Papa Francisco discursava a diplomatas no Vaticano -  (crédito: Filippo MONTEFORTE/AFP)

Papa Francisco discursava a diplomatas no Vaticano

crédito: Filippo MONTEFORTE/AFP

Três semanas após permitir a bênção a casais homoafetivos, decisão celebrada por grupos de direitos humanos, o papa fez nesta segunda-feira (8/1) declarações que tendem a desagradá-los. Francisco criticou a prática da barriga de aluguel e a teoria de gênero.

 

 

Durante um discurso anual de 45 minutos conhecido como "estado do mundo", o argentino pediu que a técnica da gestação de substituição, mais comumente conhecida como barriga de aluguel, seja proibida em todo o mundo, chamando-a de uma prática deplorável e de uma violação dos direitos de mulheres e crianças.

 

"É uma prática baseada na exploração de situações de necessidades materiais da mãe", afirmou ele. "Expresso a minha esperança por um esforço para proibir essa prática universalmente."

 

Francisco, 87, discursava a diplomatas no Vaticano. Suas declarações tendem a despertar críticas de parcelas da população como a comunidade LGBTQIA+, uma vez que a barriga de aluguel é com frequência usada por casais do mesmo sexo que desejam ter filhos.

 

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Existem poucas estatísticas confiáveis sobre essa prática ao redor do mundo. Mas o interesse segue constante uma vez que mais mulheres que desejam ser mães optam por adiar a gravidez e, em alguns casos, deparam-se com problemas de fertilidade.

 

Na Itália, que circunda o Vaticano, a prática da barriga de aluguel é ilegal, por exemplo. E, mais recentemente, a coalizão governista, da primeira-ministra Giorgia Meloni, tem buscado aprovar no Parlamento uma lei adicional que estenderia a proibição também a casais que vão ao exterior realizar o procedimento onde ele é legal.

 

Foi neste mesmo discurso que o líder da Igreja Católica, que lidera uma comunidade de mais de 1,3 bilhão em todo o mundo, reafirmou que o Vaticano condena a teoria de gênero -que propõe que gênero é algo mais complexo e fluido do que as categorias binárias de "masculino" e "feminino", comumente associadas ao sexo de uma pessoa.

 

O papa descreveu a teoria como "extremamente perigosa, pois, em sua reivindicação de tornar todos iguais, anula as diferenças". Ele chamou a teoria de uma espécie de "colonização ideológica", que "provoca feridas e divisões entre os Estados, ao invés de favorecer a construção da paz", segundo descrição de seu discurso feita pela agência de notícias Ansa.

 

Em 2016, o papa já havia dito que a teoria de gênero é um "grande inimigo" do casamento tradicional e da família, uma "guerra global" que teria como meta, "não com armas, mas com ideias", propagar a "colonização ideológica".

 

Em 2019, por sua vez, o argentino afirmou que as escolas deveriam prover educação sexual aos estudantes, "mas sem colonização ideológica". "Se você começar a dar educação sexual repleta de colonização ideológica, você destrói a pessoa", afirmou ele.

 

Em dezembro, o papa fez um aceno importante à construção de uma igreja mais inclusiva, algo pelo que pede desde que assumiu o posto em 2013. Por meio de uma resolução do Dicastério para a Doutrina da Fé, disse que casais gays podem receber a bênção católica, desde que em cerimônias que nada se assemelhem à de um matrimônio. A decisão também deixa a decisão de conceder a bênção ou não concedê-la em aberto, de modo que padres podem se negar a fazê-lo.

 

Vaticano

 

Pouco antes, o Vaticano já havia aberto as portas do batismo para as pessoas trans. Respondendo a questões enviadas pelo bispo italiano José Negri, que lidera a diocese de Santo Amaro, em São Paulo, a instituição afirmou que pessoas transexuais, incluindo aquelas submetidas a tratamento com hormônios e as que passaram por procedimentos de redesignação sexual, podem ser batizadas.

 

A mesma resposta dizia que filhos de casais de pessoas do mesmo sexo, mesmo aqueles gerados por barriga solidária -justamente a prática agora criticada por Francisco-, também podem ser batizados, "desde que sejam educados na fé católica dali em diante".

 

Além disso, a resposta de três páginas a seis perguntas enviadas pelo bispo afirmava que pessoas trans podem ser padrinhos e madrinhas de um batizado, bem como testemunhas de um casamento.