Aliados do Irã, os rebeldes huthis do Iêmen afirmaram, nesta terça-feira (19), que continuarão a atacar navios mercantes no Mar Vermelho, depois de Washington ter anunciado a formação de uma coalizão internacional para proteger essa importante rota comercial, considerada sob "ameaça".

Nas últimas semanas, os rebeldes lançaram uma série de ataques com drones e mísseis contra navios no Mar Vermelho, em resposta aos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza. 

Dada a gravidade das agressões, várias das mais importantes companhias marítimas do mundo suspenderam o trânsito de seus navios por este corredor, que conecta o Mediterrâneo ao Oceano Índico e, portanto, a Europa à Ásia. 

Estes ataques "sem precedentes" representam uma "ameaça" ao comércio global, advertiu nesta terça o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, segundo o secretário de Imprensa do Pentágono, general de brigada Pat Ryder, em um comunicado. 

Ontem, o secretário americano anunciou a formação de uma coalizão internacional para proteger navios e enfrentar ataques. A aliança reúne Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido, Bahrein, Canadá, Itália, Holanda, Noruega e ilhas Seychelles.

Apesar do anúncio, os rebeldes huthis - que tomaram a capital do Iêmen e grandes partes do território - garantiram que vão continuar seus ataques. 

Em torno de 40% do comércio mundial transita pelo Estreito de Bab Al Mandab, o corredor que liga o Chifre da África à Península Arábica, onde os huthis aumentaram seus ataques. 

- "Militarizar o mar" -

"Mesmo que os Estados Unidos consigam mobilizar o mundo inteiro, nossas operações militares não vão parar (…), não importam os sacrifícios que isso exija de nós", disse o alto comandante rebelde Mohammed al Bujaiti, na rede social X. 

Segundo ele, esses ataques vão parar apenas "se Israel acabar com seus crimes, e comida, remédios e combustível chegarem à população sitiada" da Faixa de Gaza. 

O porta-voz rebelde, Mohamed Abdul Salam, acrescentou que "a coalizão formada pelos Estados Unidos busca proteger Israel e militarizar o mar". 

"Qualquer um que pretenda expandir o conflito deve assumir as consequências dessas ações", completou. 

Os rebeldes huthis lançaram mais de 100 ataques com drones e mísseis contra 10 navios mercantes, de acordo com o Pentágono. 

"Os países que buscam defender o princípio fundamental da liberdade de navegação devem se unir para enfrentar o desafio colocado por este ator não estatal", disse Austin, em um comunicado divulgado na segunda-feira. 

- Espanha não participa "unilateralmente" -

A Espanha declarou, nesta terça, que sua participação na coalizão será no âmbito da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia, mas não "unilateralmente", conforme mensagem do Ministério espanhol da Defesa à AFP. 

A Itália anunciou, por sua vez, que enviará a fragata multimissão "Virgilio Fasan" ao Mar Vermelho "nas próximas horas", de acordo com uma nota de seu Ministério da Defesa. 

O destróier britânico "HMS Diamond" se juntou à coalizão, anunciou o respectivo Ministério da Defesa, após uma reunião virtual de mais de 20 países. O navio se soma a uma força que conta, no momento, com três destróieres americanos e com uma fragata francesa.

Na segunda-feira, os rebeldes assumiram a responsabilidade por novos ataques contra dois navios - o norueguês "Swan Atlantic" e o "MV Clara". 

Para analistas, a margem de manobra da coalizão anunciada por Washington poderá ser limitada face aos ataques dos huthis, que dispõem de um arsenal de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro e aviões tripuladas. 

“Os huthis dispõem  de um amplo arsenal de diferentes drones e mísseis que podem disparar (…) e alguns deles serão difíceis de interceptar por um navio de Marinha de médio", disse à AFP o professor Andreas Krieg, da King's College, de Londres.

Os preços do petróleo caíram ligeiramente nesta terça, após o anúncio dos EUA. Por volta das 12h30 GMT (9h30 em Brasília), o preço do Brent perdia 0,24%, a US$ 77,76, enquanto seu equivalente americano, o WTI, recuava 0,29%, a US$ 72,26.

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