Juiz bate martelo; salários são altos, mas há reclamações -  (crédito: Pixabay)

O erro no sistema judiciário contra não brancos não é exclusividade de Boston. Nos últimos anos, outras cidades dos Estados Unidos têm lidado com condenações equivocadas

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A prefeita de Boston, Michelle Wu, emitiu formalmente nesta quarta-feira (20/12) um pedido de desculpas a dois homens negros acusados injustamente pelo assassinato de uma mulher branca grávida em 1989. Na época, o caso teve grande repercussão e intensificou a disparidade racial da cidade.

 

O anúncio oficial foi feito em uma entrevista coletiva após uma profunda investigação do caso para uma série da HBO ("Murder in Boston: Roots, Rampage & Reckoning", indisponível no catálogo brasileiro). 

 

Wu entregou em mãos o pedido de desculpas a Alan Swanson, 63, um dos homens condenados, e a familiares de Willie Bennett, 73, o outro homem preso equivocadamente. Em geral, Bennett não fala sobre o caso e, segundo o jornal americano The New York Times, ele tem problemas de saúde. 

 

 

Primeira pessoa não branca a assumir a prefeitura de Boston, Wu disse que ações como essa são apenas o começo de uma jornada de responsabilidade e ação. "A todos os moradores negros, peço desculpas não apenas pelo abuso que nossa cidade cometeu, mas pelas crenças e preconceitos que levaram a isso em primeiro lugar", afirmou.

 

O erro no sistema judiciário contra não brancos, no entanto, não é exclusividade de Boston. Nos últimos anos, outras cidades dos Estados Unidos têm lidado com condenações equivocadas.

 

Em 2014, na cidade de Nova York, por exemplo, foi feito um acordo de US$ 41 milhões em um processo movido por cinco negros e latinos que foram acusados por engano de estuprar uma mulher branca em 1989 no Central Park. O caso também foi retratado em uma série, "Olhos que Condenam", da Netflix.

 

Outro caso é o de Maurice Hastings, homem negro que foi condenado injustamente por roubo, violência sexual e homicídio em Los Angeles, na Califórnia, em 1983, e após 38 anos detido, foi declarado inocente em março deste ano. 

 

Alan Swanson e Willie Bennett nunca foram acusados formalmente pelo assassinato de Carol Stuart, mas foram presos e vistos como suspeitos pela imprensa após Charles Stuart, marido da vítima, dizer à polícia que ela havia sido assassinada por um homem negro.

 

Na época, Stuart disse ter sido sequestrado junto com a esposa e que ambos foram baleados. O relato gerou comoção e uma intensa caça ao possível assassino. A polícia chegou a Swanson e Bennett, e ambos foram detidos. 

 

Dias mais tarde o irmão de Charles Stuart confessou que a história havia sido inventada e que ajudou a esconder a arma do crime. O responsável pelo assassinato foi o próprio marido da vítima, que acabou se suicidando para não responder pelo homicídio. As investigações apontaram que ele queria se apossar do seguro de vida da esposa. 

 

A polícia de Boston foi fortemente criticada pela atuação no caso. Um comissário de polícia da cidade, Michael Cox, concordou com o pedido de desculpas da prefeita e disse que o departamento ainda tem um longo caminho a percorrer. 

 

A família de Bennett processou a cidade de Boston e recebeu cerca de US$ 12 mil (R$ 58,5 mil, na cotação atual) em indenização. 

 

Joey, sobrinho de Bennett, disse na entrevista coletiva desta quarta que as acusações traumatizaram várias gerações de sua família e que Swanson nunca mais foi o mesmo. "Espero que possamos seguir em frente de forma positiva a partir deste momento." 

 

"Só queremos expressar nossa gratidão à prefeita Wu pelo pedido de desculpas. Sua coragem em reconhecer os erros da polícia de Boston é algo que respeitamos e apreciamos profundamente. Suas desculpas foram aceitas", acrescentou Joey. 

 

Em sua campanha em 2021, Wu defendeu temas como moradia, ambiente, equidade racial e transporte público gratuito, prometendo priorizar a "estabilidade habitacional" das famílias de Boston. Para lidar com as consequências do racismo institucional e das históricas políticas discriminatórias da cidade, apresentou medidas com o objetivo de "fechar a lacuna racial das riquezas" e promover "justiça racial e econômica".