Confusa sobre a falta de semelhanças físicas com o pai e preocupada com um problema de saúde, uma assistente social de Connecticut nos Estados Unidos, chamada Victoria Hill, decidiu fazer um teste caseiro de DNA, a fim de entender melhor suas origens. A busca se transformou em uma descoberta inesperada envolvendo o procedimento de fertilização feito pela mãe dela, a verdadeira paternidade biológica e um caso acidental de incesto.
Victoria usou um serviço de rastreamento genético chamado 23andMe, que é muito conhecido nos EUA como uma forma de pessoas que foram adotadas ou que não saibam quem é um dos pais, consigam descobrir mais sobre o passado e também tenham a possibilidade de encontrar parentes.
Foi por meio dessa empresa, ao receber os resultados, que ela descobriu que tinha 22 meios-irmãos, número que ainda pode aumentar, e que, portanto, ela não seria filha biológica do pai.
Após o choque, Victoria acabou recebendo mensagens de outros meios-irmãos e descobriu que o pai biológico deles seria o médico que realizou o procedimento de inseminação artificial na mãe dela 39 anos antes, supostamente sem o consentimento dela. O mesmo método também teria sido feito com as mães dos outros meios-irmãos.
A questão que já era dramática se tornou ainda pior quando Victoria descobriu que um de seus meios-irmãos era o namorado dela na época da escola e que ela poderia ter potencialmente se casado com ele. “Fiquei traumatizada com isso”, revelou em entrevista à CNN. O relacionamento romântico dos dois não teria sido o único no recém-descoberto grupo de irmãos.
Esse caso não é o primeiro nos Estados Unidos relacionado à fraude de fertilidade, mas pode ser considerado o mais extremo deles, tendo em vista o relacionamento de Victoria com o ex, e levanta a questão do risco de incesto acidental quando há um grande número de irmãos, especialmente quando ocorrem em cidades menores.
Falta regulamentação
O caso deu mais ênfase a uma questão que faz parte dos debates políticos dos EUA. De acordo com a CNN, mais de 30 médicos do país são investigados por usar, secretamente, o próprio esperma para inseminar pacientes.
Um dos casos mais famosos foi o do médico Donald Cline, que é o pai biológico de ao menos 90 pessoas e que movimentou a criação de uma legislação que proibisse a fraude na fertilidade no estado de Indiana, a primeira legislação dos EUA, em 2019.
Contudo, a lei não era retroativa e, por isso, Cline não foi processado pelo caso. Ele chegou a ser condenado por obstrução da justiça, em 2018, quando renunciou a licença médica.
O caso de Cline virou inclusive um documentário da Netflix, intitulado Pai Nosso?, que motivou as deputadas Stephanie Bice, uma republicana de Oklahoma, e Mikie Sherrill, uma democrata de Nova Jersey, a escreverem em conjunto o primeiro projeto de lei federal que proíbe a fraude de fertilidade.
Em caso de aprovação, a Lei de Proteção das Famílias contra a Fraude na Fertilidade determinaria esse tipo de ação como crime federal de agressão sexual por atrapalhar, conscientemente, a natureza ou fonte do DNA utilizado em procedimentos de fertilidade.
Entretanto, a aprovação não significaria que os médicos que já foram acusados iriam ser presos, porque o crime não pode prescindir a lei.