Coca-Cola é usada em rituais religiosos no México -  (crédito: Instagram / tyleroliveiraofficial)

Coca-Cola é usada em rituais religiosos no México

crédito: Instagram / tyleroliveiraofficial

Uma cidade em que é normal tomar um, dois e até três litros de Coca-Cola por dia. Essa é Chamula, cidade do estado de Chiapas, no sul do México. O local chamou a atenção do influenciador Tyler Oliveira, que apresentou o município para seus seguidores e acabou viralizando.

No vídeo, ele mostra que garrafas do refrigerante são deixadas como oferenda nos cemitérios. Um morador de Chamula explicou a Tyler que a bebida é levada para os túmulos para que o falecido possa aproveitar algo que tanto gostava em vida.

Leia também: Stanley confirma presença de chumbo em copos térmicos, mas descarta contaminação

Segundo Tyler, a cidade é a que mais consome Coca-Cola no mundo. E, por isso, possui o maior galpão de armazenamento do refrigerante. Ele também aborda que a cidade tem altos índices de diabetes. Um dos motivos para que o consumo de Coca-Cola ser tão alto é que muitas pessoas tomam a bebida para substituir a água, que é muito cara no local.

Igreja Coca-Cola

Em Chapula, fica a chamada ‘Igreja da Coca-Cola’. O templo, na verdade, se chama São João Batista. Lá, o refrigerante é usado como decoração, serviços religiosos e até para cura. A igreja mistura o catolicismo com a cultura local.

Isso porque uma crença local acredita que arrotar expurga o mal da alma, o que comumente acontece ao se tomar Coca-Cola. O refrigerante substituiu uma bebida alcoólica tradicional, que era usada pelos paroquianos durante as missas.

Mas não é só na religião que a Coca-Cola aparece presente na cultura de Chapula. O logo da bebida está em toda parte: em quadras de esportes, cadeiras, placas de boas-vindas e em bebedouros de escolas. Por lá, é costume os pais darem o refrigerante para os filhos quando as crianças estão doentes.

Escassez de água

O consumo exacerbado da Coca-Cola na região de Chiapas pode ser justificado pela dificuldade em encontrar água engarrafada, que por vezes é mais cara que o refrigerante. Nos arredores da cidade de San Cristóbal, existe uma fábrica de engarrafamento da bebida, que abastece toda a localidade.

Mas, para os ativistas locais, a empresa é a responsável pela escassez de água na região. A fábrica tem permissão de usar mais de 1 milhão de litros de água por dia em um acordo com o governo local.

A Coca-Cola e alguns especialistas, por sua vez, defendem que a empresa tem sido injustamente relacionada à escassez hídrica. A falta de água estaria ligada à rápida urbanização, ao mau planejamento e à falta de investimento governamental, que acabaram com a infraestrutura da cidade.

Leia também: OMS pode condenar consumo de coca-cola zero; saiba por quê

Segundo o vídeo de Tyler, é praticamente impossível deixar de consumir produtos Coca-Cola. Isso porque a marca de água mais popular e facilmente encontrada em Chapula, chamada Ciel, pertence à empresa.

Independente dos motivos para o grande consumo da bebida no local, a região de Chiapas sofre os efeitos da ingestão exagerada de açúcar. Segundo reportagem do jornal "The New York Times", a diabetes mata mais de 3 mil pessoas todos os anos e é a segunda causa de morte no estado, ficando atrás somente das doenças cardíacas.

A conquista do México

Chapula não é uma exceção. A Coca-Cola é extremamente popular em todo o México: em média, um mexicano bebe mais de 700 xícaras da bebida por ano – quase o dobro do que os americanos bebem.

Mas isso não foi sempre assim. A Coca-Cola foi criada em 1886, mas foi só a partir dos anos 1970 que ela ganhou os mexicanos. O responsável por isso foi Vicente Fox, que presidiu a Coca-Cola México. Ele assumiu a empresa em 1964.

No início da década de 1970, uma campanha publicitária internacional para a bebida varreu o México. Na mesma época, a Coca-Cola patrocinou as Olimpíadas da Cidade do México e a Copa do Mundo. A Coca-Cola agora era conhecida por todos, mas ainda custava caro.

Em 1994, o México aderiu ao NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio), o que barateou a bebida. O refrigerante passou a ser usado por comunidades desnutridas, que buscavam calorias na Coca-Cola.

Fox deixou a empresa em 1979. Em 2000, ele se candidatou à presidência do México, cargo que ocupou até 2006. A Coca-Cola fez doações para a campanha do ex-funcionário.