Um trecho de 900 metros da avenida, no Bairro Floresta, Região Leste de BH, registra seis pontos com acidentes fatais nos últimos três anos -  (crédito: Leandro Couri/EM/DA Press)

Um trecho de 900 metros da avenida, no Bairro Floresta, Região Leste de BH, registra seis pontos com acidentes fatais nos últimos três anos

crédito: Leandro Couri/EM/DA Press

 

Início da manhã de uma terça-feira em BH. São 6h quando um Fiat Uno cor cinza perde o controle e, em alta velocidade, bate contra um muro da Avenida Cristiano Machado, na altura do Bairro Floramar, Região Norte da cidade. O resultado é de uma pessoa gravemente ferida e outra morta, essa um jovem de apenas 22 anos. Trata-se de uma das várias vidas interrompidas diante do longo histórico de tragédias da Cristiano Machado, segunda via com mais acidentes nos últimos 10 anos em Belo Horizonte, de acordo com números do Observatório de Segurança Pública de Minas Gerais, segmentados pelo Núcleo de Dados do EM.

 

 

Os dados mostram um total de 31.385 ocorrências na avenida desde 2014, uma média de 8,3 por dia. É como se a cada três horas, as autoridades registrassem um acidente na Cristiano Machado, que liga o Centro de BH ao vetor norte da cidade, da saída do Túnel da Lagoinha até o encontro com a MG-10. Somente o Anel Rodoviário, como mostrou o EM ontem na primeira reportagem da série "Risco sobre Rodas", registra mais problemas do tipo que o corredor citado. Ainda nesta semana, o jornal publica dados, relatos e análises sobre as avenidas Amazonas, do Contorno e Antônio Carlos.

 

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Para o professor de educação e segurança no trânsito do Cefet-MG, Agmar Bento Teodoro, não é só o fato de a Cristiano Machado concentrar um grande número de veículos todos os dias que explica o alto número de acidentes registrados. “A gente precisa lembrar que ela tem um fluxo de pedestres considerável. Em vias com travessia frequente de pessoas é comum acontecerem atropelamentos, ainda mais com esse fluxo alto de veículos. Temos que lembrar que há locais de interesse nos arredores da avenida, como shoppings e estações do metrô”, diz.

 

Os números complementam a explicação do especialista. Em 10 anos, a Cristiano Machado registra 63 mortes por acidentes de trânsito. Em média, esse dado significa uma vida perdida na avenida a cada dois meses. A principal razão? Justamente os atropelamentos, que representam 38% dos óbitos computados na via. São 24 por esse motivo.

No mês passado, uma simples travessia na Cristiano Machado quase terminou em tragédia para uma avó e seu neto. Os dois estavam atravessando a avenida durante a manhã, na altura da Estação Primeiro de Maio do metrô, na Região Nordeste de BH, justamente o cenário trazido pelo especialista do Cefet. Em dado momento, a motorista de um carro de passeio atropelou as vítimas. Por sorte, a mulher de 56 anos e a criança de 10 sofreram apenas ferimentos leves. O Samu socorreu os socorreu para o hospital.

 

O consolidado de ocorrências graves na Avenida Cristiano Machado também chama atenção: são 469 no período citado, ou uma a cada oito dias em média. Já o total de registros com ao menos uma vítima, independentemente da gravidade, chega a 5.973 desde 2014, uma média de dois a cada três dias.

 

Rotina de imprudências

 

Comerciantes que trabalham nos arredores da Cristiano Machado contam que as imprudências são rotineiras, sobretudo na saída do Túnel da Lagoinha, onde os números apontam para seis mortes nos últimos três anos num trecho de apenas 900 metros. O empresário Fabrício Lopes Camargos, de 40 anos, tem uma oficina no cruzamento da avenida com a Rua Pitangui desde 2009. O mecânico conta que já viu diversos acidentes em frente ao estabelecimento. Além das batidas, Fabrício diz que há muito atropelamento na região. “Os moradores de rua atravessam como se nada estivesse acontecendo. Os carros têm que frear bruscamente, causando engavetamentos que envolvem até motoqueiros”, afirma.

 

Ele acredita que o motivo das batidas também esteja ligado ao excesso de velocidade dos motoristas. “Os caras vêm em alta velocidade. Tem um poste ali que já foi trocado quatro vezes. Na última vez, um SUV bateu, e (os agentes) fecharam a avenida para tirar o carro. O motorista foi embora e deixou o veículo para trás”, afirma.

 

Se pudesse mudar as coisas, o empresário instalaria um semáforo na saída do Túnel da Lagoinha. “Com o sinal, os motoristas já saem do túnel mais devagar. Porque ali é o seguinte: quando o túnel está vazio, você empolga e vem acelerado, como se estivesse apostando corrida”, diz.

 

A opinião dele é compartilhada pela vendedora Lorrayne Gabrielle, 22 anos. Ela trabalha em uma concessionária da Cristiano Machado, também perto do Complexo da Lagoinha, há pouco mais de um ano. Durante esse tempo, a jovem já presenciou quatro acidentes. “Teve uma vez que ficamos sem luz por dois dias, porque um cara bateu no poste. Outra vez, mais feio ainda, uma menina, que estava na garupa da motocicleta do namorado, teve a perna aberta ao bater no ferro do passeio”, conta.

 

A vendedora destaca que o trecho da Cristiano Machado nas proximidades de onde trabalha é muito perigoso por se tratar de uma curva fechada. Apesar disso, na visão dela, o problema maior está na imprudência dos motoristas, que vêm em alta velocidade. “As pessoas passam direto. É muito acidente, de todos os tipos. Os motoristas de ônibus são mais tranquilos, eles descem com mais cuidado, acho que porque o veículo é mais pesado”, diz.