Os países andinos deram um passo em frente na luta contra o narcotráfico e outras formas de crime organizado, anunciando no domingo (21) a primeira rede de segurança interfronteiriça contra gangues transnacionais, ante a expansão da violência do tráfico de drogas no Equador. 

A rede andina de segurança vai operar "24 horas por dia, 7 dias na semana" a partir do primeiro trimestre deste ano, segundo um acordo assinado pela Comunidade Andina de Nações (CAN) ao final de uma reunião extraordinária de ministros em Lima. 

Esse organismo de cooperação e Inteligência fornecerá e receberá "informações de outros países (...) sobre a atividade de grupos criminosos que tenham, ou possam chegar a ter, operação transnacional", afirma o compromisso de Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. 

Da mesma forma, alertará, "imediatamente, sobre atos relevantes cometidos" por essas organizações, mesmo se "tiverem sido cometidos dentro de um único país participante". 

A ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, saudou o acordo, destacando que ele combate o "medo" que tomou conta dos países em sua luta contra o crime organizado. 

"Fizemos história, escrevemos um novo capítulo na CAN", disse, exultante, a chefe da diplomacia de Quito. 

"O medo paralisa os países. Vimos que o medo da sociedade civil paralisou o Equador, paralisou os investimentos, aumentou o desemprego e a migração", comentou a chanceler. 

- "Não existe país seguro" - 

Mergulhado em sua pior crise de segurança, com centenas de mortos, motins em prisões e ataques com explosivos, o Equador enfrenta há algum tempo o desafio imposto por cerca de 20 grupos de tráfico de drogas. 

O governo do jovem presidente equatoriano, Daniel Noboa, de 36 anos, declarou guerra aberta a essas organizações e mobilizou as forças militares para conter a investida das facções que praticamente tomaram o controle do presídios, transformando-os em seu centro de operações. 

Apenas no domingo, as autoridades detiveram 68 supostos pistoleiros de uma organização que tentou, sem sucesso, tomar conta de um hospital, para proteger um de seus membros levado ferido para o estabelecimento.

Como resultado da violência no Equador, Peru e Colômbia reforçaram a vigilância em suas fronteiras com o Equador, para evitar a eventual entrada de membros de gangues que tentam fugir da perseguição militar e policial. 

No início da reunião do domingo, o governo peruano encorajou seus pares a tomarem medidas contundentes contra o crime organizado. 

"Essa realidade nos obriga a agir de forma coordenada. Não há país seguro, se o vizinho sofre o ataque insano desses grupos. Esse problema deve ser enfrentado com contundência", declarou o chefe da Casa Civil do Peru, Alberto Otárola. 

A presidente Dina Boluarte participou da abertura do encontro que reuniu os chanceleres do Peru e do Equador, bem como o ministro de Governo da Bolívia e o vice-ministro das Relações Exteriores da Colômbia. 

- Mineração ilegal na mira - 

Localizado entre Colômbia e Peru, os maiores produtores mundiais de cocaína, o Equador conseguiu durante décadas ficar isento da violência do tráfico de drogas, mas esses grupos transformaram o que era apenas um território de passagem e de armazenamento de cocaína em um centro de operações e logística para o envio da droga, principalmente para a Europa. 

Nos últimos cinco anos, no Equador a taxa de homicídios a cada 100.000 habitantes aumentou de 6 para 46 em 2023. Das prisões, as redes de drogas espalharam o terror nas ruas e nos portos. 

"O crime transnacional organizado ataca agora a democracia e a ordem interna de todos os nossos países. Isto requer uma ação conjunta entre os países da CAN", defendeu Boluarte. 

Além da rede andina de segurança, a CAN anunciou no "menor prazo possível" ações policiais ou militares coordenadas contra "ilícitos transnacionais". 

Nesse sentido, prevê realizar, no primeiro trimestre do ano, "uma operação conjunta e coordenada contra a mineração ilegal, com ênfase nas zonas fronteiriças, devido à sua conexão com o financiamento de grupos criminosos organizados", afirma a declaração de Lima. 

A reunião de emergência em Lima contou com a presença do chanceler peruano, Javier González-Olaechea; da ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld; do ministro de Governo da Bolívia, Carlos Eduardo Del Castillo; e do vice-chanceler colombiano, Francisco Coy. 

"As dificuldades de segurança que o Equador enfrenta não são apenas do Equador, são de toda a região. É um fenômeno que está atacando todos", observou o representante colombiano.

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