Os produtores de coca (cocaleiros) bloquearam, nesta quarta-feira (24), várias estradas na Bolívia, pelo terceiro dia consecutivo, para exigir a renúncia dos juízes que inabilitaram o ex-presidente Evo Morales como candidato às eleições presidenciais de 2025. 

Com pedras, troncos e pneus em chamas, os manifestantes interrompem o trânsito nas rodovias dos departamentos de Cochabamba, Oruro, Potosí e La Paz. 

A Administradora Boliviana de Rodovias relatou 16 pontos de bloqueio, a maioria em Cochabamba, berço político do ex-presidente Morales (2006-2019). 

"Isso vai crescer, está apenas começando e outras regiões e outros pontos vão se juntar", alertou Humberto Claros, líder dos cocaleiros, em declarações à imprensa. 

A federação de agricultores do departamento de Santa Cruz, motor econômico do país, anunciou em comunicado que se juntará ao protesto, que começou na segunda-feira.

Os apoiadores de Morales entraram esporadicamente em confronto com a polícia, que usou gás lacrimogêneo. Até o momento, não foram registrados feridos ou detidos.

O protesto foi convocado em repúdio a uma recente decisão do Tribunal Constitucional, que impede Morales de apresentar novamente sua candidatura, com o argumento de que já cumpriu os dois mandatos permitidos pelas normas.

O líder máximo dos cocaleiros ocupou a Presidência entre 2006 e 2019, quando foi forçado a renunciar devido a uma revolta social que denunciou sua suposta tentativa de fraude eleitoral para obter um quarto mandato. 

Os agricultores exigem a renúncia dos juízes dos tribunais superiores cujos mandatos foram prorrogados, na ausência de um acordo político para convocar eleições judiciais no ano passado.

Em coletiva de imprensa, o ministro da Justiça, Iván Lima, rejeitou a tentativa dos agricultores de "proteger uma única pessoa que só pensa em si mesma". 

Referindo-se também a Morales, a ministra da Presidência, María Nela Prada, afirmou que "a verdadeira intenção dos bloqueios é impor uma candidatura". 

O ex-presidente de esquerda denunciou na rede social X que o governo "reprime e ameaça criminalizar o protesto social". 

As manifestações – que o governo qualifica de "sabotagem" – causam prejuízos diários de 128 milhões de dólares (636,2 milhões de reais, na cotação atual), segundo estimativas do Ministério da Economia.

A empresa estatal aérea de transporte habilitou voos para os passageiros que ficaram parados pelos bloqueios.

O protesto marca um novo ponto na disputa de  Morales com o presidente Luis Arce, seu ex-ministro da Economia e ex-aliado.

Os dois dirigentes disputam o apoio da situação para as presidenciais de 2025, para as quais Arce ainda não anunciou sua intenção de tentar a reeleição.

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