O ex-presidente Jair Bolsonaro se manteve em silêncio nesta quinta-feira (22) ao se apresentar à Polícia Federal, que investiga seu suposto envolvimento em uma tentativa de "golpe de Estado".
Bolsonaro (PL) é suspeito de ter participado de uma conspiração que buscava desacreditar o processo eleitoral e impedir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumisse o poder em janeiro do ano passado. O ex-mandatário diz ser inocente e assegura ser vítima de uma "perseguição implacável".
A audiência, com duração de 30 minutos, na sede da Polícia Federal, em Brasília, ocorreu a apenas três dias de um protesto convocado pelo ex-presidente (2019-2022) em São Paulo para repudiar as acusações.
Bolsonaro não deu declarações, informou sua defesa, que lamentou não ter tido acesso a centenas de comunicações eletrônicas cujo conteúdo fundamentaria o processo contra ele.
"O único motivo pelo qual Bolsonaro fez uso do silêncio foi dado ao fato de ele responder hoje a uma investigação semissecreta", disse seu advogado, Paulo Cunha, em declarações do lado de fora da sede da Polícia Federal.
Cunha acrescentou que seu cliente "nunca foi simpático a qualquer tipo de movimento golpista". "O ex-presidente não teme nada porque não fez nada", afirmou.
“Até que se tenha o legítimo e amplo acesso à investigação, o presidente Bolsonaro não prestará qualquer declaração", disseram em nota seus advogados.
A investigação levou a PF a lançar, em 8 de fevereiro, a operação Tempus Veritatis, com dezenas de buscas, apreensões de passaportes e prisões no entorno de Bolsonaro, que foi proibido de sair do país.
O líder da extrema direita compareceu à PF juntamente com outros supostos aliados, incluindo diversos ex-ministros, em diferentes cidades do país, segundo a imprensa local.
Esta é a sexta vez que o ex-presidente comparece à PF para depor desde que deixou o cargo. No ano passado, ele teve que comparecer pela suposta falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19, assim como pela entrada irregular no Brasil de joias presenteadas pela Arábia Saudita. Também teve que depor por suspeita de ter instigado os atos de 8 de janeiro de 2023, que culminaram no ataque às sedes dos Três Poderes.
- Um decreto, um vídeo -
Naquele dia, uma semana depois de Lula ter iniciado seu terceiro mandato, milhares de bolsonaristas, inconformados com a vitória da esquerda nas eleições de outubro de 2022, invadiram o palácio do Planalto, a sede do Congresso e a do Supremo Tribunal Federal.
Bolsonaro, que havia viajado para os Estados Unidos dias antes da cerimônia de posse, nega qualquer incitação ao motim. No entanto, segundo a polícia, cerca de dois meses antes Bolsonaro recebeu e modificou um decreto em que previa prender o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, e convocar novas eleições.
No inquérito do suposto plano de golpe de Estado também contém um vídeo de uma reunião realizada em 5 de julho de 2022, três meses antes das eleições das quais Lula saiu vitorioso.
A gravação, divulgada pelo STF, mostra Bolsonaro incentivando vários de seus ministros a empreenderem uma campanha contra as urnas eletrônicas. "Nós sabemos que se a gente reagir depois das eleições, vai ter o caos no Brasil, vai virar uma grande guerrilha", disse aos seus ministros no vídeo.
- Relação tensa -
Os depoimentos sobre a suposta trama golpista foram determinados por Moraes, à frente de várias investigações contra o ex-presidente e seu entorno.
Moraes, também ministro do STF, é alvo constante de críticas de Bolsonaro.
A defesa solicitou o afastamento do magistrado do caso alegando que lhe falta "a imparcialidade objetiva e subjetiva para decidir nesses autos". Os advogados do ex-presidente também pediram o adiamento de seu depoimento à polícia. O STF negou os dois pedidos.
- 'Evento pacífico' em São Paulo -
Apesar das diversas investigações de que é alvo desde que deixou a presidência, o ex-capitão do Exército, 68, continua liderando a oposição.
Embora, em junho, tenha sido considerado inelegível até 2030 por ter disseminado desinformação sobre o sistema eleitoral brasileiro, na quarta-feira ele disse estar "convencido" de que poderá reverter essa "injustiça".
Sobre a manifestação de domingo em São Paulo, prometeu que será um "evento pacífico" para mostrar "para o Brasil e para o mundo uma fotografia de verde e amarelo" e se defender das acusações contra ele.
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