Sultan Al Jaber prometeu que a COP28 por ele presidida seria "diferente" e não mentiu. Pela primeira vez em uma conferência sobre o clima da ONU, os países reunidos adotaram, nesta quarta-feira (13) em Dubai, uma decisão que abre uma via para o "início do fim das energias fósseis".
Sultan al Jaber, um emiradense de 50 anos, vangloriou-se de ser o primeiro empresário a presidir uma conferência da ONU sobre mudança climática, depois de 27 ministros, ou diplomatas.
E, finalmente, seu papel como diretor da companhia petroleira estatal permitiu-lhe forjar um acordo com os países do Golfo hostis a renunciar à riqueza do petróleo bruto.
Prometeu, repetidamente, um acordo "sem precedentes" em Dubai.
Nesta quarta-feira, os delegados dos países se puseram de pé e aplaudiram a adoção do acordo final, apesar das reservas de alguns Estados.
Quando foi nomeado para presidir a conferência no início do ano, pareceu surpreso, ou fingiu estar. Muitos críticos acusaram-no de ter conflito de interesses, após sua decisão de manter o cargo como diretor da petroleira Adnoc.
Nunca um presidente da COP foi escrutinado dessa forma. Muito desconfiado em relação à imprensa e cercado de dezenas de profissionais de comunicação contratados a preço de ouro, deu poucas entrevistas este ano. Os jornalistas da AFP se reuniram com ele uma primeira vez, em privado, antes de obterem permissão para entrevistá-lo em julho.
"As pessoas que me acusam de conflito de interesses não conhecem minha trajetória", disse ele à AFP na entrevista em Bruxelas, no referido mês.
"Dediquei grande parte da minha carreira ao desenvolvimento sustentável", defendeu.
- Chefe da Adnoc -
Sultan al Jaber, engenheiro de formação, que frequentou universidades californianas e britânicas, fez carreira no setor energético. Hoje, é ministro da Indústria e de Tecnologias Avançadas dos Emirados Árabes Unidos e representante do país para o clima.
Em 2006, tornou-se o primeiro presidente da empresa nacional de energias renováveis Masdar, cujo conselho de administração preside. Dez anos depois, foi nomeado diretor-geral da Adnoc com a missão de "descarbonizar" a empresa e "prepará-la para o futuro", segundo ele.
"Toda a minha vida está organizada em torno de indicadores-chave de desempenho. É assim que administro minhas empresas", disse à AFP.
"Pragmático" e "realista", seu papel é "oferecer" resultados "reais" para "manter a meta de 1,5°C [de aquecimento do planeta] ao alcance".
Pouco antes do início da COP28, a BBC e o Center for Climate Reporting (CCR) publicaram relatórios internos da presidência da cúpula. Estes documentos que preparavam as reuniões da COP com governos estrangeiros incluíam, sistematicamente, argumentos comerciais para Adnoc e Masdar.
"Al Jaber indicou claramente que a indústria do petróleo e do gás teria um lugar de escolha na COP", escreveu em novembro para a AFP o senador democrata americano Sheldon Whitehouse, que chamou a atenção da ONU, em duas ocasiões, pela influência dos grupos de pressão.
Também teve de defender várias vezes que acredita na ciência climática, após uma acalorada reunião sobre o assunto com Mary Robinson, a presidente do Grupo de Sábios, o que afetou sua imagem.
Com o passar do tempo, seu pertencimento ao mundo dos hidrocarbonetos, assim como sua meticulosa preparação para o evento de Dubai, acabaram convencendo.
- "Desculpas" -
Durante a conferência, muitos participantes consideraram a organização incomparável à COP27 do ano passado, realizada no Egito.
"É muito direto, ouve", diz Harjeet Singh, um veterano dessas cúpulas que fala em nome da Climate Action Network, uma rede de 1.900 organizações.
A COP28 começou com força com a adoção, desde o primeiro dia, de uma decisão muito complicada sobre a implementação de um fundo de perdas e danos para os países vulneráveis.
Ao longo da cúpula, quase nenhum participante questionou sua legitimidade, mesmo entre as ONGs, cujas críticas se dirigiram, essencialmente, para grupos de pressão das energias fósseis e para países como a Arábia Saudita.
Um primeiro ponto de inflexão aconteceu em junho, em Bonn, quando o emiradense afirmou que a redução das energias fósseis é "inevitável".
Há meses, e em Dubai, ele ressalta, em todos os discursos, seu compromisso com o objetivo inscrito no Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C em relação ao período pré-industrial.
Nunca pediu diretamente, porém, o abandono dos combustíveis fósseis, insistindo em que eram as "partes" que deveriam negociar entre si.
Os críticos de Sultan al Jaber "devem-lhe desculpas", disse o ministro dinamarquês do Clima, Dan Jørgensen, nesta quarta-feira, após o acordo final, elogiando sua "transparência".
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