O governo da Nicarágua cancelou, nesta quarta-feira (20), o estatuto jurídico de 10 ONGs, incluindo uma de religião evangélica que, segundo a polícia, operava como "fachada" para lavagem de dinheiro e pela qual três americanos são investigados.

A organização "Puerta de la Montaña" e as nove ONGs não cumpriram a lei e "não reportaram, por períodos entre um até 12 anos, seus status financeiros de acordo com os períodos fiscais, com detalhamento de receitas e despesas", segundo uma resolução do Ministério da Governança (Interior) publicada no jornal oficial La Gaceta.

Os bens das organizações passam agora para as mãos do Estado, de acordo com uma lei que regulamenta estas associações, em vista da resolução assinada pela ministra María Amelia Coronel Kinloch.

Puerta de la Montaña estava registrada desde abril de 2015 e, segundo o Ministério da Governança, dificultou o controle estatal "ao não promover políticas de transparência na administração" desta ONG.

A polícia informou na segunda-feira que deteve 11 nicaraguenses e está investigando três americanos por suposta lavagem de dinheiro através da organização para adquirir bens no país centro-americano.

Os americanos John e Jacob Britton Hancock, presidente e membro da instituição, respectivamente, chegaram à Nicarágua em 2013 financiados por seu compatriota Bruce Wagner, para se estabelecerem como uma organização religiosa evangélica.

Entre outras ONGs canceladas, estão outras de caráter religioso como as associações Apostólica Atos 22:16, o Ministério Internacional de Restauração Berea, o Instituto Internacional Bíblico Thompson, a Ponte da Esperança Internacional e a Igreja Cristã Ministério Internacional Crescendo em Graça. 

Também estão incluídos o Movimento Comunal Nicaraguense e a Associação Mútua Rural, bem como organizações agrícolas como a União Nacional Agropecuária de Produtores Associados e Criadores de Gado Brahman da Nicarágua.

O Ministério também aprovou o fechamento por "dissolução voluntária de membros" de outras três ONGs.

A Nicarágua endureceu as leis sobre as organizações não-governamentais após as manifestações de 2018 que, em três meses de bloqueios de ruas e confrontos entre opositores e apoiadores do governo, deixaram mais de 300 mortos, segundo a ONU. 

Entre as quase 3.500 organizações fechadas desde 2018 estão várias ligadas à Igreja Católica, como a ordem dos Frades Menores Franciscanos em outubro e a Companhia de Jesus em agosto, depois de terem confiscado a Universidade Jesuíta de Manágua sob acusações de "terrorismo", além de uma residência para padres adjacente ao campus.

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