RODRIGO CRAVEIRO

 

Foi um abraço com o aperto da saudade ainda entranhado no peito. Depois de 51 dias de horror, sem notícias das filhas, sequestradas pelo grupo extremista islâmico Hamas na Faixa de Gaza, Maayan Zin pôde aconchegar Dafna Elyakim, de 15 anos, e Ela, de 8. As duas irmãs fazem parte do grupo de 14 reféns israelenses — nove crianças, três adultos e duas idosas — soltos ontem, no terceiro dia de um acordo entre Israel e Hamas, mediado pelo Egito e pelo Catar. Seis das crianças que deixaram o cativeiro estão órfãs: o pai, a mãe ou ambos foram assassinados durante o massacre de 7 de outubro. Ao todo, 177 reféns permanecem em Gaza, incluindo 18 crianças.

Avigail Idan, de 4 anos, de dupla nacionalidade israel-americana, teve pai e mãe executados. Os dois irmãos mais velhos sobreviveram ao se esconderem no guarda-roupa. A menina conseguiu fugir de casa e foi encontrada pelo vizinho Avihai Brodutch, mas acabou sequestrada com os outros integrantes da família dele: Hagar, de 39; e os filhos Ofri, de 10; Yuval, de 8, e Uriah, de 4. Os cinco foram libertados nesse domingo
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Chen Goldstein-Almog, de 48, voltou para casa com os filhos Aga, de 17; Gal, de 11, e Tal, de 8. Mas não poderão receber o carinho do marido e pai, Nadav, e de Yam, a outra filha do casal, mortos pelo Hamas. Dafna e Ela foram levadas do kibbutz de Nir Oz.

Enquanto a troca de reféns por prisioneiros se desenrolava, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, visitava pela primeira vez o front, na Faixa de Gaza. Em discurso para os soldados, ele garantiu que a guerra prosseguirá "até a vitória". "Temos três objetivos: eliminar o Hamas, trazer de volta todos os nossos sequestrados e garantir que Gaza não se torne novamente uma ameaça para Israel", declarou, segundo um vídeo publicado por seu gabinete. O premiê também entrou em um túnel construído pelo Hamas.


Após a nova rodada de solturas, 58 reféns recuperaram a liberdade. Uma das israelenses libertadas, Elma Avraham, de 84 anos, precisou ser transferida de helicóptero para o Hospital Soroka, em Beer Sheva. Até a noite de ontem, ela corria risco de morte.


Como parte do acordo, Israel libertou mais 39 prisioneiros palestinos — 117 desde sexta-feira.


Alegria com tristeza

Porta-voz do kibbutz de Kfar Aza, onde residiam quatro famílias libertadas ontem, Hagar Yechiely, de 53 anos, disse que os sobreviventes do atentado experimentam sentimentos contraditórios. "Estamos contentes com a libertação, mas essa felicidade não estará completa até que todos os sequestrados voltem para Israel", contou. Dos 14 israelenses soltos pelo Hamas, ontem, dez são de Kfar Aza. Nove moradores seguem em poder dos extremistas. Antes dos atentados, o kibbutz tinha uma população de cerca de 900 pessoas - 62 foram assasssinadas durante a invasão.

Cerca de 250 membros do kibbutz acompanharam por um telão a libertação dos amigos, no Hotel Shefayim, perto de Tel Aviv e a duas horas e quinze minutos de Kfar Aza. "As duas mães das crianças voltaram em segurança e estão bem. Muito terá de ser feito depois que elas descansarem, começarão a reconstruir suas vidas", afirmou Hagar.

Mahmoud Mardawi, membro da Liderança Política do Hamas, negou que Netanyahu tenta entrado no enclave palestino. "Ele visitou o exército da ocupação na borda de Gaza, não dentro de Gaza. Ele abordou os componentes belicosos de sua entidade, sabendo que estamos preparados para as piores possibilidades e que avançaremos até alcançarmos nossos objetivos", afirmou ao Correio.

De acordo com Mardawi, desde o início, o Hamas afirmou que "os reféns não são tanto um alvo, mas sim um meio de extrair os prisioneiros" palestinos. "A escassez de materiais básicos e terapêuticos para operar em hospitais, padarias, dispensários, lares de idosos e incubadoras exige uma trégua. Entregar e receber prisioneiros e detidos exige condições que não podem ser realizadas sob o bombardeio de tanques, artilharia e aeronaves. A troca exige condições de estabilidade".

O líder do Hamas frisou que a posição do grupo era clara: ou acordo seria completado em etapas ou de uma só vez. "Em todos os casos, durante a implementação, são necessárias condições adequadas", observou. "O acordo para a troca de prisioneiros é claro, os textos são rígidos, mas o inimigo sempre tenta enganar e manobrar para conseguir o que fracassou em ter por meio de negociações ou dos canhões. A trégua não é frágil, mas o inimigo não demonstra compromiso", concluiu.


RECEPÇÃO

Uma multidão tomou as ruas de Ramallah, na Cisjordânia, para acompanhar a chegada dos ônibus do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) com os 39 prisioneiros palestinos. Bandeiras do Hamas do Fatah, as duas principais facções palestinas, eram agitadas com entusiasmo por jovens — alguns deles chegaram a ficar em pé sobre os veículos. Em Silwan, bairro de Jerusalém Oriental, os irmãos Qassam e Nasrallah Al-war foram recebidos com festa por IIyad Al-Awar, depois de anos presos em Israel.

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