Um documento divulgado nesta quinta-feira (21) indicou que pelo menos 2.056 menores foram vítimas de abusos sexuais dentro da Igreja Católica na Espanha, de acordo com uma auditoria realizada por um escritório de advocacia a pedido da instituição religiosa. 

O número está significativamente abaixo do estimado em um balanço realizado por uma comissão independente coordenada pela Defensoria do Povo, divulgado no final de outubro, no qual o número de vítimas poderia ultrapassar 200.000.

Os resultados da auditoria, entregues no último final de semana à Conferência Episcopal (CEE), quase dois anos após a encomenda, estão incluídos na atualização de um documento sobre as medidas tomadas pelos religiosos diante dos abusos a menores.

No entanto, a CEE ainda não publicou a auditoria na íntegra, comprometendo-se a torná-la pública em uma data futura.

"Em conclusão, das denúncias, deduz-se 2.056 vítimas no mínimo, embora seja objetivamente evidente que o número é superior", afirmou a CEE em seu documento, citando o relatório do escritório de advocacia Cremades & Calvo Sotelo.

A auditoria, que relata 1.383 denúncias "desde 1905 até o presente", mas não especifica o número de religiosos envolvidos nos crimes, destaca que o perfil das vítimas "é predominantemente masculino", que os abusos ocorreram principalmente em "colégios e seminários" e foram cometidos por padres ou professores.

A auditoria foi encomendada em fevereiro de 2022 pela CEE, sendo a primeira investigação sobre o tema realizada pela Igreja Católica espanhola - criticada por anos de omissão às vítimas. O prazo inicial era de um ano, mas foi prorrogado.

O relatório da comissão independente coordenada pela Defensoria do Povo incluiu um questionário que indicava que 0,6% da população adulta espanhola, mais de 200.000 pessoas no total de 39 milhões, na época, afirmou ter sofrido abusos sexuais por religiosos católicos quando eram menores.

A porcentagem aumenta para 1,13% da população adulta, equivalente a mais de 400.000 vítimas, se considerados os abusos cometidos por laicos em ambientes religiosos.

O relatório da Cremades & Calvo Sotelo recomenda à CEE "reconhecer o dano causado", adotar "medidas de prevenção" para evitar repetições e fornecer às "vítimas recursos de qualidade para reparar o dano".

A CEE afirma ter implementado protocolos de ação contra abusos, escritórios de "proteção de menores" e que já reparou algumas vítimas.

A Espanha é um país com uma tradição religiosa enraizada, onde cerca de 55% da população se identifica como católica, e 1,5 milhão de crianças estudam em aproximadamente 2.500 escolas católicas.

Ao contrário da França, Alemanha, Irlanda, Austrália e dos Estados Unidos, a Espanha nunca havia realizado uma investigação sobre a pedofilia no clero até recentemente.

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