Israel bombardeou o sul e o centro da Faixa de Gaza nesta sexta-feira (29), enquanto o Egito se prepara para receber uma delegação do movimento islamista palestino Hamas para discutir novas propostas para acabar com a guerra no território palestino sitiado.
O Exército israelense afirmou que suas forças "estão ampliando a operação em Khan Yunis", no sul de Gaza, e que "eliminaram dezenas de terroristas" em todo o território nas últimas 24 horas.
Imagens da AFPTV mostravam fumaça sobre Rafah, na fronteira sul com o Egito, após novos ataques na manhã desta sexta-feira.
Os bombardeios israelenses perto do hospital Al Amal, em Khan Yunis, deixaram 41 mortos nos últimos dois dias, informou o Crescente Vermelho Palestino na quinta-feira (28).
O escritório de direitos humanos da ONU disse que outras 100.000 pessoas deslocadas chegaram à lotada Rafah nos últimos dias, após a intensificação dos combates em torno de Deir al Balah e de Khan Yunis.
A guerra em Gaza, que começou com os ataques do Hamas a Israel em 7 de outubro, deixou grande parte do norte do território em ruínas, ao mesmo tempo em que os combates se estendem para o sul.
Israel prometeu destruir o Hamas em represália pelo ataque, que deixou cerca de 1.140 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números israelenses. Cerca de 250 pessoas foram levadas como reféns e, no momento, pelo menos metade continua em cativeiro.
A intensa ofensiva aérea e terrestre de Israel deixou pelo menos 21.507 mortos, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o último balanço do Ministério da Saúde do Hamas, no poder em Gaza.
Conforme o Exército israelense, 168 de seus soldados morreram na guerra contra esse movimento islamista, classificado como grupo "terrorista" por Israel, pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
- Pouca comida, "muito cara" -
Fontes próximas do Hamas afirmam que o plano egípcio de três fases prevê um cessar-fogo renovável, uma libertação escalonada de reféns em troca de prisioneiros palestinos em Israel e, finalmente, o fim da guerra.
O Exército israelense disse ter enviado brigadas adicionais para Khan Yunis, cidade natal do líder do Hamas em Gaza, Yahya Sinwar, onde jornalistas da AFP relataram intensos ataques aéreos e de artilharia.
"As missões realizadas pelas nossas forças em Khan Yunis não têm precedentes", disse o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, nesta quinta-feira, acrescentando que estão "assumindo o controle de salas e eliminando terroristas".
Mais de 80% dos 2,4 milhões de residentes de Gaza foram deslocados, segundo a ONU, e vivem em abrigos superlotados, ou em barracas improvisadas nos arredores de Rafah.
Desde que Israel impôs um cerco total a Gaza, em 9 de outubro, os moradores sofrem com a falta de alimentos, água, combustível e medicamentos, esporadicamente aliviada por caravanas humanitárias que entram, principalmente, pelo Egito.
Nesta sexta, a Agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês) afirmou que o Exército israelense disparou ontem contra um de seus comboios de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, sem deixar vítimas.
Esta manhã, moradores e deslocados em Rafah lotaram um mercado para comprar alimentos, incluindo frutas frescas, ovos e carne, transportados de caminhão, do Egito, na noite anterior.
É a primeira vez que ovos e alguns tipos de frutas entram em Gaza procedentes do Egito", disse o vendedor Muntasser al Shaer.
"Nos mercados falta todo o tipo de fruta. Há alguns tipos de vegetais, mas são muito caros", acrescentou.
- "Retirada militar completa" -
Na manhã desta sexta-feira, o responsável por ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths, denunciou na rede social X "uma situação impossível para a população de Gaza e para quem tenta ajudá-la".
"Acham que é fácil levar ajuda para Gaza? Pense novamente", escreveu.
Uma autoridade do Hamas disse à AFP, sob condição de anonimato, que a delegação prevista para chegar ao Cairo nesta sexta-feira dará a resposta das facções palestinas, "incluindo várias observações" sobre a proposta egípcia, recentemente apresentada a responsáveis desse movimento islamista e de outro grupo armado de Gaza, a Jihad Islâmica.
O Hamas buscará "garantias para uma retirada militar israelense completa" de Gaza, segundo a mesma fonte.
A proposta também prevê um governo palestino de tecnocratas, após conversas envolvendo "todas as facções palestinas", para governar e reconstruir o território no período pós-guerra.
Diaa Rashwan, chefe dos Serviços de Informação do Egito, disse que o plano "pretende reunir os pontos de vista de todas as partes envolvidas, com o objetivo de acabar com o derramamento de sangue palestino".
A guerra em Gaza também intensificou as tensões entre Israel e seu eterno inimigo, o Irã, que apoia grupos armados em todo o Oriente Médio. Desde o início do conflito, Israel tem trocado intensos disparos transfronteiriços com o Hezbollah libanês, apoiado pelo Irã.
Nesta sexta-feira, o governo israelense disse que seu Exército atacou "infraestruturas do Hezbollah no sul do Líbano", após receber informes de disparos de foguetes procedentes dessa área.
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