O Exército de Israel prosseguiu com os bombardeios nesta quinta-feira (21) na Faixa de Gaza, em particular em Khan Yunis e na passagem de fronteira de Kerem Shalom, ao mesmo tempo que continuam as negociações para obter uma trégua no conflito do país contra o movimento islamista Hamas.

Khan Yunis, a maior cidade do sul do território palestino cercado desde 9 de outubro, onde o Exército israelense anunciou que intensificou suas operações, foi alvo de novos bombardeios, segundo imagens da AFPTV.

O governo do Hamas afirmou que Israel também bombardeou a passagem de fronteira de Kerem Shalom, entre Israel e a Faixa, e matou quatro pessoas, incluindo o diretor do local, Bassem Ghaben.

Israel prometeu destruir o Hamas, que governa a Faixa de Gaza, após os atentados de 7 de outubro do grupo islamista no sul de Israel que mataram quase 1.140 pessoas, segundo um balanço da AFP baseado nas informações divulgadas pelas autoridades do país.

Quase 250 pessoas foram sequestradas pelo grupo islamista, e 129 continuam como reféns em Gaza, segundo Israel

O governo do Hamas anunciou na quarta-feira que as operações militares israelenses deixaram 20.000 mortos no território desde o início da guerra, incluindo ao menos 8.000 menores de idade e 6.200 mulheres.

No campo de batalha, o Exército israelense, que perdeu 137 soldados desde o início das operações terrestres em 27 de outubro, anunciou que sua Força Aérea bombardeou 230 alvos em Gaza nas últimas 24 horas.

Os soldados encontraram armas em uma escola da cidade de Gaza, segundo as Forças Armadas. 

O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos fez um apelo a Israel para que abra uma investigação sobre "a possível perpetração de um crime de guerra" por parte de seu Exército em Gaza. A agência disse ter recebido "informações preocupantes" sobre a morte de "11 homens palestinos desarmados" na Cidade de Gaza.  

- "Todos devem voltar para casa" -

No campo diplomático, os esforços prosseguem em várias frentes para obter uma nova trégua.

No fim de novembro, uma pausa de uma semana nos combates permitiu a libertação de 105 reféns e de 240 palestinos detidos por Israel, assim como a entrada de ajuda no território palestino, cenário de uma crise humanitária catastrófica.

Um dos reféns libertados durante a trégua, Ofir Engel, 18 anos, participou na quarta-feira de uma cerimônia com vários amigos e parentes de reféns no kibutz Beeri, onde foi sequestrado durante o ataque de 7 de outubro.

"Um dos momentos mais difíceis foi quando os terroristas nos deixaram no escuro total, com bombas caindo sem parar ao nosso redor", declarou. "Eu estava lá, e enquanto os reféns estiverem lá, eles estarão em perigo, a todo momento (...) Todos devem voltar para casa agora". 

O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, viajou para o Cairo na quarta-feira para discutir uma nova "trégua provisória de uma semana em troca da libertação por parte do Hamas de 40 prisioneiros israelenses", disse à AFP uma fonte próxima ao movimento islamista.

Ziad al Nakhala, líder da Jihad Islâmica, movimento islamista aliado do Hamas e que também tem reféns em Gaza, deve visitar o Cairo na próxima semana, segundo uma fonte da organização.

De modo paralelo, Israel discute com Catar e Estados Unidos para tentar conseguir uma trégua que resulte na libertação dos reféns.

Com o apoio do Egito e dos Estados Unidos, o Catar atuou como o mediador da trégua de novembro.

Os dois lados mantêm, no entanto, posições muito distantes: o Hamas exige que a interrupção completa dos combates como condição para qualquer negociação sobre os reféns, enquanto Israel, aberto à possibilidade de uma trégua, descarta qualquer cessar-fogo antes da "eliminação total" do Hamas, que governa Gaza desde 2007.

- "Onde estamos seguros?" -

O Conselho de Segurança da ONU deve tentar mais uma vez, nesta quinta-feira, aprovar uma resolução para acelerar o fornecimento de ajuda humanitária a Gaza, mas pode voltar a enfrentar o veto dos Estados Unidos.

Israel rejeitou o termo "cessar-fogo" e, por este motivo, a delegação dos Estados Unidos utilizou duas vezes seu poder de veto para frear resoluções desde o início da guerra.

A ONU continua alertando para a profunda crise humanitária em Gaza, onde metade da população passa fome, e 90% dos moradores ficam, muitas vezes, sem refeição durante o dia, segundo o Escritório para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU.

A maioria dos hospitais da Faixa está fora de serviço, devido aos bombardeios, e 1,9 milhão de pessoas, ou seja, 85% da população, foram obrigadas a abandonar suas casas, segundo as Nações Unidas.

"Onde estamos seguros? Para onde devemos ir?", perguntou um palestino que fugiu do norte do território para Rafah, no sul. "Não há para onde ir, estamos presos", disse à AFP.

A guerra provocou temores de uma escalada regional, com incidentes na fronteira com o Líbano e mísseis dos rebeldes huthis do Iêmen, apoiados pelo Irã, contra navios de carga no Mar Vermelho.

No Líbano, na fronteira norte de Israel, uma idosa morreu em um bombardeio israelense, e seu marido ficou ferido, segundo a agência estatal de notícias ANI. No sul do país, o Hezbollah, aliado do Hamas, executou vários ataques noturnos contra Israel.

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