A Romênia, que dizimou sua comunidade judaica, agora ensina em suas escolas de Ensino Médio sobre o "terror" do Holocausto, um período que por muito tempo foi silenciado neste país do leste europeu.

Gabriela Obodariu, professora de História em Focsani, no leste da Romênia, aplaude esta iniciativa do governo, em vigor desde setembro, frente ao "ressurgimento de movimentos antissemitas e neofascistas" na Europa. 

"Os alunos estão imersos numa avalanche de informações nos espaços públicos e é extremamente útil para eles que possam falar sobre este tema na escola", conta à AFP a professora de 56 anos.

O objetivo é "desconstruir o que aconteceu e aprender para nossas ações de agora", uma vez que "terrores assim não acabam nunca", diz ela.

"Antes eu poderia ter brincado sobre o Holocausto, mas agora nunca faria isso" , diz o adolescente David Cartas, que sai da aula com um semblante sério.

- De 800 mil a 3 mil judeus -

Aliada da Alemanha nazista até 1944, a Romênia assassinou entre 280 mil e 380 mil judeus romenos e ucranianos durante a Segunda Guerra Mundial nos territórios controlados pelo regime fascista do marechal Ion Antonescu. Embora tenha sido preso e condenado à morte por seus crimes de guerra, o militar ainda é visto como "herói" por muitos romenos.

Além disso, a decisão de trocar judeus por gado e material agrícola a partir de meados da década de 1950 reduziu drasticamente a terceira maior comunidade da Europa de 800 mil (no final da década de 1930) para os 3 mil atualmente.

Na cidade de Iasi, cerca de 200 km a norte de Focsani, um gigantesco cemitério judeu reflete a extensão do massacre.

Um museu inaugurado nesta cidade em 2021, mostra a história da tragédia. Desde que o Holocausto começou a ser ensinado nas escolas, seu número de visitantes disparou.

- "Como uma vacina" -

Para o primeiro-ministro romeno, Marcel Ciolacu, tornar obrigatório o ensino deste período é "enfrentar o lado sombrio" da história do país. 

Segundo o pesquisador Mihai Dinu Gheorghiu, é "como uma vacina", uma vez que estes cursos "estimulam a produção de anticorpos nos jovens contra o perigoso vírus do antissemitismo".

Na última década, o país registrou um aumento dos incidentes contra judeus. Foram 51 atos deste tipo em 2022, contra seis em 2012, segundo a Procuradoria-Geral da República.

De acordo com uma pesquisa realizada no final de 2023 pelo centro Elie Wiesel com cerca de 1.300 pessoas, mais da metade desaprovou a decisão de integrar esta parte da História nos programas escolares. E apenas 11% afirmaram desconhecer o papel da Romênia no Holocausto.

O partido de extrema direita AUR, que entrou no Parlamento em 2020 e que avança nas pesquisas para as próximas eleições, considerou que o ensino sobre este período é "um problema menor".

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