Não havia um, mas dois navios; a carga era diesel e não madeira; um quilo de cocaína apareceu a poucos metros do incidente; não há sinal da tripulação: o naufrágio e posterior vazamento em Trinidad e Tobago está repleto de incógnitas.

A seguir, um balanço do incidente que, segundo o governo e especialistas, é resultado de uma operação clandestina.

- Primeira versão -

O naufrágio foi reportado em 7 de fevereiro. Uma embarcação de 92 metros de comprimento havia virado sem notícias da tripulação a cerca de 100 metros da costa de Tobago, ilha que junto com Trinidad compõe este país.

A Agência de Gestão de Emergências de Tobago (TEMA) identificou o navio, sem registro certo, como "Gulfstream", e sua carga seria de areia e madeira.

Também reportou um vazamento de combustível em pleno carnaval, afetando 15 km da costa desta ilha que depende principalmente do turismo.

O governo ativou um plano de limpeza com cerca de 1.000 voluntários.

Essa foi a primeira versão. O chefe de governo, Keith Rowley, sugeriu então que poderia ser uma situação "ilícita".

- Segundo navio -

Uma semana depois, o governo afirmou que duas embarcações estavam envolvidas no incidente, que o Gulfstream estava sendo rebocado por um navio do Panamá, o "Solo Creed", com destino à Guiana. 

O Ministério da Segurança Nacional disse que "imagens de satélite mostram o Solo Creed rebocando um objeto em 4 de fevereiro de 2024". Mas não há sinal do rebocador, enquanto o Gulfstream está de cabeça para baixo e apenas a quilha para cima. 

Nyree Alfonso, advogada de Trinidad especializada em direito marítimo, explicou à AFP que "a operação como um todo sugere algo clandestino" e que em uma primeira investigação indica que o Solo Creed foi registrado na Tanzânia. 

O ministro da Energia, Stuart Young, disse ao Parlamento em 16 de fevereiro que mais de 350 navios tinham o nome Gulfstream, dificultando a identificação. 

"É comum que o cabo de reboque seja cortado quando o navio começa a afundar ou apresenta algum problema, para que o navio naufragado não arraste o rebocador", explica Alfonso.

- Tripulação fantasma -

Young argumentou no Parlamento que o naufrágio "provavelmente ocorreu em águas internacionais". 

"Absolutamente nenhum vestígio foi encontrado perto de onde o navio foi parar", acrescentou. 

Entre os muitos mistérios deste naufrágio, destaca-se a tripulação. As autoridades não encontraram nenhum corpo até agora. 

"O principal indício de que tenha sido uma operação clandestina é que não houve 'Mayday' (sinal de socorro)", destacou Alfonso. 

O Ministério da Segurança informou que a Guarda Costeira conseguiu detectar o rebocador no radar por um tempo, sem mais detalhes. 

Podem ter fugido no Solo Creed? 

"Não acredito que algum marinheiro tenha morrido. Com base em minhas fontes, o rebocador deve ter desativado deliberadamente o AIS" - o sistema de identificação automática - para fugir, disse Alfonso.

- A carga -

Descartada a hipótese da carga de areia e madeira, as autoridades mencionaram petróleo, após um vazamento detectado na costa de Tobago. 

Segundo o site TankerTrakers.com, que monitora o transporte de petróleo por mar, o Gulfstream carregava 35 mil barris de óleo combustível. 

O secretário-chefe da Assembleia de Tobago (THA), Farley Augustine, disse que se tratava de um produto "pesado e não refinado", embora o Instituto de Assuntos Marítimos de Trinidad tenha inicialmente identificado a substância como diesel. 

Análises mais aprofundadas serão realizadas. 

Uma nova descoberta veio à tona no domingo: um quilo de cocaína emergiu à superfície perto da área do desastre. 

O ministro da Segurança, Fitzgerald Hinds, disse que "embora o assunto continue sob investigação, aparentemente este pacote encontrado não está necessariamente relacionado ao navio". 

Outro mistério para resolver.

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