O governo dos Estados Unidos está mais concentrado no "desenvolvimento democrático" do que no "espectro político" para estabelecer alianças, afirmou o principal conselheiro do presidente Joe Biden para a América Latina e o Caribe.
Em um mundo muito complicado, Washington precisa "encontrar uma área comum com qualquer governo eleito democraticamente", disse Juan González na segunda-feira (26) durante um evento no 'think tank' americano Atlantic Council.
"Da perspectiva do presidente, trata-se menos de onde está um governo ou um país no espectro político e mais de como é eleito e governa", resumiu.
Ele citou a Argentina como exemplo.
"Trabalhamos com o governo de (o presidente peronista Alberto) Fernández e e assim que (o ultraliberal Javier) Milei foi eleito, nos apressamos porque queríamos demonstrar que desejávamo que tivessem sucesso no momento de transformar sua economia, e que este compromisso continua", declarou.
Em geral, uma visão de longo prazo para a prosperidade econômica da América Latina e do Caribe é necessária, mas o tempo é curto, advertiu o conselheiro, e a região deve acelerar.
- "Não muito tempo" -
"Há tempo, mas não muito tempo", avaliou, especialmente quando se compara com as mudanças demográficas e "a velocidade com que a tecnologia está sendo adotada em outras partes do mundo".
Na América Latina há sociedades que "deveriam estar em uma posição competitiva em relação aos aliados do Indo-Pacífico, mas muito disso se deve aos desafios do desenvolvimento democrático", considerou.
A região deve abordar vários elementos, afirmou Jason Marczak, diretor do Centro Adrienne Arsht para a América Latina, do Atlantic Council.
"A economia, o investimento e o comércio, a segurança energética, a migração e a segurança, assim como a democracia, as instituições e a governança", citou Marczak, ao apresentar os pilares de uma estratégia que tem como título "Redefinindo a associação dos Estados Unidos com a América Latina e o Caribe para uma nova era".
A diplomacia climática também é uma ferramenta útil, acrescentou Mark A. Wells, funcionário de alto escalão do Departamento de Estado.
Mas a associação enfrenta uma série de desafios, como a influência da China, sócio comercial inevitável na região.
Washington é "muito competitivo em investimento estrangeiro direto", mas é muito menos em aspectos como os processos de vendas militares, reconheceu González. O governo americano exige pagamentos antecipados em dinheiro, enquanto Pequim oferece preços menores e todos os tipos de facilidades de financiamento.
Além disso, acrescenta, "não houve um esforço robusto para atrair o nosso investimento".
A ministra das Relações Exteriores da Argentina, Diana Mondino, afirmou que em vez de tentar contra-atacar a influência chinesa ou russa, os Estados Unidos devem "fazer o correto", o que atrairá outros países.
"O melhor que podemos fazer é negociar entre nós, manter o Estado de direito e nos transformamos em sócios confiáveis", declarou por videoconferência.
Na cooperação entre países, as instituições multilaterais desempenham um papel crucial.
"Temos que elevar o nível de ambição ou o que o hemisfério pode fazer de forma conectada", disse Luis Alberto Moreno, ex-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
O déficit de infraestruturas é o grande problema. "Antes de encararmos a questão, será muito difícil nos tornarmos a plataforma que precisamos para atrair mais investimentos", acrescentou Moreno.
"A América Latina perdeu o trem da Revolução Industrial, não podemos deixar passar o trem da revolução tecnológica", disse.
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