse sob o calor intenso”, relembram.
Passeio de skate e aniversário: os últimos posts de jovem concretada em BH
O imóvel da família foi totalmente consumido pelas chamas. Televisão, camas, computadores, sofás e até mesmo placas solares foram perdidas. Desde o acidente, eles moraram em um quarto de um hotel no Bairro Prado, na região Central da capital. Apesar dos incômodos de viverem os quatro em um espaço, originalmente destinado para duas pessoas, conforme exposto pelos próprios funcionários do local, a família ainda tinha algum lugar para ficar. No entanto, em julho do ano passado, a família voltou a viver com incertezas quando foi expulsa do local, uma vez que a reforma do imóvel estaria completa, mas não foi isso que aconteceu.
Siga nosso canal no WhatsApp e receba notícias relevantes para o seu dia
Com todos os problemas e sem ter para onde ir, a família judicializou o processo e conseguiu, após vários recursos, decisão para que a empresa pague o aluguel de uma casa. “Eles estão ganhando tempo dentro do processo e, de vez em quando, entram com pedido para poder derrubar a liminar e deixar a gente na rua, mas vários desembargadores já negaram o pedido. Eles não estão querendo nem ficar pagando aluguel pra gente”, disse o empresário.
A reportagem procurou a defesa da JBretas para se posicionar sobre o processo para a retomada da reforma na casa da família de Said, mas até o fechamento desta edição não obteve resposta.