Centenas de pessoas foram retiradas neste sábado (18) do maior hospital de Gaza, que abrigava mais de 2.000 pacientes, profissionais da saúde e refugiados que fugiram da guerra entre Hamas e Israel no território palestino.
A operação de retirada aconteceu após uma ordem emitida pelas forças israelenses, que prosseguem, pelo quarto dia consecutivo, uma operação militar no hospital e que exigiram neste sábado, por alto-falantes, que as pessoas abandonassem o local "em uma hora".
Segundo a ONU, ao menos 2.300 pacientes, profissionais da saúde e deslocados pela guerra estavam no hospital Al Shifa, um grande complexo médico na zona oeste da Cidade de Gaza.
As pessoas saíram do hospital a pé, informou um correspondente da AFP no local, mas várias fontes médicas afirmaram que 120 pacientes continuam no hospital porque não conseguem deixar o local. O grupo inclui bebês prematuros, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Os deslocados, médicos e pacientes, alguns feridos e em situação muito frágil, caminharam em direção à rodovia Salaheddin, que segue para o sul da Gaza, onde o Exército israelense exige que a população procure refúgio.
- Revista minuciosa -
O Exército israelense, cujos tanques cercam o hospital, está revistando "prédio por prédio" do complexo hospitalar que, segundo Israel, abriga instalações do Hamas, em particular uma rede de túneis subterrâneos.
O movimento islamista palestino nega a acusação e afirma que Israel utiliza a alegação como pretexto para atacar o hospital.
O hospital está sem energia elétrica há vários dias e os diretores de departamentos afirmaram que dezenas de pacientes morreram porque os equipamentos pararam de funcionar.
O Hamas executou no dia 7 de outubro um ataque sem precedentes em território israelense que matou 1.200 pessoas, a maioria civis, e sequestrou quase 240 reféns, segundo as autoridades israelenses.
Desde então, Israel bombardeia a Faixa de Gaza de modo incessante.
As negociações para a libertação dos reféns acontecem com a mediação do Catar, mas Israel rejeita um cessar-fogo antes que todos sejam libertados.
Segundo o Ministério da Saúde do Hamas, os ataques israelenses mataram mais de 12.000 civis palestinos, incluindo 5.000 menores de idade.
O Exército israelense anunciou que 51 soldados morreram nos combates em Gaza.
Na madrugada deste sábado, um ataque contra três edifícios em Khan Yunis matou 26 pessoas e deixou 23 gravemente feridas, informou o diretor do hospital Nasser desta cidade do sul da Faixa de Gaza.
"Eu estava dormindo e nós fomos surpreendidos pelo ataque. Lançaram pelo menos 20 bombas", declarou à AFP Imed Al Mubacher, de 45 anos.
De modo paralelo aos bombardeios, Israel, que prometeu "aniquilar" o Hamas, efetua operações terrestres desde 27 de outubro.
O território está cercado desde 9 de outubro por Israel, que cortou o acesso ao fornecimento de alimentos, água, energia elétrica e remédios, que transitam por Rafah, na fronteira com o Egito, no sul de Gaza.
Segundo o Hamas, 24 dos 35 hospitais de Gaza interromperam os serviços.
Diante da escassez, a população enfrenta um "risco imediato de fome", advertiu o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas.
Segundo a ONU, mais de dois terços dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa de Gaza foram deslocadas pela guerra. A maioria fugiu para o sul com o mínimo necessário e sobrevive ao frio que se aproxima.
- Entrada de combustível -
A pedido dos Estados Unidos, Israel autorizou na sexta-feira a entrada diária por Rafah de dois caminhões-tanque com combustíveis na Faixa de Gaza. Segundo a autoridade da parte palestina da passagem de fronteira, os primeiros 17.000 litros permitirão reativar os geradores elétricos de hospitais e das redes de telecomunicações.
Israel se recusava a permitir a passagem de combustível, alegando que poderia beneficiar as atividades militares do Hamas, que tomou o poder em Gaza em 2007 e é classificado como organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia e Israel.
Mas as entregas diárias autorizadas representam apenas uma pequena parte do volume de combustível (50 caminhões), que entravam em Gaza a cada 24 horas antes do início da guerra, segundo a agência da ONU para os refugiados palestinos (Unrwa).
Segundo a Unrwa, 70% da população não tem acesso ao fornecimento de água potável no sul do território, onde o conteúdo dos esgotos começou a ser despejado nas ruas porque as estações de tratamento de águas residuais pararam de funcionar por falta de combustível.
A tensão também é elevada na Cisjordânia, um território ocupado desde 1967 por Israel, onde quase 200 palestinos morreram em ações de colonos e soldados israelenses desde 7 de outubro, segundo o Ministério da Saúde palestino.