Cada um dos Sabbats presentes na Roda do Ano Celta cai em determinada época a fim de corresponder aos ciclos naturais da Terra e suas estações — mas o Samhain foi considerado um dos mais importantes desses eventos, marcando o início do ciclo anual, uma espécie de dia de Ano Novo. Samhain (pronuncia-se “souen”) é como se chama uma tradição celta de mais de 2 mil anos que ocorre nas noites de 31 de outubro (no hemisfério norte) ou 30 de abril (no hemisfério sul), associada ao final da última colheita anual. Essa antiga tradição, provavelmente a mais antiga da história, também traz consigo o período mais obscuro, sem possibilidade de semeadura. Nesse contexto, no entanto, a “escuridão” não deve ser equiparada ao mal ou a tristeza, mas entendida como simplesmente parte da condição humana: deve haver trevas regenerativas para que haja luz. Por meio do Samhain, se abre um caminho rumo a uma vida nova. É um momento propício não somente para analisar o estado da colheita, mas também para fazer um balanço da própria vida. Durante esse período, todo o alimento fornecido pela Deusa deve agora alimentar seus filhos, além de nutrir o Deus, agora morto, em sua caminhada pelo “outro mundo”. Enquanto se recolhe e firma sua promessa de retorno, o Deus aguarda para renascer em alegria, através do ventre da Grande Mãe.
Samhain e a relação entre vivos e mortos
Essa celebração não estava apenas associada à vida, mas à morte. Nesse estágio, uma espécie de véu “se abre”, permitindo a passagem da alma. Durante a celebração do Samhain, surge o momento certo para entrar em contato com pessoas que já haviam falecido. Esse é um período para agradecer por tudo o que recebeu no último ano, e refletir sobre coisas, situações e pessoas que se foram — honrando especialmente seus ancestrais e entes queridos que passaram para o outro lado. O Samhain é reconhecido como uma época em que esse véu que separa o mundo dos vivos e dos mortos se torna mais fino, permitindo que aqueles que partiram pudessem se mover mais facilmente para o reino dos vivos. Longe de ser um conceito assustador, acreditava-se que nesse período, os entes desencarnados poderiam fazer visitas, e era costume preparar tanto as refeições favoritas dessas pessoas como guloseimas para os espíritos. No entanto, se alguém prejudicou algum desses espíritos em vida, este poderia voltar em busca de uma compensação — e, assim, o uso de máscaras era muito comum durante a celebração, para que as pessoas não fossem reconhecidas. Como o mundo espiritual é habitado por todos os tipos de seres, além das almas dos mortos, acreditava-se que durante o Samhain, mortais poderiam ser seduzidos e/ou sequestrados. Também era preciso ter cuidado ao viajar à noite, quando os poderes dessa data se tornavam mais potentes. Nesses casos, muitas pessoas optavam por usar máscaras e trajes a fim de se protegerem dessas entidades.Celebrações e brincadeiras do Samhain
Segundo a tradição, a festividade incluía erguer altares e colocar comida sobre eles, como bolos, doces e ponche, posicionando-os em frente às portas das casas. O não cumprimento desses rituais também poderia irritar os espíritos e causar problemas. Os celtas também costumavam acender uma grande fogueira e, na companhia de seus familiares e animais, circulavam em torno dela. As fogueiras do Dia das Bruxas e as práticas da chamada “noite de travessuras”, como conhecemos atualmente, também eram encontradas durante o Samhain. Como se acreditava que o mundo teve início no caos e só depois foi ordenado pelas forças divinas, fazia sentido que, em uma noite em que o véu estivesse mais fino entre o plano físico e espiritual, o mundo pudesse voltar ao caos. As brincadeiras realizadas na noite anterior à celebração do Samhain simbolizavam o caos, enquanto a retificação dessas travessuras no dia seguindo significava a restauração da ordem. Da mesma forma, as fogueiras simbolizaram o triunfo da luz e da ordem sobre a escuridão. Fogueiras ainda são acessas nessa data em locais como Irlanda, Escócia e Grã-Bretanha durante o Samhain, em reconhecimento a esse mesmo conceito.Curiosidades
O Samhain foi considerado um feriado pagão, mas essa determinação foi eliminada após o aparecimento do cristianismo — que considerava a prática bruxaria ou pertencente a seitas. Anos depois, a religião católica passou se identificar com a celebração celta, e o vinculou ao Dia de Todos os Santos e ao Dia de Finados. O mundo anglo-saxão também absorveu essa tradição, por meio do Dia das Bruxas, data de grande importância nos Estados Unidos. Na Inglaterra, a celebração conhecida como “Guy Fawkes” também foi adotada, na qual fogueiras são acesas e fogos de artifício são lançados.Saiba mais: