A música pop "Zorra" - vadia, em tradução literal -, que se apropria de um insulto machista e representará a Espanha no Eurovision, revoltou grupos feministas, embora o governo espanhol tenha saído em defesa.

No último sábado (3), a música techno-pop da dupla valenciana Nebulossa foi selecionada para competir pela Espanha no concurso musical que acontecerá em maio, em Malmo, na Suécia.

"Já sei que sou apenas uma vadia", "já sei que não sou quem você quer", "se saio sozinha, sou a vadia", "vou sair na rua para gritar o que sinto", "e essa vadia que você tanto tinha medo foi se empoderando", são alguns dos versos cantados pela dupla de María Bas e seu parceiro, o tecladista Mark Dasousa.

"Fui chamada muitas vezes de 'zorra' (vadia). Essa música é uma maneira de transformar essa palavra em algo bonito. Por que o 'zorro' é algo bom e a 'zorra' algo ruim? Ser uma 'zorra' é saber o que se quer", explicou a artista, de 55 anos, ao canal público.

No entanto, a música foi rejeitada por várias associações feministas espanholas, que chegaram a solicitar sua retirada do Eurovision.

"A composição insulta de forma machista as mulheres" e "é um absurdo fingir eliminar a ofensa" afirmando que "repetir insistentemente a palavra vadia" é um "empoderamento da mulher", protestou em comunicado o Movimento Feminista de Madri.

A polêmica chegou até o presidente do governo espanhol, o socialista Pedro Sánchez, que se pronunciou.

"Parece-me que o feminismo, não apenas é justo, mas também é divertido, e, portanto, esse tipo de provocações deve necessariamente vir da cultura", disse na segunda-feira à rede La Sexta.

A ministra da Igualdade, Ana Redondo García, também defendeu esta "música divertida (...) que também quebra estereótipos".

A União Europeia de Radiodifusão, organizadora do Eurovision, disse entender "que há muitas interpretações para o título da música", mas afirmou que "é adequada para participar do concurso deste ano".

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