A poucas horas do fim da trégua entre Israel e Hamas, que acaba na madrugada desta quinta-feira (30/11) — manhã no horário local—, mais dez civis israelenses feitos reféns em Gaza foram libertados e entregues ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
O Qatar, um dos principais mediadores da guerra no Oriente Médio, disse tratarem-se de cinco menores de idade e cinco mulheres. No grupo, quatro teriam dupla nacionalidade — um menor seria também holandês, três das mulheres seriam também alemãs, e uma, americana.
O grupo foi entregue aos trabalhadores humanitários quase no final do dia, uma demora que despertou apreensão nas famílias. A razão para o atraso não ficou clara, e o governo israelense argumentou somente se tratarem de questões técnicas, mas não as detalhou.
Trata-se do sexto grupo libertado pela facção e, possivelmente, o último, por ora, caso as tratativas para prorrogar novamente o acordo de cessar-fogo iniciado na última sexta-feira (24) não sejam bem-sucedidas. Negociadores não demonstram grande expectativa.
Além de interromper os bombardeios, os esforços libertaram até aqui ao menos 71 mulheres e crianças israelenses que estavam entre os mais de 200 reféns, assim como 210 presos palestinos soltos por Tel Aviv em contrapartida. Nesta quarta-feira, foram soltos mais 16 menores e 14 mulheres palestinas das prisões israelenses.
Em acordos paralelos, mais de 20 outras pessoas, principalmente trabalhadores tailandeses, foram libertados de Gaza. Em um desses acordos, foram entregues nesta quarta duas cidadãs russo-israelenses, Ielena Trupanov e sua mãe, Irena Tati, transferidas de Gaza a Israel. Junto aos dez israelenses, saíram também outros quatro tailandeses, elevando o número total de reféns liberados nesta quarta-feira para 16.
Em nota, a embaixada russa em Israel disse estar exercendo toda a pressão que pode sob o Hamas para que "os netos de sobreviventes do Holocausto" sejam libertados o mais rápido possível.
A penúltima leva de reféns soltos, na terça-feira, incluiu pela primeira vez civis mantidos sequestrados pelo Jihad Islâmico, outra facção que atua em Gaza. Acredita-se que alguns dos libertados nesta quarta-feira também estivessem sob domínio do grupo.
No mesmo dia, o general Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior Militar de Israel, sugeriu ser contrário a uma extensão da pausa. "O Exército israelense está preparado para retomar os combates. Aproveitamos os dias de pausa para reforçar nossa preparação", afirmou o militar. Nos bastidores, no entanto, os mediadores tentam prorrogar a trégua.
Figuras próximas ao Hamas vinham sinalizando que o grupo estaria disposto a prolongar a trégua por mais quatro dias. Durante a noite de quarta-feira, porém, um membro do alto escalão da facção, Osama Hamdan, hoje no Líbano, disse que nenhum acordo estaria maduro.
"Os esforços ainda não maduraram, e não achamos que a proposta que nos foi ofertada para isso valia a pena ser estudada", disse ele ao veículo de mídia Al-Madayeen, ligado ao Hezbollah.
Israel, por sua vez, já disse estar disposto a ampliar a trégua enquanto o Hamas devolver dez reféns por dia, como está previsto no acordo. Com menos mulheres e crianças em cativeiro, isso poderia significar a libertação de pelo menos alguns homens israelenses pela primeira vez.
Oficialmente, o escritório do premiê Binyamin Netanyahu recusou-se a comentar o estado de qualquer negociação, mas observou que, na terça-feira, mais 50 detidas palestinas foram adicionadas à lista de pessoas a serem libertadas caso uma nova troca fosse acordada.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, anunciou nesta quarta, em Bruxelas, que durante sua viagem a Israel nos próximos dias atuará no tema. "Queremos que esta pausa seja prolongada, porque nos permitiu libertar reféns e trabalhar na assistência humanitária para aqueles que precisam dela desesperadamente", disse ele na sede da Otan, a aliança militar ocidental.
Também nesta quarta-feira, o papa Francisco usou parte da sua audiência semanal para pedir a continuação da trégua, a libertação de todos os reféns e o acesso de Gaza à ajuda humanitária. "Apelamos à paz", disse ele, expressando preocupação pela falta de água e pão no território palestino.
A trégua trouxe o primeiro alívio para uma guerra lançada por Israel para aniquilar o Hamas após o grupo terrorista invadir o sul de Israel no dia 7 de outubro e matar 1.200 pessoas, segundo Tel Aviv.
A resposta israelense foi uma de suas campanhas aéreas mais intensas dos últimos anos, o que reduziu grande parte de Gaza a um terreno baldio. Mais de 15 mil pessoas foram mortas no território, de acordo com as autoridades de saúde palestinas.
Muitos outros podem estar sob os escombros. O Ministério da Saúde palestino, controlado pelo Hamas, disse que mais 160 corpos foram retirados dos destroços nas últimas 24 horas da trégua, e cerca de 6.500 pessoas ainda estavam desaparecidas.