O Exército de Israel e os integrantes do movimento islamista Hamas combatiam nesta quarta-feira (8) no centro da cidade de Gaza, ao norte do território cercado, sem a esperança de trégua para centenas de milhares de palestinos encurralados pelo conflito e vítimas de uma situação humanitária desesperadora.
Israel prometeu "destruir o Hamas" em represália ao violento ataque contra seu território em 7 de outubro, dia em que os combatentes islamistas mataram 1.400 pessoas, a maioria civis. Entre os mortos estavam mais de 300 militares.
O Hamas, considerado um grupo terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel, mantém mais de 240 reféns, sequestrados no dia do ataque e levados para Gaza.
Desde 7 de outubro, o Exército israelense bombardeia a Faixa de Gaza diariamente, apesar dos pedidos de trégua da comunidade internacional. No momento, os soldados do país estão no "coração" da cidade de Gaza, afirmou o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant. Ele disse que o "centro" do Hamas fica na localidade.
"Gaza é a maior base terrorista que já foi construída", disse Gallant.
Do lado palestino, ao menos 10.569 pessoas, a maioria civis e incluindo mais de 4.000 menores de idade, morreram nos bombardeios israelenses, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas.
Imagens divulgadas nesta quarta-feira pelo Exército israelense mostram tanques e escavadeiras avançando entre as ruínas fumegantes de Gaza. Os soldados caminham entre os prédios destruídos pelos bombardeios, enquanto as explosões prosseguem na área.
Na cidade de Gaza, a parte de maior densidade demográfica do território, onde bairros inteiros foram reduzidos a escombros, muitas pessoas aguardam o abastecimento de água.
"Não haverá trégua humanitária sem o retorno dos reféns", reiterou o ministro israelense da Defesa, apesar dos pedidos da ONU, de ONGs e de vários países por um cessar-fogo ou uma pausa nos combates, que permitiria a entrega de ajuda urgente após o corte do fornecimento de alimentos, água, energia elétrica e remédios.
"Cemitérios lotados"
Segundo a ONU, 1,5 milhão de pessoas foram deslocadas dentro do território em um mês.
Um analista independente das Nações Unidas, Balakrishnan Rajagopal, declarou nesta quarta-feira que 45% das casas do território foram danificadas ou destruídas pelos bombardeios israelenses, o que ele considera um "crime de guerra".
O especialista enfatizou que quando tais ataques "estão direcionadas contra uma população civil, também equivalem a crimes contra a humanidade".
O serviço de comunicação do Hamas anunciou na terça-feira à noite no Telegram que "vários cemitérios estão lotados e não há mais espaço para enterros".
O Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), que cita números divulgados pelo Ministério da Saúde do Hamas, afirmou que 192 profissionais da saúde morreram desde o início da guerra em 7 de outubro.
A ideia de um cessar-fogo também foi rejeitada pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel, que defende a adoção de "pausas humanitárias".
Na mesma linha, os ministros das Relações Exteriores do G7, reunidos nesta quarta-feira em Tóquio, apoiaram a ideia "pausas e corredores humanitários" em Gaza.
O comunicado do grupo também destaca o "direito de Israel a defender-se e a seu povo, com base na lei internacional".
"Parem esta máquina de destruição"
Para os 2,4 milhões de moradores de Gaza, a situação é desesperadora após um mês de bombardeios incessantes.
"Parem esta máquina de destruição. Salvem-nos", implorou na terça-feira Hisham Kulab, um deslocado palestino que presenciou bombardeios em Rafah, no sul da Faixa, cercada por Israel desde 9 de outubro.
Nesta parte do território palestino, "a média é de quatro a seis horas de espera para receber meia porção normal de pão", afirmou o OCHA.
Ao norte, "muitas pessoas que buscavam comida de maneira desesperada entraram nas últimas três padarias que ainda tinham estoques de farinha de trigo na terça-feira", segundo a agência da ONU, que registrou a entrada de 650 caminhões de ajuda humanitária em Gaza desde 21 de outubro, procedentes do vizinho Egito.
Israel se retirou unilateralmente de Gaza em 2005, após 38 anos de ocupação. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, afirmou que após a guerra o país assumirá a "responsabilidade geral pela segurança" por um período indefinido, para impedir que o Hamas recupere o poder.
"Não será uma ocupação", destacou o ministro israelense de Assuntos Estratégicos, Ron Dermer.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Israel não deve ocupar Gaza novamente. O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que o "Hamas não pode fazer parte da equação" do poder em Gaza após a guerra.
O porta-voz do Hamas, Abdel Latif al Qanou, reagiu e afirmou que "o que Kirby disse sobre o futuro de Gaza depois do Hamas é uma fantasia".
"Nosso povo está em simbiose com a resistência e decidirá seu futuro", completou.
A violência também aumentou na Cisjordânia, território palestino ocupado por Israel desde 1967, onde mais de 150 palestinos morreram em ações do Exército e dos colonos desde 7 de outubro, segundo a Autoridade Palestina.