O massacre de Shakahola, como ficou conhecido o caso de uma seita evangélica no Quênia que levou centenas de fiéis a jejuarem até a morte para "encontrar Jesus" antes do fim do mundo, ganhou mais um capítulo nesta quarta-feira (17).

 

Durante uma audiência na cidade costeira de Melinde, um juiz atendeu a um pedido do Ministério Público para que o líder da seita, Paul Mackenzie, e 30 supostos colaboradores dele fossem submetidos a avaliações de saúde mental antes de serem formalmente acusados.

 

 



 

Na véspera, na última terça-feira (16), promotores haviam anunciado a pretensão de acusar Mackenzie e outras 94 pessoas de terrorismo, assassinato, homicídio culposo e tortura após a morte de 429 seguidores.

 

Mackenzie, vestido com uma camisa polo listrada em branco e azul, permaneceu impassível durante grande parte da audiência. O advogado disse que o autodenominado pastor está cooperando com a investigação.

 

"Após uma análise minuciosa das provas, o diretor de Processos Penais está convencido de que existem provas suficientes para processar 95 suspeitos", afirmou o Ministério Público em um comunicado.

 

O anúncio aconteceu dias depois de um tribunal dar à Promotoria 14 dias para a apresentação de acusações contra o ex-taxista. Os promotores atribuíram os atrasos na apresentação das acusações à tarefa exaustiva e delicada de localizar, exumar e realizar autópsias em tantos restos humanos.

 

Detido em abril do ano passado, quando a polícia começou a desenterrar corpos na floresta de Shakahola, perto da costa do Oceano Índico, Mackenzie teve sua prisão preventiva prorrogada diversas vezes ao longo da investigação. Não ficou claro quando os 95 réus deverão comparecer à Justiça, mas a Promotoria indica que pretende "processar o caso rapidamente".

 

Segundo as investigações, Mackenzie, chefe da Igreja Internacional das Boas Novas, instruía seguidores a deixarem de comer para entrar no céu em 15 de abril ?data em que, segundo ele, o mundo acabaria. O caso ganhou notoriedade no final daquele mês, quando autoridades encontraram dezenas de corpos, em grande parte de crianças, enterrados em Shakahola.

 

As necropsias revelaram que a maioria das vítimas morreu de fome, enquanto outras, incluindo crianças, teriam sido estranguladas, agredidas ou sufocadas. Os exames também revelaram, na época, ausência de órgãos nos corpos das vítimas, o que levantou a suspeita de tráfico de partes humanas.

 

Até o momento, 429 corpos foram encontrados ao longo de meses de exumações em dezenas de milhares de acres de floresta, tornando este um dos piores casos de tragédia relacionada a seitas na história recente do mundo. Alguns dos seguidores de Mackenzie foram resgatados esquálidos da floresta.

 

Pessoas com conhecimento das atividades da igreja disseram à agência de notícias Reuters no ano passado que o líder planejou o ritual em três fases: primeiro as crianças passariam fome, depois as mulheres e os homens jovens, e finalmente os homens restantes.

 

Ex-motorista de táxi, Mackenzie teria proibido os fiéis de enviar seus filhos para a escola e ir ao hospital quando estavam doentes, classificando essas instituições de satânicas, segundo alguns de seus seguidores.

 

As descobertas levaram o governo a levantar a necessidade de estabelecer controles mais rígidos sobre as denominações religiosas, em um país com uma história de pastores autodeclarados. País de maioria cristã, o Quênia tem lutado para regulamentar igrejas envolvidas com atividades criminosas. Existem mais de 4.000 igrejas registradas no país da África Oriental que tem 53 milhões de habitantes, segundo dados oficiais.

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