A ONU teme a fome em Gaza e o Hamas condiciona o destino dos reféns à entrada de ajuda humanitária no território, mas isso não impede que alguns israelenses bloqueiem caminhões na fronteira para pressionar o "inimigo". 

Quase 100 manifestantes reuniram-se no domingo diante da passagem de Nitzana, na fronteira entre o Sinai egípcio e o Neguev israelense, separados por uma grande cerca de arame. 

Nem os blocos de cimento nem a presença de soldados nesta zona militar israelense os impediram de entrar no terminal, onde parte da ajuda humanitária deve passar por um controle rigoroso das autoridades antes de seguir para Rafah, na Faixa de Gaza. 

 



Devido à manifestação, os transportadores que esperavam do outro lado da fronteira, no Egito, não conseguiram atravessar a porta de entrada para Israel.

David Rudman, de 35 anos, veio no domingo de Jerusalém, a três horas de carro, para impedir a entrada de alimentos, combustível e medicamentos em Gaza, onde a ONU teme a fome entre os 2,4 milhões de habitantes do território palestino sitiado e atacado por mais de quatro meses por Israel. 

"Eles podem estar pensando que é inaceitável não deixar entrar comida e água. Mas considerando a situação em que nos encontramos, é aceitável", diz ele, referindo-se aos reféns detidos em Gaza.

Desespero

No fim de semana, o movimento islamista Hamas ameaçou suspender as negociações para uma trégua em Gaza, que permita a libertação dos reféns sequestrados durante o ataque de 7 de outubro a Israel, caso não entre mais ajuda no território palestino. 

Uma primeira trégua no final de novembro permitiu a libertação de mais de 100 reféns dos quase 250 sequestrados naquele dia. Segundo Israel, 130 ainda estão detidos e acredita-se que 30 deles estejam mortos. 

"Um dos meus bons amigos é refém (...). Esperamos que ele ainda esteja vivo em Gaza. Não faz sentido. Por um lado, damos-lhes água, medicamentos e comida, mas, por outro, não temos sequer uma lista" dos reféns e do seu estado, afirma David, sem revelar a identidade do amigo para protegê-lo.

Os familiares dos reféns, que todas as semanas se manifestam para que o governo israelense aceite um acordo para a sua libertação, afirmaram neste fim de semana que queriam bloquear o terminal de Nizzana e o terminal de Kerem Shalom, mais ao norte, onde a ajuda também é inspecionada antes de entrar em Gaza. 

No entanto, apenas um membro das famílias esteve em Nitzana no domingo e recusou-se a falar por medo de represálias contra os reféns.

Em 7 de outubro, combatentes do Hamas mataram cerca de 1.160 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP baseada em dados oficiais israelenses. Israel respondeu com uma poderosa ofensiva em Gaza que deixou mais de 29 mil mortos, segundo o Hamas, que governa o território palestino. 

De acordo com uma pesquisa do Canal 12 israelense publicada no final de janeiro, 72% dos israelenses acredita que a ajuda humanitária não deve entrar em Gaza até que os reféns sejam libertados. 

A ONU afirma que as manifestações dos últimos meses em Nitzana e Kerem Shalom impediram durante várias horas a entrada de caminhões em Gaza, reduzindo os escassos recursos no território devastado.

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