Um tribunal de Hong Kong ordenou nesta segunda-feira (29) a liquidação do endividado grupo imobiliário chinês Evergrande, por considerar que não apresentou um plano convincente de reestruturação.

A decisão da juíza Linda Chan do Alto Tribunal de Hong Kong inicia um processo que inclui a liquidação dos ativos da empresa e substitui os executivos do grupo para tranquilizar os credores.

Evergrande, a maior incorporadora imobiliária da China, acumulou dívidas e registra um passivo de mais de 300 bilhões de dólares (1,475 trilhão de reais).

O credor Top Shine Global apresentou em 2022 um pedido de liquidação da Evergrande, mas o caso se arrastava enquanto as duas partes tentavam negociar um acordo.

"Diante da óbvia ausência de avanços por parte da empresa para apresentar uma proposta de reestruturação viável (...) considero apropriado que o tribunal emita uma ordem de liquidação contra a empresa e assim a ordeno", decidiu a juíza Chan.

Ela recordou que, em uma audiência de dezembro, o tribunal "deixou muito claro que esperava ver uma proposta viável devidamente formulada".

A Evergrande deveria discutir a proposta revisada com os credores, obter uma opinião jurídica e consultar as autoridades chinesas, "mas nada disso aconteceu", afirmou Chan.

Na sentença, Chan escreveu que os interesses dos credores seriam "melhor protegidos" se a empresa fosse dissolvida e liquidantes independentes pudessem administrar o grupo para proteger os ativos e reestruturar da maneira necessária.

Edward Middleton e Tiffany Wong, do escritório de advocacia Alvarez & Marsal, foram nomeados por Chan como liquidantes.

O CEO da Evergrande, Shawn Sui, chamou a decisão do tribunal de "lamentável".

O advogado da empresa, Jose-Antonio Maurellet, defendeu nesta segunda-feira a última proposta da empresa, rebateu as acusações de que o grupo agiu de má-fé e afirmou que o grupo chinês havia "suavizado" os termos do acordo.

- Crise imobiliária -

Após a audiência, um advogado que representa os credores da Evergrande disse que a empresa "é a única responsável pela liquidação".

As ações da empresa registraram queda expressiva de 20% na Bolsa de Hong Kong e as negociações de seus títulos foram interrompidas.

A cotação da filial de veículos elétricos do grupo também foi interrompida.

A decisão judicial, no entanto, não provocou um grande impacto nos mercados asiáticos em geral, com altas nas Bolsas de Hong Kong e Xangai.

A Evergrande, que já foi o maior grupo imobiliário da China, registrou dívidas elevadas e suas dificuldades viraram o símbolo da crise imobiliária que o país enfrenta há anos.

O setor da construção e imobiliário da China já foi responsável por 25% do PIB do país.

O presidente Xi Jinping, no entanto, considerou que o nível de endividamento da Evergrande e de outras empresas era um risco inaceitável para a saúde econômica da China.

Desde 2020, o governo limitou o acesso das incorporadoras imobiliárias ao crédito, o que provocou uma onda de default.

No final de junho, a Evergrande calculou que suas dívidas alcançavam 328 bilhões de dólares.

Shane Oliver, analita da empresa de serviços financeiros AMP, considerou a decisão um "novo passo" na crise imobiliária chinesa.

"Não provocou a grande calamidade que muitos temiam, mas, ao mesmo tempo, também não solucionou", disse.

"A crise imobiliária está longe de ser resolvida e permanece como um fardo para a economia chinesa", concluiu.

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