Filho do primeiro governante democrático da Guatemala, o sociólogo Bernardo Arévalo, que tomará posse como presidente no próximo domingo (14), passou de quase desconhecido a símbolo da esperança, em um país cansado da corrução.

Esse ex-diplomata e também filósofo, de 65 anos, avançou em junho, contrariando todas as previsões, ao segundo turno presidencial, que venceu em agosto, contra a candidata conservadora aliada do governismo, prometendo perseguir os corruptos.

Desde então, Arévalo e seu partido, o Movimento Semilla, são alvo de uma ofensiva judicial liderada pelo Ministério Público, que o social-democrata afirma ter sido encomendada pela elite político-empresarial para evitar a sua ascensão ao poder.

Arévalo levantou a voz para denunciar essa arremetida como uma tentativa de golpe de Estado e recebeu o apoio da comunidade internacional e dos jovens e das comunidades indígenas da Guatemala.

Encerrando 12 anos de governos de direita, Arévalo irá substituir Alejandro Giammattei, que seus apoiadores dizem fazer parte do que chamam de “pacto de corruptos”.

- Nova 'primavera' -

Sobre as costas de Arévalo recai o legado de seu pai, Juan José Arévalo (1945-1951), eleito democraticamente após a chamada “Revolução de Outubro”, que pôs fim a décadas de ditaduras.

O mandato de Juan José Arévalo, considerado o melhor presidente da história da Guatemala, e o governo progressista de Jacobo Árbenz foram chamados de “primavera democrática” (1944-1954), com reformas sociais importantes. Mas Árbenz, promotor de uma reforma agrária, foi deposto em 1954, em um golpe de Estado executado pela CIA, encerrando a década democrática na Guatemala, que, devido ao seu clima, é conhecida como “o país da primavera eterna”.

Sete décadas depois, Washington saiu em defesa do filho do ex-presidente diante da perseguição do Ministério Público, que conseguiu inabilitar o Semilla, acusando o mesmo de irregularidades em sua formação como partido.

Evocando uma “nova primavera” para a Guatemala, Arévalo diz que seguirá “o mesmo caminho” que seu pai na luta contra a corrupção, com o objetivo de que as instituições trabalhem pelo desenvolvimento social, em um país onde 60% de seus 17,8 milhões de habitantes são pobres.

Alguns de seus críticos não acreditam que o futuro presidente terá a coragem de seu pai e afirmam que ele é uma pessoa fácil de ser manipulada.

- 'Tio Bernie' no TikTok -

Arévalo nasceu em 7 de outubro de 1958, no Uruguai, onde seu pai se exilou após a queda de Árbenz. Quando criança, também morou em Venezuela, México e Chile, antes de chegar à Guatemala, aos 15 anos.

Estudou sociologia em Israel e filosofia na Holanda. Foi vice-chanceler em 1994-1995 e embaixador na Espanha entre 1995 e 1996, durante o governo do presidente Ramiro de León Carpio, um defensor dos direitos humanos.

Além de espanhol, Arévalo fala inglês, francês, hebraico e português. É especialista em solução de conflitos e foi eleito deputado em 2019, logo após entrar para a política com o Semilla, que fundou com acadêmicos e intelectuais.

Para a vitória de Arévalo nas urnas, foram fundamentais os jovens, que o chamam de “tio Bernie” e compartilham suas mensagens e entrevistas coletivas nas redes sociais, principalmente no TikTok.

O presidente eleito joga xadrez é um amante do jazz. Teve três filhas em seus dois primeiros casamentos e sua atual mulher, a cirurgiã Lucrecia Peinado, também tem três filhos.

“Ele não será um 'Super-Homem', mas, definitivamente, é um homem honesto, de princípios, de valores, que respeita o legado e o nome do pai e é extremamente comprometido com o país", disse Lucrecia ao jornal Prensa Libre em agosto.

Em um país fortemente conservador e religioso, Arévalo, católico, descartou legalizar os casamentos igualitários e o aborto, mas ressaltou que não permitirá a discriminação por motivos sexuais ou religiosos.

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