Múltiplas câmeras giratórias dominam os quatro cantos do terraço de Um Naser em Hebron, na Cisjordânia ocupada. "Eles monitoram todos os nossos movimentos", diz esta palestina, para quem a vigilância da inteligência artificial se tornou "mais difícil desde a guerra" entre Israel e o Hamas.
"Psicologicamente estou exausta", admite esta mulher de 55 anos, que vive acima do posto de controle de Abu al Rish, um ponto de tensão no centro de Hebron.
É um dos vários postos ocupados por soldados israelenses que separam as ruas palestinas dos enclaves de colonos judeus na cidade velha, onde se encontra um disputado local sagrado.
Conhecido pelos muçulmanos como a Mesquita de Ibrahim e pelos judeus como o Túmulo dos Patriarcas, este templo dividido em duas partes é venerado por ambas as religiões.
Dezenas de soldados israelenses fortemente armados guardam o local com o apoio de câmeras de segurança.
Um Naser conta que a vigilância reforçada por ferramentas de inteligência artificial tornou-se "sufocante" desde o início da guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza, em outubro.
"Tentamos colocar pedaços de madeira ou tecido sobre as câmeras para proteger a nossa privacidade, mas o exército os remove", explica.
"Um dia os soldados pegaram nos nossos documentos de identidade e disseram-nos que os utilizariam para um sistema de reconhecimento facial", acrescenta. Ela ainda não sabe qual uso tiveram.
Israel considera-se um país de start-ups e orgulha-se da sua indústria cibernética e de tecnologias avançadas de vigilância e armas. A tecnologia de reconhecimento facial – altamente regulamentada para uso civil – é usada pelas forças israelenses neste território palestino que ocupam desde 1967.
- "Ansiedade e medo" -
"Blue Wolf", por exemplo, é um aplicativo usado por soldados em seus celulares. Eles tiram fotos dos rostos dos palestinos para consultá-los em seus bancos de dados.
Outro sistema, o "Red Wolf", tem sido utilizado nos postos de controle israelenses em Hebron desde pelo menos 2002, segundo uma investigação da Anistia Internacional.
"Os soldados sabem, antes de chegarem ao posto de controle, que sou 'vermelho' no sistema. Isso significa que sou 'uma ameaça'", lamenta Isa Amro, um ativista de Hebron.
Os moradores, afirma, são fotografados sem consentimento e não sabem o que Israel faz com as suas imagens e os dados que recolhe.
"O verdadeiro propósito e essência do sistema é criar ansiedade e medo", opina Adel, um defensor dos direitos humanos em Jerusalém Oriental que usa um pseudônimo por temer pela sua segurança.
As tensões têm aumentado desde 7 de outubro, quando os combatentes do Hamas cruzaram a fronteira e atacaram o sul de Israel, desencadeando uma guerra devastadora.
O Hamas iniciou o ataque destruindo os sistemas de vigilância e defesa na fronteira.
O ataque sem precedentes deixou 1.160 mortos em Israel, a maioria civis, segundo um relatório da AFP baseado em dados oficiais.
Israel respondeu com uma ofensiva militar massiva que matou até agora mais de 27.500 pessoas na Faixa de Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas.
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