O gabinete de Israel aprovou nesta terça-feira (21/11, horário de Brasília) um acordo com o Hamas para que reféns detidos pelo grupo palestino há mais de um mês sejam liberados.

Segundo um comunicado do governo israelense, em uma primeira leva, 50 reféns serão soltos durante quatro dias. Enquanto isso, o conflito será pausado temporariamente.

O acordo vem após mais de seis semanas de uma forte e mortal guerra na Faixa de Gaza.

O gabinete israelense é formado por ministros e pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Antes da decisão sobre o acordo ser anunciada, Netanyahu disse que Israel continuaria a guerra contra o Hamas "até alcançarmos todos os nossos objetivos".



Em uma declaração em vídeo gravada antes da reunião do gabinete, Netanyahu disse que era "absurdo" o eventual cenário da guerra ser interrompida assim que os reféns fossem libertados.

Segundo o primeiro-ministro, o retorno dos reféns é um "objetivo sagrado e importante".

"Na guerra, há fases e, na devolução dos reféns, há fases, mas não vamos parar até termos a vitória total, até recuperarmos todos eles", disse o premiê. "Esse é o dever sagrado de todos nós."

A eliminação do Hamas também é um objetivo, afirmou Netanyahu, "e que não haja nada em Gaza que ameace Israel novamente".

Netanyahu afirmou ainda que aceitar um acordo seria "uma decisão difícil", mas que seria "a decisão certa" e apoiada pelo "establishment de segurança".

Netanyahu acrescentou: "O esforço de guerra não será prejudicado, mas permitirá que as IDF (Forças de Defesa de Israel) se preparem para os combates que virão".

Ele também agradeceu ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que, segundo ele, ajudou a "melhorar o quadro que está sendo apresentado a vocês... para incluir mais reféns a um custo mais baixo".

A declaração do premiê israelense foi dirigida aos que estão mais à sua direita na coligação que forma seu governo e aos seus apoiadores, avalia Tom Bateman, correspondente da BBC no Oriente Médio.

"Creio que em grande parte foi para consumo interno, para combater os ataques daqueles que estão mais à sua direita politicamente", diz Bateman.

O acordo não exigia o apoio de todos 38 membros do seu gabinete, formado por integrantes de diferentes partidos.

Segundo a mídia local, não havia uma oposição robusta para impedir sua aprovação. Alguns dos maiores críticos do acordo são parte da direita radical israelense.

Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Nacional e líder do partido Otzma Yehudit, disse em uma postagem no X que se oporia ao acordo, acrescentando acreditar que a aprovação do acordo pelo Hamas indicaria que o Exército israelense está realizando um ataque eficaz.

Bezalel Smotrich, ministro das Finanças, afirmou em um comunicado antes da reunião que o acordo era "ruim para a segurança de Israel, ruim para os reféns e ruim para os soldados das IDF".

A mídia local informou ainda que o partido ultraortodoxo Shas disse que votaria a favor de um acordo.

O United Torah Judaism, outro partido ultraortodoxo que integra o gabinete, não disse como pretendia votar.

Um funcionário israelense de alto escalão disse à BBC que todos os órgãos de segurança israelenses — as IDF, a agência de espionagem Mossad e a agência de inteligência doméstica Shin Bet — haviam se manifestado a favor do acordo.

Na manhã desta terça-feira, o Catar, que está costurando as negociações, entregou uma proposta de acordo com o Hamas para Israel, segundo disse um funcionário do Ministério das Relações Exteriores à rede CNN.

O Catar desempenhou um papel de mediador entre as partes desde o início deste conflito e esteve envolvido na libertação de quatro mulheres feitas reféns pelo Hamas, semanas atrás.

A repercussão do acordo nos últimos dias

Nos últimos dias, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já havia dito que um acordo que levaria o Hamas a libertar alguns reféns israelenses estava "muito próximo".

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, também já havia dito que estavam sendo feitos "progressos" em relação ao acordo. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, também confirmou essa aproximação do "acordo de trégua".

O Hamas fez cerca de 240 pessoas como reféns durante os ataques de 7 de outubro, que mataram 1.200 israelenses.

O governo de Gaza, dirigido pelo Hamas, afirma que mais de 14.000 pessoas foram mortas no território desde que Israel iniciou a sua ofensiva – incluindo mais de 5.800 crianças.

BBC
Israelenses sequestrados pelo Hamas, da esquerda para a direita do topo: Doron Steinbrecher, Shani Goren, Emily Hand, Alex Danzig, Gali Tarshansky, Amiram Cooper, Erez e Sahar Kalderon, Emma e Julie Alony Cunio, Guy Gilboa-Dalal e Ditza Heiman

O conflito

Após os ataques do Hamas em 7 de outubro, Israel iniciou uma ofensiva militar na Faixa de Gaza com bombardeios aéreos. Posteriormente, também enviou tanques e tropas ao território.

Desde então, bairros inteiros de Gaza foram destruídos e os ataques de retaliação israelenses continuam.

O objetivo declarado de Israel sempre foi destruir completamente o Hamas e resgatar os reféns em poder do grupo palestino.

Em meados de outubro, Israel deu um ultimato aos moradores no norte da Faixa de Gaza — cerca de 1,1 milhão de pessoas — para se deslocarem em direção ao sul do território.

O norte de Gaza, que inclui a Cidade de Gaza e dois campos de refugiados, é uma das partes mais densamente povoadas do território.

Na ocasião, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, disse aos civis que ignorassem a ordem de evacuação, descrevendo-a como "propaganda falsa".

No entanto, milhares de palestinos obedeceram à ordem de Israel e abandonaram suas casas.

Apesar disso, Israel bombardeou várias localidades no sul do território.

Enquanto isso, a ala militar do Hamas, as Brigadas al-Qassam, continuou disparando foguetes contra Israel.

Nas primeiras semanas do confronto, Benjamin Netanyahu, descreveu o atual conflito com o Hamas como a "segunda guerra de independência de Israel".

No início de novembro, sete relatores das Nações Unidas emitiram uma declaração conjunta na qual afirmavam estar convencidos de que "o povo palestino corre grave risco de genocídio".

Israel chegou a dificultar a entrada de ajuda humanitária em Gaza. A ONU acusou o país de estar cometendo "crimes de guerra" por meio de sua "punição coletiva" aos moradores da Faixa de Gaza.

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