A ativista de direitos humanos Rocío San Miguel, de 57 anos, foi detida por autoridades venezuelanas, confirmou o governo local.
Conhecida por ser uma crítica ferranha do governo Nicolás Maduro, Rocío foi detida na sexta-feira (9/2) e levada a um local não revelado.
Além disso, a Anistia Internacional informou nesta segunda-feira (12/2) que cinco familiares dela também foram detidos. Não foram revelados detalhes sobre as detenções deles, se foram levados juntos com ela ou posteriormente.
"A Anistia Internacional confirma a detenção arbitrária da defensora dos direitos humanos Rocío San Miguel e de seus familiares", divulgou o perfil da Anistia no X (antigo Twitter).
A entidade pediu "a liberdade imediata e incondicional" da ativista e seus familiares.
Também foram detidos, conforme a Anistia, a filha de Rocío, Miranda Díaz San Miguel, os irmãos dela, Miguel Ángel San Miguel Sosa e Alberto San Miguel Quigosos, o pai dela, Víctor Díaz Paruta, e o ex-marido da ativista, Alejandro González Canales.
"Exigimos respeito pela integridade física e psicológica de Rocío San Miguel e sua família, seu acesso a advogados, respeito pelo seu direito à defesa e proteção contra maus tratos e tortura", divulgou a Anistia.
No domingo (11/2), o procurador-geral venezuelano Tarek William Saab, que é aliado de Maduro, confirmou a prisão da ativista e a acusou de participar de uma suposta conspiração para atentar contra a vida do presidente venezuelano.
Leia também: Com 9 vetos, Zema começa 2024 com o ‘pé esquerdo’
No X (antigo Twitter), Saab escreveu que um mandado de prisão foi expedido contra Rocío por ela estar supostamente envolvida em "uma conspiração e tentativa de magnicídio conhecida como 'Pulseira Branca'".
Ele disse que o objetivo dessa "conspiração" era matar Maduro e outros altos funcionários do governo, além e atacar várias unidades militares na cidade de San Cristóbal.
O governo não deu muitos detalhes sobre essa suposta conspiração.
O advogado Juan González Taguaruco, que defende Rocío, disse à agência AFP que a procuradoria "não nos diz que órgão policial a prendeu, sob ordem de que tribunal ela está nem que promotor conduz a investigação".
"Também não sabemos o local de detenção. Visitamos alguns centros de reclusão e em nenhum nos dão uma resposta positiva. Podemos definir que esta situação corresponde a um caso de desaparecimento forçado", afirmou o advogado.
Em nota, a ONG venezuelana Provea (Programa Venezuelano de Educação Ação em Direitos Humanos) informou que Rocío é beneficiária de medidas de proteção que foram aprovadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos em janeiro de 2012, devido aos constantes ataques que sofre por realizar seu trabalho como defensora dos direitos humanos na Venezuela.
A Provea mencionou que não se sabe o estado de saúde da ativista desde que ela foi detida.
"O desaparecimento forçado constitui uma violação múltipla dos Direitos Humanos, que coloca as vítimas numa situação de indefesa e sujeita as suas famílias a longos períodos de incerteza, o que por si só significa uma situação de tratamento cruel, desumano e degradante", diz trecho de um comunicado da ONG.
Ainda no texto, a Provea diz que durante o governo de Maduro nos últimos anos aumentaram os casos de pessoas "detidas arbitrariamente e posteriormente submetidas a longos períodos de incomunicação em que familiares, advogados e organizações de direitos humanos desconhecem o paradeiro, ou condições de confinamento e respeito pela vida e integridade das pessoas detidas."
Os defensores de direitos humanos na Venezuela
Rocío é especialista em questões de defesa e lidera a ONG Controle Cidadão, que defende a supervisão civil das forças armadas da Venezuela.
Os ativistas de direitos humanos locais começaram a relatar o desaparecimento dela na última sexta-feira, quando Rocío foi detida por agentes de inteligência no aeroporto internacional Simón Bolívar, perto da capital, Caracas.
A defesa dela disse que não foi informada sobre o local em que a ativista está detida ou que acusação pesa contra ela para que fosse presa.
A prisão de Rocío ocorre poucas semanas depois de 36 críticos do governo terem sido detidos.
Eles também foram acusados ??de ter ligações com supostas conspirações para matar o presidente Maduro.
A onda de detenções ocorre no momento em que o governo se prepara para anunciar a data das eleições presidenciais, que deverão ocorrer ainda neste ano.
O governo concordou, em conversações realizadas em Barbados com representantes da oposição, em criar condições para que as eleições sejam realizadas de forma livre e justa.
Mas grupos de defesa dos direitos humanos dizem que, em vez de progressos, houve retrocessos desde o acordo.
Um dos principais problemas é uma proibição que impede que a principal candidata da oposição, María Corina Machado, possa concorrer ao cargo, decisão que foi mantida pelo Supremo Tribunal.
Membros do seu partido Vente Venezuela estão entre aqueles que foram acusados ??de fazer parte da suposta conspiração contra Maduro.
Machado denunciou as detenções como parte de uma campanha destinada a intimidá-la e suprimir qualquer oposição a Maduro, que está no poder desde 2013.
*Com informações de Vanessa Buschschlüter, da BBC News